Por Guilherme Guarche, Centro de Memória
Coincidência ou o destino, outro importante jogador de futebol que é até hoje um dos grandes ídolos santistas, Juary Jorge dos Santos Filho, nasceu também em São João de Meriti, no dia 16 de junho de 1959, uma terça-feira, assim como seu conterrâneo João Paulo, o Papinha da Vila.
Juary quando garoto costumava jogar bola com outros garotos de sua idade nas ruas de sua cidade, na violenta Baixada Fluminense e foi um de seus colegas do bairro, Baba, que jogava no juvenil santista que o indicou para testes no time da Vila Belmiro.
Ele veio para Santos, fez os testes e foi aprovado para treinar nas equipes de base com 14 anos de idade e passou a morar nos alojamentos do Estádio Urbano Caldeira. Com 17 anos assinou seu primeiro contrato com o Alvinegro Praiano.
A primeira apresentação com a camisa praiana se deu no dia 27 de maio de 1976, em partida amistosa em Volta Redonda/RJ, na derrota diante do time local pelo placar de 3 a 0. A equipe dirigida por Alfredo Sampaio, o Alfredinho, formou nesse dia da estreia de Juary que entrou no lugar de Léo Oliveira.
Um gol em cima do zagueirão Luiz Chevrolet
O clube de Vila Belmiro, tinha em sua presidência Modesto Roma, atravessava nesse ano de 1976 uma de suas crises financeiras, entrou em campo com: Ricardo, Tuca, Vicente, Fausto e Fernando; Carlos Roberto e Léo Oliveira (Juary); Admundo, César, Didi e Edu.
No Campeonato Paulista de 1977 ele foi aproveitado em algumas partidas e seu ótimo desempenho deu a ele a chance de disputar a Taça Governador do Estado e o time santista, após eliminar o Corinthians na semifinal da competição, fez a final contra o Atlético de Madri.
O badalado zagueiro do time espanhol era Luís Pereira, o Luís Chevrolet, que fora o titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo em 1974, na Alemanha, e é até hoje considerado um dos grandes zagueiros da história do futebol brasileiro.
E foi perante uma imensa quantidade de torcedores santistas, presentes no Morumbi, que viram o zagueiro Luís Pereira perder a bola para o jovem Juary que marcou o gol santista.
O Santos acabou perdendo a disputa nas penalidades máximas, na partida que terminou empatada em 1 a 1, mas no dia seguinte os jornais destacavam a atuação e o gol de Juary que não se intimidou diante do famoso e excelente zagueiro Luís Pereira.
Seu futebol rápido e o oportunismo foram dando a ele a condição de titular na equipe santista e um momento para ele inesquecível foi quando participou da última partida do Rei Pelé em Nova York, no dia 1º de outubro de 1977. Juary formou ao lado do Rei na etapa complementar na derrota santista pelo placar de 2 a 1, diante do New York Cosmos. Pelé jogou meio tempo em cada equipe.
Mas foi graças ao técnico Francisco Ferreira de Aguiar, o saudoso Chico Formiga que ele teve a oportunidade de se fixar no elenco santista jogando naquele grupo de garotos, conhecido como “Meninos da Vila”, que Juary ganhou em definitivo a admiração da torcida santista.
Ele foi um dos principais nomes do time Alvinegro na campanha vitoriosa que deu ao Santos o título de Campeão Paulista de 1978. O lépido camisa nove foi também o artilheiro do Peixe no certame regional com 29 gols.
Uma das equipes que mais sofreu com o centroavante Juary foi a equipe do São Paulo e seu goleiro Valdir Perez. O veloz atacante não era muito alto: tinha 1,66 e pesava 66 quilos. No entanto, sua velocidade era um tormento para as defesas adversárias e sua maneira de comemorar os gols marcados era a de correr em torno das bandeirinhas de escanteios.
A saída da Vila Belmiro rumo ao México
Uma proposta tentadora feita pelo empresário Nicola Gravina em dezembro de 1979 fez com que a diretoria santista presidida por Rubens Quintas acertasse a venda do seu passe com a equipe do Universidad Guadalajara do México pela quantia de 13 milhões de cruzeiros.
Juary deixou o clube santista pelo qual jogou no período de 1976 a 1979, e depois em 1989, exatas 229 partidas marcando 101 gols é o 23º artilheiro no ranking santista na artilharia.
Mas ficou apenas três anos no futebol mexicano sendo negociado com o Unione Sportiva Avellino, na temporada seguinte, depois jogou na Inter de Milão, e defendeu ainda as equipes italianas do Áscoli e Cremonense. Mas foi na equipe do Futebol Clube do Porto, tradicional time português, que ele reencontrou a alegria de jogar futebol novamente e saindo do banco na partida decisiva contra o poderoso time do Bayern de Munique, Juary marcou o gol da vitória que deu o título da Liga dos Campeões da UEFA na temporada de 1986/87.
Outro título importante de Juary pela equipe Alviceleste foi o Mundial de Clubes naquele ano, contra o Peñarol do Uruguai, o time venceu por 2 a 1 e o menino de São João de Meriti tornou-se até hoje um dos maiores ídolos do time português.
Em abril de 1988 decidiu retornar ao futebol brasileiro e assinou com a Portuguesa de Desportos, aos 28 anos, mas sua passagem pela Lusa do Canindé não foi das melhores e no ano seguinte Juary retornou ao Santos encerrando a carreira, em 1990, após uma participação sem expressão pelo Moto Clube do Maranhão.
Em 2015 durante a gestão do presidente Modesto Roma Júnior, Juary chegou a trabalhar nas categorias de base do clube santista ao lado de seu conterrâneo fluminense, João Paulo.