Juary, o tormento das defesas adversárias

Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória 

São João do Meriti, na Baixada Fluminense, distante 27 km do centro da cidade do Rio Janeiro, é a terra natal de Juary Jorge dos Santos Filho, que lá nasceu no dia 16 de junho de 1959, uma terça-feira. Ele foi um dos mais rápidos centroavantes que envergaram a camisa nove do Alvinegro Praiano. 

Juary começou jogando na equipe da Pavunense, agremiação esportiva do bairro carioca da Pavuna. Apesar da baixa estatura, 1,66 m, o jovem franzino marcava presença pela habilidade e por ser um atacante insinuante não fugia dos pontapés dos zagueiros adversários. 

Foi seu amigo Nélson Luiz Faria Pimenta de Mello, o ponta-direita Babá, que jogou com ele na Pavunense, foi quem o convidou para o juvenil do Santos. Juary chegou à Vila Belmiro em 1976, aos 16 anos, e passou a morar na concentração do clube, no estádio Urbano Caldeira. 

“Meu pai me trouxe e me deixou em frente à Vila Belmiro. Disse que ia comprar cigarros e fiquei esperando. Depois de muito tempo alguém passou, perguntou o que eu estava fazendo ali e disse que meu pai não voltaria mais e eu moraria no alojamento do Santos. Acho que ele não quis se despedir” – contou Juary, anos depois”. 

A estreia no time, que era comandado por Alfredo Sampaio, o Alfredinho, ocorreu em um amistoso que o Santos perdeu por 3 a 0 para o Volta Redonda, em 27 de maio de 1976, uma noite de quinta-feira, no campo do adversário. Ele entrou no lugar de Léo Oliveira, em um time que jogou com Ricardo, Tuca, Vicente, Fausto e Fernando; Carlos Roberto e Léo Oliveira (Juary); Admundo, César, Didi e Edu. 

Nas primeiras partidas ele jogava como ponta-direita. Com a chegada do técnico Oto Glória, em 1977, passou a ser aproveitado como centroavante, ganhando a condição de titular no ataque do Peixe. 

O veloz atacante se tornaria um dos destaques da jovem equipe santista que em junho de 1979 venceria o Campeonato Paulista pela décima quarta vez. O time, comandado pelo técnico Chico Formiga, ficou conhecido como “Meninos da Vila” e Juary foi o artilheiro da competição, referente ao ano de 1978, com 29 gols. 

O ataque que até hoje é reverenciado pela torcida alvinegra era composto por Nilton Batata, Juary e João Paulo, além de contar, no meio de campo, com Clodoaldo, Ailton Lira e Pita. Pelos gols marcados e pela boa fase, Juary foi convocado para defender a camisa amarelinha do Brasil em 1979. Jogou três partidas e marcou um gol, contra a Seleção da Bahia. 

México e Europa 

No ano seguinte a diretoria santista aceitou uma proposta de 13 milhões de cruzeiros e o jovem artilheiro foi defender o time da Universidad de Guadalajara por dois anos. Depois, seguiu para a Itália, atuando em quatro equipes daquele país: Avellino (1982 e 83), Internazionale de Milão (1983 e 84), Ascoli (1984 e 85) e Cremonese (1985 e 86). 

Seu período na Europa se encerrou de forma vitoriosa no Porto, em Portugal, em que jogou de 1986 a 1988. Virou ídolo dos portistas pelas participações decisivas nos títulos da Liga dos Campeões e do Mundial de Clubes em 1987. 

O Retorno ao Brasil  

Voltou ao Brasil para a Portuguesa de Desportos. Em 1989 aceitou um convite do Santos e nove anos depois de sua saída retornava ao clube em que iniciou a carreira. No entanto, não repetiu mais o bom futebol oportunista e veloz que tanto marcaram suas apresentações na década dos anos 70. 

Sua última partida pelo Peixe foi em um domingo, 11 de novembro de 1990, na derrota diante do São Paulo por 3 a 0, no Morumbi, pelo Campeonato Brasileiro. Nesse jogo o time foi escalado por Pepe com Sérgio Guedes, Ditinho, Luizinho, Luiz Carlos e Wladimir; César Sampaio, César Ferreira (Totonho) e Jorginho; Paulinho McLaren (Juary), Chulapa e Tuico. Nesse mesmo ano jogou pela equipe maranhense do Moto Club e pendurou as chuteiras. 

No Santos, Juary jogou 229 partidas e marcou 101 gols. É o vigésimo terceiro artilheiro da história santista e o quinto artilheiro na era pós Pelé, atrás apenas de Neymar (138), Robinho (111), Serginho Chulapa (104) e João Paulo (103). São Paulo e Guarani de Campinas foram os times que mais sofreram seus gols: oito ao todo. 

Na despedida do Rei Pelé em Nova York ele esteve presente 

No dia primeiro de outubro de 1977, sábado à tarde, no Giant Stadium, em Nova York, na despedida dos gramados americanos do eterno Rei Pelé, o garoto Juary entrou no lugar do centroavante Reinaldo, autor do tento santista na derrota por 2 a 1. Nesse dia Pelé jogou meio tempo para cada time, Santos e NY Cosmos, marcando um gol de falta para o time norte-americano. 

Ao abandonar a carreira, Juary trabalhou no treinamento das categorias de base do Santos junto com seu amigo João Paulo e, hoje reside na cidade de Pinhalzinho no interior de São Paulo à espera de um convite de alguma equipe para poder trabalhar novamente com o futebol, pois dessa matéria ele entende e muito. 

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