Por Guilherme Guarche, Centro de Memória
Foi em um sábado, dia 15 de junho de 1957, que veio ao mundo em São João de Meriti (RJ), conhecida como “Formigueiro das Américas”, João Paulo de Lima Filho, conhecido no mundo da bola como o “Papinha da Vila” (apelido que ganhou em referência ao Papa João Paulo II).
Seus pais, João Paulo, motorista de ônibus e dona Gabriela Guerreiro de Lima tinham muito orgulho do garoto Joãozinho que em sua infância vivia na sua cidade natal, ajudava a família nas despesas de casa trabalhando de madrugada no cais do porto e aproveitava as horas vagas para bater uma bolinha na rua com outros garotos do bairro.
No começo da década de 1970, foi tentar jogar no Pavunense FC e sua habilidade despertou o interesse em representantes do São Cristóvão de Futebol e Regatas clube pelo qual atuou na equipe juvenil em 1972.
No ano de 1976 assinou seu primeiro contrato com a equipe da Rua Figueira de Melo e, disputou o campeonato carioca com sucesso chamando a atenção de representantes do América Mineiro que ofereceram 450 mil cruzeiros pelo seu passe, entretanto a diretoria presidida por Modesto Roma se adiantou e contrataram o jovem atleta por 500 mil cruzeiros.
O ágil e lépido ponta-esquerda, muito talentoso que aplicava fintas desconcertantes, vestiu pela primeira vez a camisa santista no dia 5 de junho de 1977, no empate em santista em 1 a 1 diante do Botafogo na cidade de Ribeirão Preto, em partida válida pelo Campeonato Paulista.
O time Alvinegro formou com Willians, Zé Maria, Marçal, Alfredo Mostarda e Fernando; Zé Mario e Aílton Lira; Nílton Batata, Juary (Bianchi), Jorginho Maravilha (Calú) e João Paulo. O técnico era Oto Glória e o gol praiano foi anotado por Juary.
João Paulo era um ponta insinuante e inteligente que cabeceava com eficiência e fazia cruzamentos calculados e com chutes fortes. Tinha 1,69 de altura e uma velocidade impressionante, pois corria 25 metros em três segundos para desespero de seus marcadores.
A melhor fase vivida no Peixe pelo hábil ponta-esquerda foi quando jogou no Campeonato Paulista de 1978 que terminou em 1979 e que deu ao Santos o seu 14º título paulista. João integrou o ataque formado por: Nílton Batata, Aílton Lira, Juary, Pita e João Paulo o time era comandado por Francisco Ferreira de Aguiar, o Chico Formiga.
O craque vestiu a camisa onze do Peixe nos anos de 1977 a 1983, retornando depois no ano de 1992 jogando a última partida no dia 9 de maio de 1992, na derrota santista diante do Cruzeiro por 2 a 1 na Vila Belmiro, em partida do Campeonato Brasileiro.
Nessa partida o tento santista foi de Guga tendo o Peixe formado com: Sérgio, Dinho, Marcelo Fernandes, Luiz Carlos e Marcelo Veiga (Índio); Bernardo, Axel e João Paulo (Guga); Almir, Paulinho McLaren e Cilinho. O técnico era Geninho.
João Paulo jogou pelo Peixe 412 partidas e é o 4º maior artilheiro na era pós-Pelé com 103 gols ficando atrás de Serginho Chulapa com 104 gols, e pela Seleção Brasileira enquanto esteve no Santos jogou cinco partidas e não marcou nenhum gol.
O “Papinha da Vila” conquistou pelo Alvinegro Praiano os seguintes títulos: Campeão do Torneio Vencedores da América no Uruguai e o Torneio Cidade de Pamplona ambos no ano de 1983 além do campeonato paulista de 1978, quando então foi um dos destaques da geração que ficou conhecida como “Meninos da Vila”.
Quando deixou a Vila Belmiro se transferiu para o Corinthians em 1984, permanecendo até o ano de 1989, e depois para o Palmeiras onde teve uma curta passagem. João Paulo jogou ainda no Yamaha, do Japão, no São José, no Grêmio Maringá, até voltar ao Santos em 1992 e depois encerrar sua carreira no Náutico.
João trabalhou por alguns anos nas divisões de base do Alvinegro Praiano e assim como fizeram vários ex-jogadores santistas, João Paulo adotou a cidade de Santos para viver ao lado da esposa Maria Elizabeth, das filhas Thais, Tatiane e Talita dos netos Matheus, Diogo e Daniel e dos genros Jeferson e Marcelo Guedes que seguiu a profissão do sogro e joga profissionalmente na distante Austrália.
Sobre o Rei Pelé, João Paulo comentou que: “Eu tive o prazer de ter participado de alguns treinamentos com o Rei, no início dos anos 80, em 1977, quando eu cheguei aqui na Vila Belmiro. O Pelé é uma figura que muitas pessoas talvez não conheçam e, para falar dele, temos que pensar duas vezes. Ele era uma pessoa humilde, muito bondosa. Pelé representava um aprendizado. E volto a falar, até pelo falecimento do Pelé, que ele venha a contribuir com uma mudança no futebol. Porque eu estou vendo crianças de quatro, cinco, seis anos que estão vindo aqui na Vila e presenciando isso. Eles assistem vídeos do Pelé e isso é um aprendizado. Todo menino quer ser jogador de futebol, e acho que isso (morte do Pelé) vai contribuir para o futebol brasileiro”.