Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Colaboração de Guilherme Guarche
O Santos ganhou mais de dois títulos oficiais por ano de 1958 a 1969, manteve Pelé e a base da Seleção Brasileira, foi o primeiro bicampeão mundial, jogou em todos os continentes, parou guerra e acabou escolhido em uma enquete mundial da revista El Gráfico como o melhor time de futebol de todos os tempos. Era normal que construísse uma enorme torcida.
Mas a imprensa esportiva, já naquela época repleta de jornalistas que preferiam falar de seus times do coração, ainda tratava o Santos como um under dog. Assim, a nova realidade do futebol brasileiro só ficou escancarada em 1968 e 1969, quando pesquisas nacionais do Ibope constataram que o Santos tinha a maior e mais abrangente torcida do Brasil. Só que isso não se refletia na ocupação dos estádios.
A mobilização de seus torcedores – segredo para qualquer case de sucesso de público nos estádios – começou em 1968, quando a direção do Santos fretou alguns ônibus para levar um bando de garotos paulistanos para torcer pelo Alvinegro em um jogo no Maracanã, contra o Botafogo, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa/ Campeonato Brasileiro.
Era um domingo, primeiro de dezembro de 1968. O Santos perdeu por 3 a 2, mas venceu os três jogos seguintes – Internacional, Palmeiras e Vasco – e conquistou o seu sexto título brasileiro. O grupo de jovens, de 12 a 21 anos, continuou acompanhando o time, mas a Torcida Jovem só foi oficialmente criada em 26 de setembro de 1969, no bairro paulistano do Brás, na casa de um menino de 14 anos chamado Cosmo Damião Freitas Cid.
Entre os 13 fundadores, que já seguiam o Santos nos jogos na capital desde 1966, lá estavam, além de Cosmo, Mestre Pedrão, China, Chacrinha, Magrão, Zuca, Celso Jatene, Almir… Em pouco tempo a capacidade de mobilização dos meninos mudou o panorama das arquibancadas do futebol paulista.
Na final do Campeonato Paulista de 1973, em 26 de agosto de 1973, com uma torcida formada por oitenta por cento de santistas, Santos e Portuguesa bateram o recorde de público do Estado e do Morumbi, com 116 156 pessoas.
Em 11 de dezembro de 1977, em um jogo pelo Grupo H do Campeonato Brasileiro, novamente com maioria de santistas, Santos e Palmeiras bateram o recorde de público do Pacaembu, com 68 327 pagantes.
Em 15 de outubro de 1978 os mesmos Santos e Palmeiras estabeleceram um recorde que perdura até hoje de maior público em clássicos disputados em São Paulo: 127 723 pessoas.
Em 16 de novembro de 1980 foi a vez do São Paulo jogar para o maior público de sua história: 122 209 pessoas, a maior parte delas santistas, no primeiro jogo da final do Campeonato Paulista de 1980.
No Campeonato Brasileiro de 1983 os dois jogos contra o Flamengo, no Morumbi, atraíram um público total de 225 592 pessoas.
Nesse período, sete clássicos contra o Corinthians atraíram mais de 100 mil pessoas ao Morumbi.
Enfim, a Torcida Jovem, que hoje completa 50 anos de fundação, foi essencial para mostrar ao torcedor santista uma força que ele ainda não sabia que tinha. Também escola de samba desde 2003, hoje a Torcida Jovem está sediada no Jardim Aricanduva, Zona Leste de São Paulo, e continua com o lema: Com o Santos, onde e como ele estiver.