Guilherme Guarche, do Centro de Memória
Filho de Arthur Ferreira e de Rosa Carrara Ferreira, o centroavante Antônio Ferreira, nosso Toninho Guerreiro, nasceu na cidade de Bauru, a “Cidade sem limites”, a 326 quilômetros da Capital Paulista, em uma terça-feira, 10 de agosto de 1942.
O bauruense começou a carreira ainda bem jovem, para desespero da mãe, que desejava ver o garoto “Tonho” trabalhando na Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
Ainda bem que o menino não seguiu a vontade de dona Rosa. Após estrear no Noroeste em 1962, aos dezenove anos, naquele mesmo ano dividiu a quarta colocação entre os artilheiros do Campeonato Paulista com Nei, do Corinthians, ficando atrás apenas dos santistas Pelé (37 gols), Coutinho (32) e de Silva, do Corinthians, com 28.
O jovem centroavante marcou 17 gols no certame estadual, chamando a atenção dos dirigentes do Santos, que o contrataram no final do ano por 100 mil cruzeiros. No popular “Norusca” Toninho jogou de 1960 a 1962.
A primeira vez em que vestiu a camisa do Alvinegro Praiano foi no dia 16 de fevereiro de 1963, contra o Vasco da Gama, no estádio do Maracanã. A partida, válida pelo Torneio Rio-São Paulo terminou empatada em 2 a 2, com dois gols de Pelé. O Peixe, dirigido pelo técnico Lula formou com Gilmar, Dalmo, Mauro e Zé Carlos (Tite); Calvet e Lima; Dorval, Mengálvio, Pagão (Toninho), Pelé e Pepe.
Naquele sábado distante em que estreou no ataque, substituindo o genial Pagão, aconteceu um episódio que faz parte do folclore do futebol brasileiro. Esse foi o jogo em que o Rei Pelé, após marcar dois gols seguidos no fim da partida e empatar em 2 a 2 o jogo com o Vasco, pegou a bola e a entregou para o zagueiro vascaíno Fontana, que o provocara durante todo o jogo, e disse lhe disse: “Toma, leva para a tua mãe e diz que foi o Rei que mandou”.
Ficou na reserva do time da Vila por algum tempo, só se tornando titular quando Coutinho ficou fora da equipe por problemas no joelho. A respeito de Coutinho, com quem se revezaria na posição, Toninho dizia: “foi o melhor centroavante que vi jogar”.
Oportunista, Toninho era um atacante de muita raça, com excelente visão de jogo e bom nível técnico. Tinha “fome de gol”, não desperdiçava oportunidade. O Rei Pelé diversas vezes chegou a reclamar de sua vontade de marcar gols e não dar assistências.
O aguerrido centroavante não era um trombador, mas um jogador que costumava estar presente no lugar certo e na hora certa. Recebeu dos colegas de equipe o apelido de “Guerreiro” pela dedicação e empenho em campo.
Mais gols que Pelé!
No Campeonato Paulista de 1966 ele quebrou a sequência de Pelé, que vinha como artilheiro máximo do campeonato desde 1957. Toninho marcou 24 gols, e Pelé, 12. Também foi o artilheiro da Taça Brasil, com 10 gols, e o artilheiro santista na temporada, com 60 tentos. Já em 1968 foi artilheiro do Campeonato Brasileiro, com 18 gols, e também o artilheiro santista no ano, com 75 gols.
Um gol de sua autoria que permanece na memória dos torcedores foi o que marcou na Vila Belmiro, em 9 de março de 1968, na goleada contra o Botafogo/SP por 5 a 1. O ponta-direita Kaneko deu uma carretilha no marcador e centrou na medida exata para o artilheiro mandar, de calcanhar, às redes adversárias.
A última partida de Toninho Guerreiro no Santos ocorreu em 24 de junho de 1969, quando marcou também um de seus gols mais importantes, ao aproveitar o rebote do goleiro Bordon depois de uma falta cobrada por Pelé. Esse gol, contra a Internazionale de Milão, no estádio San Siro, deu o título da Recopa Mundial ao Peixe. O time, dirigido por Antônio Fernandes, formou com Cláudio (Laércio), Carlos Alberto, Ramos Delgado, Djalma Dias e Rildo; Clodoaldo e Negreiros, Toninho Guerreiro, Edu, Pelé e Abel.
Sobre ele a revista Placar escreveu, um tanto depreciativamente, que: “Era um centroavante que ficava andando pelo campo e, de repente, com um chute maluco, metia um gol. Para muitos torcedores santistas ele foi depois de Coutinho, o parceiro ideal do Rei Pelé”. Na verdade, Toninho foi muito mais do que isso.
No Alvinegro Praiano ele jogou por 373 partidas e marcou 279 gols no período de 1963 a 1969. É o quarto maior artilheiro da história santista.
No Santos ele ganhou 15 títulos oficiais, dos quais os mais relevantes foram a Copa Libertadores e o Mundial Interclubes de 1963, os Brasileiros de 1964, 1965 e 1968 e asRecopas Sul-Americana e Mundial de 1968, além dos Paulistas de 1964/65/67/68/69.
No final de 1969 foi negociado com o São Paulo por 800 mil cruzeiros. Lá conseguiu um feito inédito: tornou-se pentacampeão paulista (tri pelo Santos, em 1967/1968/1969, e bi pelo São Paulo, em 1970/1971). Sua permanência no tricolor durou até o fim de 1973.
Depois teve breve passagem pelo Flamengo. Já com um futebol em decadência jogou, sem muito destaque, no Operário de Campo Grande/MS, e acabou encerrado a carreira em sua cidade natal em 1975, no time do Noroeste, aos 33 anos de idade.
Cortado pelo presidente?
Na Seleção Brasileira jogou duas partidas e marcou quatro gols. Sua passagem ficou marcada por acontecimentos mal explicados. O técnico João Saldanha o convocou para a Seleção Brasileira que disputaria a Copa de 1970, no México. No entanto, ele foi cortado por um motivo insólito.
O motivo alegado para o seu corte foi o de que sofria de sinusite e teria problemas com a altitude no México. No entanto, Toninho jamais teve qualquer problema para jogar futebol e chegava a viajar três meses por ano com o Santos, jogando em dezenas de países, entre eles o México.
Toninho explicava seu corte por uma suposta interferência do presidente Emílio Garrastazu Médici, que tinha declarado gostar do futebol de Dario (Dadá Maravilha), do Atlético Mineiro. Assim, logo que João Saldanha foi demitido do comando técnico da Seleção e Zagallo assumiu, Toninho foi cortado e Dadá Maravilha ganhou a vaga para a Copa.
Ao se aposentar, Toninho passou a vender amortecedores em uma retífica no bairro da Lapa, na Zona Oeste de São Paulo. Mesmo a decepção por não ir à Copa de 70 parece que não o abalou. Em uma entrevista, definiu:
Fui feliz, tive sorte, sou um homem rico. Rico porque tomo minhas cervejas, bato uma bolinha e vivo cercado de amigos.
Toninho Guerreiro faleceu na manhã de 26 de janeiro de 1990, vítima de um derrame cerebral, após ter ficado internado no Hospital São Camilo, em São Paulo. Ele tinha 47 anos.