Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória
Filho de Lourdes Camargo e Antônio Camargo, o menino Joel Camargo nasceu em Santos, no dia 18 de setembro de 1946, uma quarta-feira. Os primeiros passos atrás de uma bola indicavam que o garoto dificilmente teria outro destino a não ser jogar futebol.
Joel começou jogando no XV de Novembro, um time amador do bairro do Marapé em sua terra natal, onde residia sua família. Antes, já chamava a atenção pelo estilo clássico de passadas suaves ao jogar com os outros garotos da rua Antônio Bento de Amorim.
Arnaldo de Oliveira, o Papa, o mal humorado e ranzinza técnico da Portuguesa Santista, foi quem levou o garoto Joel aos 13 anos para treinar em Ulrico Mursa. Papa também lançou outros craques na “Mais Briosa” como Cláudio, Adelson, Capitão, Lorico e Omar.
Sua altura (1,83) e seu porte forte e atlético o destacavam como médio-volante, até se firmar como quarto-zagueiro. Ele tinha o costume de sair da defesa de cabeça erguida, abrindo os cotovelos, que se tornavam como duas alças, razão pela qual ganhou o apelido de “Açucareiro”. No Santos seus colegas de time o chamavam de “Gogo”.
A partida de estreia do zagueiro que não brincava em serviço se deu no dia1º de setembro de 1963, um dia de domingo de Sol em Araraquara, diante da Ferroviária. Ele tinha 16 anos, 11 meses e 14 dias. Ele está entre os 20 jogadores mais jovens a atuar pela equipe principal santista.
Nessa partida na Fonte Luminosa, o Alvinegro, derrotado por 4 a 1, com Pelé marcando o gol de honra do Santos, foi escalado por Luiz Alonso Perez, o Lula, com Gylmar, Dalmo, Joel Camargo e Geraldino; Calvet e Zito; Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Rossi.
Aos poucos Joel foi ganhando espaço na defensiva praiana e também o respeito de seu companheiro de zaga, o argentino Ramos Delgado, que tinha preferência em formar ao lado de Joel na zaga do time da Vila Belmiro.
O técnico do Escrete Nacional, João Saldanha, considerava Joel Camargo o melhor quarto-zagueiro do mundo e reprovava publicamente o técnico do Santos, Antônio Fernandes, o Antoninho, que escalava Djalma Dias na zaga santista como titular, e não Joel.
Zagallo o decepcionou na Seleção Brasileira
Nas Eliminatórias da Copa de 1970, a defesa do Selecionado era formada por jogadores santistas: Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel Camargo e Rildo. No entanto quando o técnico Zagallo assumiu o comando da Seleção em substituição a João Saldanha, o “Velho lobo” decidiu escalar Wilson Piazza na quarta-zaga, no lugar de Joel na Copa do Mundo no México.
Desiludido por não estar entre os titulares na Copa de 1970, o jovem de 23 anos e muitos sonhos viu o Brasil ganhar o Tricampeonato na reserva, recebendo o mesmo prêmio dado aos titulares e adquiriu um carro possante com o dinheiro da premiação.
Antes tivesse o usado o dinheiro para outros fins, pois o automóvel comprado foi o protagonista de um grave acidente que resultou na morte de uma pessoa nas ruas de Santos. Era o início de sua decadência futebolística.
Sua última apresentação com a camisa do time da Vila Belmiro foi no dia 21 de novembro, no Campeonato Brasileiro, no empate sem gols diante do América do Rio de Janeiro, no estádio do Parque Antártica em São Paulo.
Pelo Peixe no período de 1963 a 1970 jogou 304 partidas e marcou cinco gols, e na Seleção Brasileira atuou em 36 partidas.
Títulos conquistados no Alvinegro
1964 – Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro e Torneio Rio-São Paulo
1965 – Campeonato Paulista e Campeonato Brasileiro
1966 – Torneio Rio-São Paulo
1967 – Campeonato Paulista
1968 – Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro, Recopa Sul-americana e Recopa Mundial
1969 – Campeonato Paulista
Estivador sim, com muito orgulho
Após rescindir contrato com o Santos, foi na França onde prosseguiu na carreira, sendo o primeiro jogador brasileiro a atuar no PSG. Lá, no entanto sua impaciência e má vontade irritaram os dirigentes franceses que o mandaram de volta ao Brasil, depois de jogar apenas duas partidas no time de cores azul e vermelha.
Atuou ainda pelo CRB, de Alagoas, e no Saad EC, de São Caetano do Sul, sem muito brilho e bem distante daquele zagueiro que vestiu a camisa do Santos. Sua difícil situação financeira após encerrar em definitivo a carreira o obrigou a vender duas casas lotéricas e a medalha ganha na campanha do Tricampeonato Mundial de 1970.
Durante 20 anos trabalhou no cais do porto de Santos como trabalhador avulso e foi lá, na conhecida estiva, que ele se aposentou aos 55 anos de idade. Deu aulas de futebol nas prefeituras de Santos e de São Paulo.
Joel Camargo faleceu em Santos, no dia 23 de maio de 2014, aos 67 anos, vítima de insuficiência renal provocada pelo diabetes que não conseguiu controlar nos últimos anos de vida.