Odir Cunha e Guilherme Guarche, do Centro de Memória
Uma versão diz que morreram quatro pessoas de ataque cardíaco na noite de quinta-feira, 6 de março de 1958, acompanhando o clássico Santos e Palmeiras, pelo Torneio Rio-São Paulo: duas no Pacaembu, duas ouvindo o rádio. Há quem afirme que foram três mortes, uma em São Paulo, outra em Santos, mais uma em Campinas. O certo é que aquele Santos 7, Palmeiras 6, em um Pacaembu com 43.68 pessoas entrou para a história como o maior jogo do futebol brasileiro. Bem ao menos ninguém discute que foi o mais cardíaco.
O Palmeiras, onde se destacava o centroavante Mazzola, era chamado pela imprensa da capital de “a sensação do campeonato”. Isso certamente contribuiu para o ótimo público do Pacaembu, que urrou ao ver o ponta-esquerda Urias abrir o marcador aos 18 minutos. Pelé empatou aos 21 e Pagão colocou o Santos na frente aos 25, mas um minuto depois Nardo empatou de novo. O clássico dos clássicos prometia…
A torcida palmeirense se assanhou com o empate, mas antes de terminar o primeiro tempo Dorval desempatou e Pepe marcou duas vezes para construir uma goleada parcial de 5 a 2. No vestiário, empolgado, o líder Zito gritava para os companheiros: “É hoje que vamos dar de dez no Palmeiras!”. E com esse espírito o altivo Alvinegro Praiano voltou para a segunda etapa.
Mas o adversário era forte e brioso, tinha um bom técnico, Oswaldo Brandão, e não estava morto. Quando Paulinho, de pênalti, diminuiu para 5 a 3 aos 16 minutos da segunda etapa, a torcida esmeraldina se animou novamente. Três minutos depois Mazzola marcou o quarto, enlouquecendo o estádio. Ele mesmo voltou a marcar aos 27 minutos, escrevendo o inusitado empate de 5 a 5 no marcador do até então maior estádio brasileiro.
Imagine o leitor a festa do Pacaembu, que se transformou em loucura total aos 32 minutos, pois Urias marcou de novo para cristalizar a virada inacreditável. Nesses momentos, entretanto, é que se percebia o espírito que levou o Santos a voos inalcançáveis. Tudo conspirava contra, mas ainda havia jogo e aquele Santos jamais desistia.
Quatro minutos depois da explosão provocada pelo gol de Urias, Pepe empatou. Mais três minutos e o mesmo Pepe, que fez quatro gols naquele jogo, colocou o Santos novamente na frente, fechando o placar do duelo mais emocionante já ocorrido no futebol brasileiro.
Nem Santos nem Palmeiras venceram o Torneio Rio-São Paulo de 1958. O título ficou com o Vasco e o vice com o Flamengo, mas quem se lembra? O que ficou para a história foi o embate épico de Santos e Palmeiras, que construíram para a eternidade um momento que não depende de taças, vencedores ou vencidos. Um momento mágico, eletrizante, cardíaco, de entrega e amor ao futebol.
Os heróis daquela noite iluminada foram, pelo Santos: Manga, Hélvio (depois Urubatão) e Dalmo; Fioti, Ramiro e Zito; Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão (Afonsinho), Pelé e Pepe. Pelo Palmeiras: Edgard (depois Vitor), Waldemar Carabina e Édson; Formiga (Maurinho), Valdemar Fiúme e Dema; Paulinho, Nardo (Caraballo), Mazzola, Ivan e Urias. Lula comandou os santistas, Oswaldo Brandão os palmeirenses.