Gabriel Pierin, do Centro de Memória
No dia 24 de agosto de 1966, uma quarta-feira, o Santos derrotou o AEK, da Grécia, por 1 a 0, e conquistou o título do Torneio de Nova York. Três dias antes o Alvinegro goleara a forte equipe do Benfica, de Portugal, vingando a Seleção Brasileira, eliminada pelos portugueses na Copa da Inglaterra.
Menos de um mês após o término da Copa, Santos e Benfica se enfrentaram na abertura do torneio nova-iorquino. Nada menos do que seis jogadores santistas haviam integrado a Seleção Brasileira no mundial, enquanto o Benfica era a base do selecionado português e contava, entre outros, com o ídolo Eusébio, artilheiro da Copa recém terminada e, para alguns precipitados críticos europeus, melhor do que Pelé.
Na Copa o Brasil tinha sido eliminado na primeira fase após, perder para Portugal por 3 a 1 no grupo de Liverpool. Em partida marcada pelo jogo violento, Pelé saiu de campo machucado depois de duas entradas desleais do zagueiro português Morais.
Nesse tira-teima em Nova York, em 21 de agosto, um domingo, os brasileiros saíram na frente com Toninho Guerreiro, numa bela jogada individual. Pelé, inspiradíssimo e já recuperado da contusão sofrida na Copa, não decepcionava os 25 671 torcedores presentes no Estádio Randalls Island. O segundo gol veio de uma assistência do Rei ao ponta-esquerda Edu.
O terceiro gol novamente se originou de uma troca de passes entre Pelé e Edu, que chutou rasteiro na saída do goleiro. O quarto gol foi confeccionado com a marca de Pelé. Uma pintura. O Rei dominou, protegeu, encobriu o zagueiro, driblou outro defensor, fingiu que ia chutar e só colocou a bola no ângulo oposto do goleiro.
Os torcedores norte-americanos não esperaram o fim da partida. Sem conseguir conter a emoção, a torcida invadiu o campo para abraçar Pelé e festejar com o Santos. Após ser eliminado da Copa, o melhor jogador do mundo devolvia com arte o que recebera com violência. A goleada de 4 a 0 sobre o campeão português lavou a alma do torcedor brasileiro.
A final de um time só
Na decisão da taça, três dias depois, no mesmo estádio, o time de Vila Belmiro enfrentou o AEK, da Grécia. Precavido, o time grego jogou na defesa. O Santos teve o domínio total da partida e só não venceu por uma contagem maior devido à excelente atuação do goleiro Maniattes, considerado o melhor jogador do confronto.
Logo aos sete minutos Pelé marcou, mas o gol foi anulado. O Alvinegro continuou atacando, mas encontrava pela frente uma defesa sólida. Finalmente, aos 30 minutos, Toninho driblou, avançou, tocou para Pelé, que lançou de volta, em profundidade. O artilheiro penetrou e chutou para marcar o único gol da partida.
O Santos permaneceu insistindo no segundo tempo, mas sem conseguir vencer novamente a defesa grega. Ao apito do árbitro Vincent Daibis o Alvinegro Praiano comemorou mais uma conquista internacional inédita e completou a vingança do futebol brasileiro sobre o português.
Comandado pelo técnico Lula, o Santos foi campeão em Nova York com Gylmar,Carlos Alberto Torres, Oberdan, Orlando e Lima; Zito e Mengálvio (Salomão); Dorval (Amauri), Toninho, Pelé e Edu. O AEK apresentou Maniattes, Sofianidis, Vasilion e Frogalaukis; Papoupulus e Skedofilak; Stamatialis, Stathopoulus, Karafeskos, Papaioanou e Mastrakoulis.