Há 115 anos nascia o ídolo Araken Patusca

Gabriel Pierin, do Centro de Memória
No dia 7 de julho de 1905, uma sexta-feira, nascia em Santos Araken Patusca. O menino era filho de Sizino Patusca, o primeiro presidente do Santos. Dono de um futebol rápido e elegante, Araken foi campeão na primeira conquista paulista, em 1935, marcando o segundo gol na última partida do campeonato, contra o Corinthians, vencida por 2 a 0.
A primeira vez que Araken vestiu a camisa santista ocorreu de maneira curiosa. Ele tinha 15 anos e estava na Vila Belmiro para assistir a um jogo-treino do Santos contra o Jundiaí, quando o ponta-esquerda Edgar da Silva Marques se sentiu mal no aquecimento. O diretor de futebol Urbano Caldeira convidou Araken para ocupar a posição. O garoto se saiu tão bem que marcou quatro gols santistas no empate de 5 a 5.
Em 4 de fevereiro de 1923 Araken estreou no time principal contra o Paulista de Jundiaí, na Vila Belmiro. O Santos perdeu por 4 a 1. Chico Massulo marcou o único gol do Peixe. Com o tempo, suas brilhantes atuações nas campanhas do time fizeram dele um jovem ídolo da torcida, admirado e respeitado pelos adversários.
Junto com os melhores jogadores do Brasil, Araken, emprestado pelo Santos, participou da vitoriosa excursão do Paulistano à Europa. O ano era 1925 e os brasileiros representados pelo clube da capital foram convidados para formar a equipe famosa.
Nessa primeira viagem de um time brasileiro à Europa, o poderoso esquadrão do Jardim América, bairro elegante da capital paulista, jogou dez partidas em gramados do Velho Mundo, venceu nove e perdeu apenas uma. O jovem Araken jogou duas partidas pelo time alvirrubro, fazendo dupla de ataque com o lendário Friedenreich, e marcou dois gols. A imprensa francesa, maravilhada com o futebol rápido e ofensivo do garoto, apelidou-o de “Le Danger”.
Dois anos depois, em 1927, ele integrou o poderoso esquadrão santista conhecido como “Ataque dos 100 gols”. No Campeonato Paulista, a linha formada por Omar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista chegou à marca centenária em 16 jogos, conquistando a incrível média de 6,25 gols por partida. Araken foi o artilheiro do campeonato com 31 gols, marca histórica no estadual paulista. Na goleada sobre o Ypiranga por 12 a 1 ele marcou sete gols, outro recorde.
Em 1929, o genioso Araken se desentendeu com o presidente do Santos, Antônio Guilherme Gonçalves. O dirigente havia suependido os jogadores Bilu e Siriri por jogarem pelo time da firma em que trabalhavam no festival promovido pela Liga Santista de Futebol. Araken, solidário aos jogadores, foi suspenso por 90 dias. Os protestos de sócios e torcedores reduziram a suspensão para 30 dias, mas o ídolo não quis mais permanecer na Vila Belmiro.
Único jogador paulista a defender a Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1930, no Uruguai, Araken estava brigado com o Santos quando viajou com a Seleção. Ele foi inscrito como jogador do Flamengo e se integrou ao elenco a caminho de Montevidéu, contrariando os dirigentes paulistas e também a vontade dos dirigentes cariocas da CBD, que só queriam jogadores em atividade no Rio de Janeiro. Sem contar com sua força máxima, o Brasil foi eliminado logo na primeira fase.
Em 1931 Araken formou a equipe recém fundada do São Paulo da Floresta, tornando-se campeão paulista (hoje esse título está incorporado às conquistas do São Paulo Futebol Clube). Contudo, não poderia encerrar a carreira sem retornar ao seu time de coração, o Santos, clube em que tinham jogado seus irmãos Ararê e Ary Patusca e os primos Arnaldo e Oswaldo Silveira. Em 1935, aos 29 anos, voltou à Vila Belmiro para liderar o time na conquista do título paulista daquele ano, o primeiro estadual do clube.
O jogo final do Campeonato Paulista de 1935 aconteceu no campo do Corinthians, o Parque São Jorge. O clube santista almejava o título que já lhe escapara das mãos algumas vezes. O futebol vivia os primeiros anos da era profissional e a imprensa paulista destacava o vivo espírito esportivo e a disciplina do elenco, características raras nas grandes equipes paulistas, preocupadas com os cofres e as bilheterias. O Santos, ao contrário, buscava nas “pratas da casa” e na sua própria força, a conquista dentro e fora do campo.
Os torcedores e entusiastas apostavam em uma vitória corintiana, mas o Santos demonstrou superioridade durante todo o jogo. O primeiro tempo terminou com vantagem para os santistas e na etapa complementar Araken deu números finais ao jogo ao arrematar uma bola desviada de cabeça por Raul. O triunfo santista, com o gol decisivo de Araken Patusca, coroou a carreira de um ídolo do clube que fez parte de uma geração marcada pela ofensividade.
No domingo, 6 de junho de 1937, o segundo quadro do Santos se sagrou campeão do Torneio Início da Liga Paulista de Futebol, em São Paulo, e a equipe principal do Santos venceu o Hespanha, atual Jabaquara, em Santos, por 2 a 1, com dois gols de Araken Patusca. Aos 32 anos incompletos ele vestia a camisa do seu time do coração pela última vez.
Araken Patusca jogou no Santos de 1923 a 1929, e depois de 1935 a 1937. Em 196 partidas marcou 182 gols. Faleceu na sua cidade natal em 24 de janeiro de 1990, com 84 anos.
O legado de Araken
O letrado Araken escreveu o livro “Os Reis do Futebol”, narrando a pioneira excursão do Paulistano à Europa, em 1925. Sobre o período de 1926 a 1931, em que o Santos não chegou ao título paulista, apesar de ser considerado uma das melhores equipes do país, ele revelou, em uma entrevista:
Nós éramos um time muito treinado e unido. O Santos daquela época foi, talvez, o time mais harmônico do Brasil. Era uma linha tão boa que quando se formava a Seleção Paulista iam os cinco como titulares. Só não conseguimos chegar ao título porque os times da Capital armavam esquemas fora do campo.
Enfim, não se pode contar a história do início do futebol brasileiro sem falar de Araken Patusca. O craque foi, sem dúvida, ao lado de Friendenreich um dos melhores jogadores da época do futebol amador no Brasil.

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