Pepe, o eterno Menino da Vila completa 87 anos  

[:pb]

Por Guilherme Guarche, Centro de Memória  

José Macia, nascido em Santos no dia 25 de fevereiro de 1935, uma segunda-feira de Carnaval, tinha apenas oito meses e 23 dias de vida quando o Santos sagrou-se Campeão Paulista pela primeira vez e sequer sonhava que 20 anos depois marcaria o gol que daria ao Alvinegro o seu segundo título do torneio regional.

Pepe, O Menino de Ouro do Santos, nasceu na Rua do Rosário, 255 (hoje Rua João Pessoa), bem em frente onde está instalado o Poupatempo na cidade, a mesma rua que o Santos foi fundado em 14 de abril de 1912.

O melhor ponta-esquerda da história santista, cujos familiares vieram para o Brasil vindos da região da Galícia na Espanha, o apelido veio do país da Península Ibérica, onde o nome José é conhecido como Pepe e na infância vivida em São Vicente era chamado pelos garotos de Pepinho.

O início no futebol 

Bem menino ainda foi com a família morar em São Vicente e lá começou a dar os primeiros chutes jogando nas equipes do Comercial FC e do Mota Lima. Foi nessa época que a potência do seu pé esquerdo tinha início e se tornava famoso nas peladas de rua também.

Quando jogava no infantil do São Vicente AC, aos 16 anos, o goleiro do seu time de nome Cobrinha que defendia a meta do time do Santos, o convidou para fazer testes no Alvinegro e assim foi que no dia 4 de maio de 1951, Pepe foi aprovado pelo técnico Salustiano da Costa Lima Jr. o Salu da Bandinha. 

Na equipe amadora do Santos, Pepe conquistou os seguintes títulos:

Vice-campeão Juvenil 1951; Campeão Juvenil 1952; Campeão Juvenil 1953; Campeão Mixto 1953; Campeão dos Campeões 1953; Campeão do Torneio Início Amador 1954; Campeão Amador 1954; Campeão Extra Juvenil 1954; Campeão dos Campeões 1954.

Aos 19 anos, estreou na equipe principal que era comandada por Giuseppe Otina, mas na equipe juvenil era treinado por Luiz Alonso Perez, o Lula desde 1952. E no dia 23 de maio de 1954 na partida diante do Fluminense, no Pacaembu pelo torneio Rio-São Paulo entrou no lugar de Boca, substituto do seu colega de time em São Vicente, Del Vecchio.

O Peixe perdeu para o Tricolor das Laranjeiras pelo placar de 2 a 1, jogando com Barbosinha, Hélvio e Feijó; Urubatão, Formiga e Zito; Tite, Wálter Marciano, Álvaro (Hugo), Vasconcelos e Del Vecchio (Boca, depois Pepe).

Uma carreira digna de aplausos

Seu primeiro grande momento como atleta profissional foi no Campeonato Paulista de 1955. Na última partida do certame, Pepe marcou o gol do triunfo diante do Taubaté, na Vila Belmiro, e com a vitória o Santos sagrou-se Campeão Paulista pela segunda vez, exatamente 20 anos depois do nascimento do melhor ponta-esquerda do Peixe.

A essa altura, a potência de sua perna esquerda já era conhecida, e por isso ganhou o apelido de Canhão da Vila. Gols de faltas e pênaltis se tornaram frequentes. E em três ocasiões a sua canhota também proporcionou gols olímpicos.

Pepe cita como sendo uma partida marcante em sua carreira, a segunda partida da final do Mundial Interclubes no Maracanã em 1963 diante do Milan. No primeiro jogo, em Milão, o Santos perdeu por 4 a 2. No segundo, perdia por 2 a 0 ao fim do primeiro tempo e perderia o título naquela noite se não conseguisse a virada.

Mas o Alvinegro voltou determinado na segunda etapa e virou para 4 a 2, devolvendo o placar da primeira partida. O Canhão da Vila marcou dois gols, ambos de perna esquerda, cobrando falta.

Essa vitória deu ao Santos o direito de disputar a terceira partida também no Rio de Janeiro e o Santos venceu o time italiano por 1 a 0 sagrando-se Bicampeão Mundial Interclubes com o gol da vitória sendo marcado de pênalti pelo lateral-esquerdo Dalmo Gaspar.

Um ano antes, em Lisboa, o Santos se tornara Campeão Mundial pela primeira vez ao golear o Benfica, bicampeão europeu. Pepe considera essa partida a melhor apresentação da história do Santos. O Peixe venceu por 5 a 2 a equipe de Eusébio, em pleno Estádio da Luz. Pelé marcou três vezes e Coutinho e Pepe marcaram um gol cada.

Como atleta do Santos, Pepe conquistou 25 títulos oficiais, sendo 11 Campeonatos Paulistas, seis Campeonatos Brasileiros, duas Taças Libertadores da América, dois Mundiais Interclubes e quatro Torneios Rio-São Paulo, tornando-se o jogador com mais títulos por um único clube.

Maior vencedor de Campeonatos Paulistas, com 13 títulos conquistados (11 como jogador do Santos, um como técnico do Santos e um como técnico da Internacional de Limeira), o Canhão da Vila é também o maior vencedor de Campeonatos Brasileiros, com sete títulos conquistados – seis como jogador do Santos e um como técnico do São Paulo.

Disciplinado ao extremo, e mesmo às vezes perseguido em campo por marcadores violentos e maldosos, Pepe jamais foi expulso de campo, e por essa notável disciplina recebeu o troféu Belfort Duarte.

Se somarmos desde seu primeiro ano como juvenil, até o último como profissional, foram 17 anos como atleta do Santos tornando-se o jogador do Peixe com mais empatia com os torcedores, dos quais recebeu como presente dos associados e diretoria santista um automóvel por sua dedicação e amor ao clube praiano.

Pepe, que era chamado pelo jornalista Antônio Guenaga de “Espanhol” jogou com a camisa Canarinho 40 partidas marcando 22 gols, com a média de 0,55 gols por partida. Na Seleção Brasileira conquistou dois títulos mundiais, o primeiro na Suécia em 1958 e o segundo no Chile em 1962.

O adeus ao futebol na Vila Belmiro 

E foi diante de 22 810 espectadores na Vila mais famosa do mundo, sua segunda casa, com a qual manteve sempre uma identidade incomum, que Pepe disse adeus ao futebol dando a volta olímpica no gramado por ele tantas vezes pisado em seus 15 anos jogando com a camisa 11 do Alvinegro.

A partida foi vencida pelo Palmeiras por 1 a 0 e o eterno Menino da Vila antes da partida recebeu das mãos do presidente Athié Jorge Coury uma placa alusiva à sua vida no clube, com os dizeres: “Muito obrigado do Santos, da torcida e de todos os esportistas do Brasil”: 

Entre os anos de 1954 e 1969 Pepe disputou 741 partidas, e é o segundo jogador que mais vezes vestiu a camisa do Peixe e pelo qual marcou 403 gols é também o segundo maior artilheiro do Peixe ficando atrás do Rei Pelé que marcou 1091 gols pelo Santos.

Sobre essa colocação no segundo lugar dos artilheiros santistas, Pepe brinca falando que “Eu sou o maior artilheiro da história do Santos, porque o Rei não conta, ele é de Saturno”.

Técnico vitorioso

Como treinador, teve cinco passagens pelo Santos. Dirigiu o Alvinegro em 371 partidas, sendo o terceiro técnico que mais comandou a equipe praiana. Também dirigiu outros clubes: Inter de Limeira, São Paulo, Guarani, Portuguesa, Ponte Preta, Portuguesa Santista, Atlético do Paraná, Verdy Kawazaki, Seleção Peruana, entre outros.

Além do Paulista de 1973, os títulos mais importantes de Pepe como treinador foram o Campeonato Brasileiro de 1986, pelo São Paulo e, no mesmo ano, o Campeonato Paulista pela Internacional de Limeira.

Foto: (Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

Nos dias atuais o simpático e querido Pepe que completa 87 anos continua residindo em sua querida Santos, morando no bairro da Ponta da Praia ao lado de sua leal companheira dona Lélia, com a qual é casado desde 1964. É pai de Alexandre, Rafael, Clotilde e Gisa.

Pepe costuma passar dias descansando na cidade de Socorro, no interior de São Paulo e é lá que o eterno Canhão da Vila desfruta com familiares da merecida aposentadoria apesar de continuar servindo ao Santos como integrante do seleto grupo de jogadores denominados de Ídolos Eternos. 

Augusto Vieira de Oliveira, o saudoso Tite, com quem Pepe rivalizava no ataque santista e de quem era grande amigo, homenageou o companheiro camisa onze fazendo uma canção, cuja letra abaixo postamos:

Garoto de São Vicente nasceu em Santos veio do Continental 

É o famoso Canhão da Vila, Bi Campeão Mundial 

O brasileiro tem memória curta, mas o Pepe ninguém pode ignorar 

Foi o craque mais querido da torcida, ninguém pode negar, 

Chutava forte, tinha boa pontaria, seu chute era um verdadeiro canhão, 

E quando acertava a barreira o adversário caia no chão, 

Garoto de São Vicente… 

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Por Guilherme Guarche, Centro de Memória  

José Macia, nascido em Santos no dia 25 de fevereiro de 1935, uma segunda-feira de Carnaval, tinha apenas oito meses e 23 dias de vida quando o Santos sagrou-se Campeão Paulista pela primeira vez e sequer sonhava que 20 anos depois marcaria o gol que daria ao Alvinegro o seu segundo título do torneio regional.

Pepe, O Menino de Ouro do Santos, nasceu na Rua do Rosário, 255 (hoje Rua João Pessoa), bem em frente onde está instalado o Poupatempo na cidade, a mesma rua que o Santos foi fundado em 14 de abril de 1912.

O melhor ponta-esquerda da história santista, cujos familiares vieram para o Brasil vindos da região da Galícia na Espanha, o apelido veio do país da Península Ibérica, onde o nome José é conhecido como Pepe e na infância vivida em São Vicente era chamado pelos garotos de Pepinho.

O início no futebol 

Bem menino ainda foi com a família morar em São Vicente e lá começou a dar os primeiros chutes jogando nas equipes do Comercial FC e do Mota Lima. Foi nessa época que a potência do seu pé esquerdo tinha início e se tornava famoso nas peladas de rua também.

Quando jogava no infantil do São Vicente AC, aos 16 anos, o goleiro do seu time de nome Cobrinha que defendia a meta do time do Santos, o convidou para fazer testes no Alvinegro e assim foi que no dia 4 de maio de 1951, Pepe foi aprovado pelo técnico Salustiano da Costa Lima Jr. o Salu da Bandinha. 

Na equipe amadora do Santos, Pepe conquistou os seguintes títulos:

Vice-campeão Juvenil 1951; Campeão Juvenil 1952; Campeão Juvenil 1953; Campeão Mixto 1953; Campeão dos Campeões 1953; Campeão do Torneio Início Amador 1954; Campeão Amador 1954; Campeão Extra Juvenil 1954; Campeão dos Campeões 1954.

Aos 19 anos, estreou na equipe principal que era comandada por Giuseppe Otina, mas na equipe juvenil era treinado por Luiz Alonso Perez, o Lula desde 1952. E no dia 23 de maio de 1954 na partida diante do Fluminense, no Pacaembu pelo torneio Rio-São Paulo entrou no lugar de Boca, substituto do seu colega de time em São Vicente, Del Vecchio.

O Peixe perdeu para o Tricolor das Laranjeiras pelo placar de 2 a 1, jogando com Barbosinha, Hélvio e Feijó; Urubatão, Formiga e Zito; Tite, Wálter Marciano, Álvaro (Hugo), Vasconcelos e Del Vecchio (Boca, depois Pepe).

Uma carreira digna de aplausos

Seu primeiro grande momento como atleta profissional foi no Campeonato Paulista de 1955. Na última partida do certame, Pepe marcou o gol do triunfo diante do Taubaté, na Vila Belmiro, e com a vitória o Santos sagrou-se Campeão Paulista pela segunda vez, exatamente 20 anos depois do nascimento do melhor ponta-esquerda do Peixe.

A essa altura, a potência de sua perna esquerda já era conhecida, e por isso ganhou o apelido de Canhão da Vila. Gols de faltas e pênaltis se tornaram frequentes. E em três ocasiões a sua canhota também proporcionou gols olímpicos.

Pepe cita como sendo uma partida marcante em sua carreira, a segunda partida da final do Mundial Interclubes no Maracanã em 1963 diante do Milan. No primeiro jogo, em Milão, o Santos perdeu por 4 a 2. No segundo, perdia por 2 a 0 ao fim do primeiro tempo e perderia o título naquela noite se não conseguisse a virada.

Mas o Alvinegro voltou determinado na segunda etapa e virou para 4 a 2, devolvendo o placar da primeira partida. O Canhão da Vila marcou dois gols, ambos de perna esquerda, cobrando falta.

Essa vitória deu ao Santos o direito de disputar a terceira partida também no Rio de Janeiro e o Santos venceu o time italiano por 1 a 0 sagrando-se Bicampeão Mundial Interclubes com o gol da vitória sendo marcado de pênalti pelo lateral-esquerdo Dalmo Gaspar.

Um ano antes, em Lisboa, o Santos se tornara Campeão Mundial pela primeira vez ao golear o Benfica, bicampeão europeu. Pepe considera essa partida a melhor apresentação da história do Santos. O Peixe venceu por 5 a 2 a equipe de Eusébio, em pleno Estádio da Luz. Pelé marcou três vezes e Coutinho e Pepe marcaram um gol cada.

Como atleta do Santos, Pepe conquistou 25 títulos oficiais, sendo 11 Campeonatos Paulistas, seis Campeonatos Brasileiros, duas Taças Libertadores da América, dois Mundiais Interclubes e quatro Torneios Rio-São Paulo, tornando-se o jogador com mais títulos por um único clube.

Maior vencedor de Campeonatos Paulistas, com 13 títulos conquistados (11 como jogador do Santos, um como técnico do Santos e um como técnico da Internacional de Limeira), o Canhão da Vila é também o maior vencedor de Campeonatos Brasileiros, com sete títulos conquistados – seis como jogador do Santos e um como técnico do São Paulo.

Disciplinado ao extremo, e mesmo às vezes perseguido em campo por marcadores violentos e maldosos, Pepe jamais foi expulso de campo, e por essa notável disciplina recebeu o troféu Belfort Duarte.

Se somarmos desde seu primeiro ano como juvenil, até o último como profissional, foram 17 anos como atleta do Santos tornando-se o jogador do Peixe com mais empatia com os torcedores, dos quais recebeu como presente dos associados e diretoria santista um automóvel por sua dedicação e amor ao clube praiano.

Pepe, que era chamado pelo jornalista Antônio Guenaga de “Espanhol” jogou com a camisa Canarinho 40 partidas marcando 22 gols, com a média de 0,55 gols por partida. Na Seleção Brasileira conquistou dois títulos mundiais, o primeiro na Suécia em 1958 e o segundo no Chile em 1962.

O adeus ao futebol na Vila Belmiro 

E foi diante de 22 810 espectadores na Vila mais famosa do mundo, sua segunda casa, com a qual manteve sempre uma identidade incomum, que Pepe disse adeus ao futebol dando a volta olímpica no gramado por ele tantas vezes pisado em seus 15 anos jogando com a camisa 11 do Alvinegro.

A partida foi vencida pelo Palmeiras por 1 a 0 e o eterno Menino da Vila antes da partida recebeu das mãos do presidente Athié Jorge Coury uma placa alusiva à sua vida no clube, com os dizeres: “Muito obrigado do Santos, da torcida e de todos os esportistas do Brasil”: 

Entre os anos de 1954 e 1969 Pepe disputou 741 partidas, e é o segundo jogador que mais vezes vestiu a camisa do Peixe e pelo qual marcou 403 gols é também o segundo maior artilheiro do Peixe ficando atrás do Rei Pelé que marcou 1091 gols pelo Santos.

Sobre essa colocação no segundo lugar dos artilheiros santistas, Pepe brinca falando que “Eu sou o maior artilheiro da história do Santos, porque o Rei não conta, ele é de Saturno”.

Técnico vitorioso

Como treinador, teve cinco passagens pelo Santos. Dirigiu o Alvinegro em 371 partidas, sendo o terceiro técnico que mais comandou a equipe praiana. Também dirigiu outros clubes: Inter de Limeira, São Paulo, Guarani, Portuguesa, Ponte Preta, Portuguesa Santista, Atlético do Paraná, Verdy Kawazaki, Seleção Peruana, entre outros.

Além do Paulista de 1973, os títulos mais importantes de Pepe como treinador foram o Campeonato Brasileiro de 1986, pelo São Paulo e, no mesmo ano, o Campeonato Paulista pela Internacional de Limeira.

Foto: (Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

Nos dias atuais o simpático e querido Pepe que completa 87 anos continua residindo em sua querida Santos, morando no bairro da Ponta da Praia ao lado de sua leal companheira dona Lélia, com a qual é casado desde 1964. É pai de Alexandre, Rafael, Clotilde e Gisa.

Pepe costuma passar dias descansando na cidade de Socorro, no interior de São Paulo e é lá que o eterno Canhão da Vila desfruta com familiares da merecida aposentadoria apesar de continuar servindo ao Santos como integrante do seleto grupo de jogadores denominados de Ídolos Eternos. 

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