[:pb]Por Gabriel Pierin, do Centro de Memória
No dia 27 de março de 1963, uma quinta-feira, o Santos conquistava pela segunda vez o Torneio Rio-São Paulo e com uma rodada de antecedência em pleno Maracanã. Naquele dia, 45 988 espectadores pagaram ingresso para ver o Santos vencer o Flamengo por 3 a 0, no Maracanã, com gols de Coutinho, Dorval e Pelé.
O Peixe viu o título escapar antecipadamente na rodada anterior, quando vacilou perante o Fluminense e perdeu por 4 a 2. O resultado deu ânimo ao Flamengo, adversário da penúltima rodada. Mas a disposição inicial do time carioca e a tentativa de repetir o feito do Fluminense logo se dissiparam pela superioridade técnica do Campeão do Mundo.
Para alcançar o feito, o técnico Lula levou a campo o chamado “Time dos Sonhos” e a torcida assistiu a mais um espetáculo da constelação de craques formada por Gylmar, Lima, Mauro e Dalmo; Calvet e Zito; Dorval, Mengálvio, Coutinho (Batista), Pelé e Pepe. O capitão Zito, voltando de contusão, não estava em suas melhores condições. Quem assumiu o papel de xerife foi o meia Mengálvio, jogando mais recuado e firme na marcação.
Romualdo Arppi Filho foi o árbitro da partida e os gols aconteceram no segundo tempo. A contagem foi aberta por Coutinho aos oito minutos. Pelé levantou a bola na área e o atacante emendou com um sensacional voleio para as redes. Aos 27 foi a vez de Dorval receber lançamento do Rei e finalizar para o gol. O último foi de Pelé. Pepe desarmou uma jogada e esticou a bola na área adversária, Pelé correu mais que o zagueiro, fintou o goleiro Mauro e finalizou livre para marcar o terceiro tento.
Para chegar ao título, na penúltima rodada, o Alvinegro havia disputado oito partidas, com seis vitórias, um empate e uma derrota, marcando 29 e sofrendo 12 gols. Os artilheiros do time no certame foram: Pelé (14 gols), Mengálvio e Coutinho (4), Lima, Pepe e Dorval (2) e Nenê, com um gol.
Uma partida que valeu por duas
Na última partida do torneio, disputada no dia 31 daquele mês de março, o Peixe, já campeão, perdeu para o Botafogo pelo placar de 3 a 1, no Maracanã. Por falta de datas, essa partida teve dupla validade, pois contou para o torneio Rio-São Paulo e também para a Taça Brasil/Campeonato Brasileiro de 1962 – competição que o Santos acabou conquistando dois dias depois, com uma vitória esmagadora sobre o mesmo Botafogo, no mesmo Maracanã, por 5 a 0.
Campeão no peito e na raça
Em 27 de março de 1966, um domingo, no Pacaembu, diante de 43 602 torcedores, o Santos empatou sem gols com o Corinthians e se tornou campeão do Torneio Rio-São Paulo pela quarta vez em sua história.
Era o décimo terceiro confronto entre santistas e corintianos em partidas válidas pelo torneio interestadual. O histórico era de total equilíbrio: cada equipe havia vencido cinco vezes e empatado em duas oportunidades. Contudo, o Santos não perdia para o Corinthians em jogos pelo Rio-São Paulo havia cinco anos. Pelo Campeonato Paulista, o tabu completara nove. O clube do Parque São Jorge não iria vender fácil o sucesso ao seu arquirrival.
Durante os vinte primeiros minutos da partida o Corinthians tomou a iniciativa e partiu para o ataque, impulsionado pela sua torcida que vibrava a cada investida da equipe. O Santos mudou sua postura defensiva e passou a ameaçar a meta do goleiro Heitor, mas eram os pontas Gilson e Mané Garrinha, em atuação brilhante, que levavam mais perigo à meta santista.
Aos 34 minutos, o cenário mudou. O Santos teve a expulsão de Coutinho, após agressão ao meia Edson, e Mengálvio pela reclamação do lance. Reduzido a nove jogadores, o Peixe articulou o sistema defensivo para bloquear a pressão do adversário, em ampla superioridade numérica.
Quando o primeiro tempo se encaminhava para o fim, o lance capital do jogo. Zito derrubou Garrinha na área e o árbitro Ethel Rodrigues marcou pênalti. Flávio atirou forte e Laércio defendeu parcialmente. No rebote, o atacante arrematou por cima da trave.
As equipes voltaram para a etapa complementar com a mesma intensidade. Laércio se destacava nas tentativas corintianas e o Santos buscava o contra-ataque com Lima e Toninho. O time de Vila Belmiro lutou bravamente, resistiu e sustentou o empate que lhe garantiria o título.
Com a vitória do Botafogo sobre o Vasco, na noite do mesmo domingo, no Maracanã, por 3 a 0, os quatro alvinegros – Santos, Corinthians, Vasco e Botafogo – terminaram empatados na liderança e foram declarados campeões.
Para obter esse empate que valeu o título, o Santos formou com Laércio, Carlos Alberto, Oberdan, Haroldo e Zé Carlos; Zito e Mengálvio; Dorval (Lima), Coutinho, Toninho e Edu (Joel Camargo). O técnico era Luiz Alonso Perez, o Lula.
O clube disputou nove partidas no torneio, com quatro vitórias, três empates e duas derrotas. Marcou 18 gols e sofreu 11. Toninho Guerreiro, com cinco gols, foi o artilheiro da equipe.
Antes mesmo da última rodada, já vislumbrando a possibilidade de empate na liderança, as federações de São Paulo e Rio tomaram a decisão de aceitar mais de um campeão caso três times ou mais terminassem empatados em pontos. A razão era a falta de datas e a convocação da Seleção Brasileira para os amistosos visando a Copa do Mundo de 1966.[:]