Coutinho, O Gênio da Pequena Área 

Por Guilherme Guarche, Centro de Memória 

Foi na cidade de Piracicaba, conhecida como A Noiva da Colina, distante 150 km a noroeste da capital paulista, que nasceu no dia 11 de junho de 1943, uma sexta-feira de outono, o garoto Antônio Wilson Honório, um dos melhores centroavantes que o futebol brasileiro viu atuar. 

O seu destino começou a ser traçado no mundo do futebol na partida preliminar de um jogo do Santos em Piracicaba, entre os times infantis do XV de Piracicaba e o Palmeirinha, onde o garoto Coutinho com apenas doze anos jogou e marcou o gol da vitória.

Observado atentamente pelo técnico Lula, após a partida Coutinho foi procurado no vestiário do Palmeirinha e recebeu o convite para fazer testes no Santos, contudo o garoto disse que seu pai, Valdemar Honório, não deixaria que ele viajasse para treinar no Alvinegro Praiano. 

Lula não se esqueceu da jovem promessa piracicabana e dois anos depois, o jovem Coutinho com apenas 14 anos, onze meses e seis dias fez sua primeira participação na equipe principal do Peixe na cidade de Goiânia na vitória por goleada do Santos pelo placar de 7 a 1 diante do Sírio Libanês, no Estádio Pedro Ludovico, no dia 17 de junho de 1958. 

Nessa partida amistosa Coutinho marcou também o seu primeiro gol com a camisa santista e o time praiano escalado por Lula formou com Manga (Laércio), Getúlio (Pinduca) e Dalmo; Feijó, Ramiro e Fioti; Dorval, Álvaro, Guerra, Raimundinho, Jair Rosa Pinto (Coutinho) e Hélio. 

Essa apresentação pioneira do garoto Coutinho, o torna até os dias atuais como sendo o mais jovem jogador a envergar a camisa da equipe principal do Santos. Depois dele Ângelo Gabriel e Pelé – ambos com 15 anos – são os mais novatos atletas a jogarem ainda bem jovens pelo Alvinegro. 

A origem do apelido 

O apelido Coutinho veio porque sua mãe o chamava de “Coto de gente” devido a sua pequena estatura quando criança. Ao chegar no Santos o radialista Ernani Franco o aconselhou a usar o apelido de Antoninho, numa homenagem ao Arquiteto da Bola, Antônio Fernandes. Ele, no entanto, não gostou da ideia e adotou o apelido de Coutinho como era chamado pelos amigos em sua terra natal. 

O futebol cadenciado e executado com perfeição deu ao garoto uma vaga na equipe santista, que ia aos poucos se aperfeiçoando e conquistando títulos. Sua primeira e inesquecível conquista foi o pioneiro título do Torneio Rio-São Paulo em 1959, vencido pelo Peixe no Pacaembu na partida final diante do Vasco da Gama, pelo placar de 3 a 0. 

Coutinho, nessa memorável partida, marcou dois e Pelé um gol no ataque que tinha a seguinte formação: Dorval, Jair Rosa Pinto, Coutinho, Pelé e Pepe. Um ataque que deixou saudade em muitos torcedores da velha guarda do Campeão da Técnica e da Disciplina. 

A calma dentro das quatro linhas deu a ele o apelido merecido de “O Gênio da Pequena Área”, e as tabelinhas feitas com Pelé se tornaram célebres e famosas no futebol mundial. Ele foi, segundo o Rei, o seu parceiro ideal e perfeito no período em que jogaram juntos no Santos. 

Um dos seus 368 gols marcados no Peixe é uma obra-prima e foi pintado na partida que deu o primeiro título de Campeão Mundial Interclubes ao Alvinegro, em Lisboa diante do Benfica na vitória por 5 a 2, no Estádio da Luz na capital portuguesa. 

Foi o terceiro tento santista; um gol para ser visto e revisto pelos amantes do futebol-arte: a bola veio cruzada da direita pelo Rei Pelé e o centroavante Coutinho com toda a calma do mundo esperou que ela chegasse aos seus pés e com um toque sútil mandou a pelota para o fundo das redes do goleiro Costa Pereira que a viu entrar mansamente na sua meta. 

Sobre o seu colega de equipe Paulo César de Araújo, o Pagão, por quem Coutinho nutria uma verdadeira admiração ele falou que: “Pagão, foi o melhor centroavante que eu vi jogar. Aprendi tudo com ele, só não aprendi a me machucar muito, por isso eu joguei, por isso o substitui. Ele não ia para o pau, por exemplo, ele driblava de longe, mas de longe derrubava o cara”.  

A merecida convocação para a Seleção Brasileira que ganhou a Copa do Mundo em 1962, no Chile, o deixou envaidecido, pois era o reconhecimento por seu futebol e pelo desempenho que tinha jogando pelo Alvinegro. 

Campeão Mundial no Chile 

Ele só não foi o titular da equipe brasileira na Copa, pois se contundiu e acabou perdendo a vaga na posição para Vavá, o Peito de Aço, mesmo não tendo participado de nenhuma partida ele é considerado como campeão mundial pelo Brasil. Pelo Selecionado Nacional jogou 13 partidas e marcou seis gols. 

Devido a problemas de peso sua carreira foi aos poucos se complicando, a obesidade o perseguiu por muito tempo, a ponto de perder a camisa nove no Santos para o companheiro de equipe Toninho Guerreiro.

No ano de 1968, insatisfeito com a reserva na equipe praiana, foi emprestado para o Vitória da Bahia. Depois em 1969, quando o técnico Lula dirigia a Portuguesa de Desportos, foi para o Canindé, até retornar ao Santos no ano seguinte. 

Na sequência, em 1971, foi jogar no Atlas do México, e nos dois seguintes defendeu as cores do Bangu. No ano de 1973 encerrou a carreira jogando na equipe paulista do Saad. 

O professor Coutinho 

Aceitou o convite feito pelo seu amigo Zito e passou a dirigir as equipes de base do Santos, onde passou a trabalhar e depois em 1981 atuou como técnico em 16 partidas e no ano de 1995 foi o treinador em uma só partida substituindo Joãozinho na partida diante do Fluminense. 

Coutinho jogou pelo Santos 450 partidas nos anos de 1958 a 1967, e depois de 1969 a 1970, marcando pelo time de Vila Belmiro 368 gols, sendo o 3º maior artilheiro na história santista e o 10º jogador que mais partidas jogou pelo Peixe. 

Conquistou nesses anos os seguintes títulos: Campeonato Paulista nos anos de 1960/61/62/64/65 e 1967, Torneio Rio-São Paulo nos anos de 1959/63/64 e 1966, Campeonato Brasileiro nos anos de 1961 a 1965, Campeonato das Taças Libertadores e dos Mundiais Interclubes nos anos de 1962 e 1963, além de vários torneios e outras taças importantes. 

Sobre ele, o Rei Pelé disse: “Querido Coutinho, Deus coloca as pessoas no caminho da gente e não diz qual a razão, Mas eu agradeço a Deus por ter colocado você ao meu lado no time do Santos, e agora tê-lo como irmão”. 

Nas palavras de Tostão: “Romário, Ronaldo, Reinaldo e Coutinho foram os quatro melhores centroavantes que vi atuar. Os três primeiros eram muito rápidos e voltavam até a intermediária para partir em direção ao gol, driblando, tabelando ou recebendo a bola na frente, nas costas dos zagueiros. Já Coutinho jogava em pequeníssimos espaços, perto da área. As tabelinhas entre Coutinho e Pelé, foram as mais bonitas e mais famosas do mundo. Coutinho se movimentava em um ou dois metros, recebia a bola e, antes do zagueiro antecipar, tocava de primeira para Pelé, que voltava para Coutinho, que voltava para Pelé, até um dos dois fazer o gol. Coutinho era um centroavante fino e que, raramente fazia um gol de longe ou com um chute forte. Seus toques eram curtos e precisos. Às vezes, a bola nem balançava as redes. Coutinho tratava a bola com tanto carinho, o que é raro no centroavante, que ela, agradecia e seduzida parecia beijar seu pés”. 

O adeus 

Coutinho, o parceiro ideal do Rei Pelé, faleceu em Santos, vítima de problemas decorrentes da Diabetes, no dia 11 de março de 2019. O seu velório foi realizado no Salão de Mármore da Vila Belmiro e o carro fúnebre deu a volta no Estádio Urbano Caldeira, antes de seguir para o Memorial Necrópole Ecumênica, onde foi sepultado. 

Pular para o conteúdo