Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória
Nem só de grandes atacantes viveu o Santos em sua fase áurea. Deve-se dar valor também ao sistema defensivo do clube que nos momentos cruciais das partidas segurava os adversários, dava tranquilidade ao meio de campo e municiava os jogadores ofensivos para que buscassem os gols e as vitórias.
Não se pode negar que o clube tem e teve um grande DNA ofensivo e destacava-se no quesito gols, uma verdade inconteste. No entanto, teve o elenco praiano, além dos ataques devastadores e detentores de muitos recordes na história, ótimos jogadores que formavam na defensiva, e hão de ser lembrados pelo desempenho na formação da retaguarda santista.
Um desses defensores foi Francisco Ferreira de Aguiar, o Chico Formiga, que teve participação primordial em diversas partidas e conquistas de títulos do Santos.
Nasceu na mineira Araxá, numa terça-feira, dia 11 de novembro de 1930, mesmo dia em que foi instituído o Governo Provisório da República Brasileira.
Formiga começou jogando na equipe juvenil do Cruzeiro Esporte Clube, em maio de 1950. Foi na equipe de Minas Gerais que ele ganhou o apelido de “Formiga”, devido ao físico franzino e não como confundem muitos torcedores que creditam à cidade mineira de Formiga, a origem do apelido.
Chico Formiga chegou ao Santos no mês de maio de 1950, pelas mãos do torcedor santista José Aflalo que o indicou a diretoria do Peixe. O seu desempenho agradou ao técnico Artigas que mais do que depressa o lançou na equipe profissional.
A primeira partida no time principal ocorreu em seu estado de origem, no amistoso contra a Seleção de Juiz de Fora, alusivo as festividades do primeiro centenário daquela cidade mineira, em 28 de maio de 1950.
O Peixe, vice-campeão Paulista de 1948, venceu a Seleção de Juiz de Fora pelo placar de 2 a 1, com gols de Antoninho e do artilheiro Odair. Artigas mandou a campo a seguinte formação: Robertinho, Hélvio e Expedito, Nenê, Telesca e Formiga (Pascoal); Alemãozinho, Antoninho, Pascoal (Nando), Odair e Pinhegas.
Buscando ganhar espaço na zaga praiana, Formiga revezava entre a reserva e condição de quarto-zagueiro titular ou também atuando como médio-volante. Seu bom nível técnico aliado à classe que tinha quando desarmava e saia de cabeça erguida em direção ao setor ofensivo da equipe eram as suas principais qualidades.
Na temporada de 1952, Chico Formiga começou como titular, jogando como quarto-zagueiro, ou como médio-volante, se tornando uma referência defensiva, sendo eleito como um dos melhores do setor no Campeonato Paulista. Foi um dos mais importantes jogadores no time Bicampeão Paulista de 1955/56.
A ida para o Palmeiras e o retorno ao Santos
Por motivos puramente financeiros, precisava ajudar seu pai que não estava bem de saúde, aceitou ser negociado como o time do Palmeiras, no início de 1957, e teve seu passe negociado pelo Santos por dois milhões de cruzeiros antigos, mais a renda de um jogo entre o Peixe e o time do Parque Antártica. Na transação entraram em definitivo os passes do meia Jair Rosa Pinto e do goleiro Laércio José Milani.
Na equipe esmeraldina ficou atuando até o ano de 1959, quando então decidiu voltar ao time de Vila Belmiro, formando no grande esquadrão que o Peixe havia montado e conquistando o Torneio Rio-São Paulo de 1959, mais três Campeonatos Paulistas, dois Campeonatos Brasileiros, a Copa Libertadores e o Mundial Interclubes de 1962.
Sua última apresentação pelo Peixe foi no dia 9 de dezembro de 1962, em partida válida pelo Campeonato Paulista contra a Esportiva de Guaratinguetá, que terminou com a derrota santista pelo placar de 2 a 1, no Estádio Benedito Meirelles.
Formiga, o excelente quarto-zagueiro e produtivo médio-volante, jogou 410 partidas entre os anos de 1950/57 e 1959/1962 marcando dois gols. É o décimo sexto jogador que mais vezes defendeu a camisa do Alvinegro. Na Seleção Paulista jogou sete partidas. Na Seleção Brasileira disputou enquanto esteve no Santos, 15 partidas.
Uma carreira vitoriosa como técnico
Ao término da carreira como jogador, Formiga começou a exercer a função de técnico na equipe infantil do Santos e anos mais tarde trabalhou como auxiliar e depois como treinador da equipe principal deixando seu nome inscrito na história do Alvinegro Praiano na categoria dos mais vitoriosos técnicos.
Dirigiu a equipe santista em três oportunidades a primeira no período de 1978/79, a segunda em 1982/84, e a última em 1986/87. A principal foi quando ganhou o 13º título paulista no ano de 1978 que terminou em 1979. O primeiro título importante depois da “Era Pelé”.
Nessa conquista marcante Formiga comandou a equipe e se referia aos jogadores como “meus meninos”, daí surgiu a expressão “Meninos da Vila” para designar a equipe composta por Nílton Batata, Juary, Pita, João Paulo e outros jovens que subiram da base santista.
Em entrevista publicada na revista Placar, em 2 de fevereiro de 1979, o treinador revelou que para chegar ao título usou de muita simplicidade, sem procurar inventar nada de milagroso: “Não adianta ficar borrando o quadro-negro com esquemas complicados. Os meninos querem apenas jogar. Se inventar muito não funciona!”.
Chico Formiga também dirigiu o Santos no vice-campeonato brasileiro de 1983. Ele foi o sexto treinador que mais dirigiu o Alvinegro Praiano. No total, comandou a equipe em 250 partidas, com 114 vitórias, 80 empates e 56 derrotas.
O ídolo santista faleceu vítima de infarte, em São Vicente, no dia 22 de maio de 2012, aos 81 anos, exatamente 62 anos depois de sua chegada à Vila Belmiro, em 22 de maio de 1950.