(Foto: Ivan Storti/Santos FC)
Esta semana têm sido uma das mais difíceis para todos os amantes do esporte, com o trágico acidente envolvendo o avião que levava a delegação da Chapecoense, jornalistas e convidados para o jogo mais importante da história da Chape: a final da Copa Sul-Americana. Diversas homenagens, de vários clubes do Brasil e do Mundo ganharam as redes sociais, com mensagens de força aos familiares das vítimas fatais e pronta recuperação aos sobreviventes.
O Santos FC também prestou e segue, enlutado, prestando suas homenagens. Dessa vez, o atacante Ricardo Oliveira como capitão da equipe, falou em nome do grupo de jogadores sobre o trágico acidente.
Santos FC: O que você, como um dos mais experientes jogadores do futebol brasileiro e capitão do Santos FC, têm a dizer em um momento tão difícil como esse para o futebol e para o povo brasileiro, de uma forma geral:
Ricardo Oliveira: Acho que a palavra mais apropriada para esse momento é dor. Eu expressei isso por volta das 7h (de segunda-feira), quando eu acordei para levantar meus filhos para irem à escola e, com o hábito de mexer no telefone tive conhecimento. Mas ainda eram as primeiras informações e eu não imaginava que fosse algo naquela proporção. Na minha cabeça, imaginava que o avião tivesse feito um pouso forçado ou algo do tipo. Mas, não consegui mais pregar o olho, acompanhando as atualizações. A gente vive isso toda a semana, todos os meses, todos os anos. Sou profissional há 16 anos, indo para cima e para baixo. Já passei por alguns sustos e você tem que ir porque é o seu trabalho. Lamento muito pela carreira desses atletas ter sido interrompida, segundo algumas informações, por irresponsabilidade. Não conheço muito disso (aviação). Mas, vamos lendo e algumas pessoas competentes para fazer algum tipo de avaliação falam dos riscos. E colocar em risco pessoas que têm família, têm sonhos e projetos de vida é muito complicado. Lamento porque perdi amigos e companheiros de profissão. Parece que foi ontem que estive com eles lá em Chapecó, quando eles foram no vestiário depois do jogo e a gente se abraçou, desejamos sorte na Sul-Americana. A nossa cabeça fica em um grande conflito, porque entendemos que corremos os mesmos riscos. Mas é muito triste ver os familiares passando por isso, é muito triste. Hoje o nosso ambiente de trabalho fugiu completamente daquilo que estamos habituados, que é um ambiente de alegria, de muita brincadeira. Foi um dia de tristeza muito grande pelo o que aconteceu. Agora, é desejar que Deus possa consolar todos os familiares e que eles tenham um ânimo para que eles consigam tocar a vida.
Santos FC: Claro que nada pode tirar essa dor, sobretudo dos familiares. Mas, talvez tenha sido a primeira vez que todos os clubes do Brasil e do Mundo se uniram por uma causa. De certa forma, você vê essa união como algo positivo, que pode dar um alento para os familiares e amigos?
Ricardo Oliveira: Muito bonito. Temos que engrandecer essa atitude dessas equipes. Desde os mais poderosos, até os mais modestos clubes. Os jogadores, como é o caso do Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar. Os times brasileiros colocando nas suas redes sociais as cores da equipe da Chapecoense. As mensagens de ânimo, luto e apoio, dizendo que todos vão se unir em prol deste clube. Para que eles possam se reerguer. Pedidos à CBF, à Conmebol, para que eles tenham vaga na próxima edição da Libertadores, para que não sejam rebaixados nos próximos três anos de Série A, até se reestruturarem. Tudo nesse momento. Qualquer tipo de apoio, manifestação favorável é importante. Pode chegar aos familiares como um apoio, de que todo mundo está, de alguma forma, se mobilizando para mostrar e demonstrar as condolências e que de alguma maneira esse clube que já está no coração de todos permaneça bem e as portas não se fechem. Afinal de contas, todo mundo é trazido para sua realidade de que a vida tem que ser vivida com muita intensidade. Temos que dar valor as coisas que antes não dávamos. O fato de você levantar e ter saúde, por exemplo, já é algo para você glorificar, agradecer à Deus. Então, tenho lido e, de fato estou muito feliz, porque as rivalidades foram deixadas de lado. Existe uma comoção nacional e mundial direcionada a um clube, uma cidade, os familiares, para que eles consigam se levantar e tocar a vida. Acho que quem ganha com isso é o futebol que, de fato, deve ser visto dessa maneira, como um espetáculo, onde todo mundo se doa, se ajuda, pode ganhar e que quando acontece uma tragédia todo mundo se volta a sua realidade e se coloca à disposição de alguma maneira para dar todo o suporte aos familiares.
(texto: Ranier Grandé)