Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Nesse dia 19 de dezembro faz 55 anos que o Santos derrotou o Flamengo na final da Taça Brasil e se tornou tetracampeão brasileiro. Depois de golear por 4 a 1 no Pacaembu, o Alvinegro empatou sem gols com o rubro-negro no Maracanã e ergueu pela quarta vez consecutiva a taça de campeão nacional, assegurando o direito de ser o único representante brasileiro na Copa Libertadores de 1965.
Ao se ler sobre a Taça Brasil de 1964 o leitor menos familiarizado com a história do futebol brasileiro poderá estranhar os nomes de alguns clubes, hoje afastados da chamada elite nacional. Mas, como em todas as edições da Taça, tratavam-se de campeões de seu estado.
O Maringá fora campeão do Paraná em 1963, assim como o Alecrim do Rio Grande de do Norte, o Cruzeiro do Sul de Brasília, o Goytacaz do Estado do Rio de Janeiro, o Metropol de Santana Catarina, o Fluminense de Feira de Santana da Bahia. É importante destacar que Rio de Janeiro e Guanabara eram estados diferentes. Em 1963 o campeão da Guanabara foi o Flamengo, que, assim como o Palmeiras, campeão de São Paulo, entrou nas semifinais da Taça Brasil.
Mesmo tricampeão brasileiro no ano anterior, o Santos teve de começar a competição de 1964 pelas quartas de final, já que não foi campeão estadual em 1963. Seu adversário, o Atlético Mineiro, campeão da chave Sul, havia passado pelo Metropol, de Criciúma, Santana Catarina, por 1 a 0 e 2 a 1.
Tricampeão catarinense em 1960/61/62, o hoje desconhecido Metropol era uma equipe de respeito, que na final de sua chave havia derrotado o Grêmio por 1 a 1 e 2 a 0. Contra o Atlético Mineiro, porém, foi impossível repetir a façanha, e o bravo time catarinense, hoje tentando voltar ao regime profissional, perdeu por 0 a 1 e 1 a 2.
Mas o Santos era o Santos, e passou pelo Atlético com duas goleadas: 4 a 1 no Estádio Independência e 5 a 1 no Pacaembu, classificando-se para enfrentar o Palmeiras em uma das semifinais. Na outra partida pelas quartas, o Ceará derrotou o Fluminense de Feira de Santana por 1 a 2, 2 a 0 e 2 a 0, e na semifinal enfrentou o Flamengo.
Santos e Flamengo garantiram seus lugares na final com duas vitórias. O Alvinegro passou pelo rival Palmeiras com incontestáveis 3 a 2 e 4 a 0; o rubro-negro venceu o Ceará por 2 a 1 e 3 a 1. Então, a CBD estabeleceu que o primeiro jogo da decisão seria em São Paulo e o segundo no Rio de Janeiro. Em ambos o árbitro seria o carioca Armando Marques. Uma curiosidade: das cinco Taças Brasil que venceu, o Santos só fez o segundo jogo em casa em 1961, quando goleou o Bahia por 5 a 1.
Chuva, campo encharcado, e o desempenho de sempre
Na noite de quarta-feira, 16 de dezembro, apenas três dias depois de vencer a Portuguesa por 3 a 2 e conquistar o título paulista, o Santos adentrou o Pacaembu para iniciar a decisão do título brasileiro contra o Flamengo. Continuava a chover e o campo estava cheio de poças d’água, o que, teoricamente, favoreceria o time menos técnico.
Porém, o Alvinegro tinha uma garra e uma determinação nos jogos decisivos que superavam todas as dificuldades. E ainda tinha Pelé, claro, que marcou aos 20 minutos, mesmo cercado por três jogadores, e voltou a marcar aos 14 minutos da segunda etapa, cobrando falta.
O atacante Paulo Choco, que entrara no lugar de Berico, aproveitou uma rebatida de Gylmar, em falta cobrada por Evaristo, e fez um gol para o campeão da Guanabara aos 27 minutos. Mas cinco minutos depois Coutinho marcou o terceiro para o Santos, concluindo ótima jogada de Pelé, e aos 39 minutos Pelé chutou de fora da área para fazer 4 a 1, definindo o marcador.
A vitória deu ao Santos a vantagem de jogar pelo empate o jogo de volta, em 19 de dezembro, no Maracanã. Na noite quente de sábado, 52.508 torcedores compareceram para assistir à grande final. Mas não viram gols. Cansado por fazer três jogos e decidir duas competições em apenas seis dias, o Santos se preocupou mais com a defesa e garantiu o 0 a 0 que lhe garantiu o tetracampeonato brasileiro.
Nessa noite Lula escalou o time com Gylmar, Modesto e Geraldino; Ismael, Haroldo e Zito; Toninho (depois Lima), Mengálvio, Coutinho e Pepe. O Flamengo foi escalado por Flávio Costa com Marco Aurélio (depois Renato), Murilo, Ditão, Ananias e Paulo Henrique; Carlinhos e Evaristo; Amauri, Airton (Berico), Paulo Choco e Carlos Alberto.
Ainda no vestiário o presidente santista, Athié Jorge Cury, anunciou que os jogadores receberiam um prêmio de 3,5 milhões de cruzeiros pelas conquistas dos títulos paulista e brasileiro de 1964. Só para se ter uma ideia de quanto esse valor representava na época, basta lembrar que um apartamento de um dormitório no bairro do Gonzaga, de frente para o mar, estava sendo lançado ao preço de 5,1 milhões.