Blocos de Carnaval acompanham nossa história

Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória
A história do Santos está intimamente ligada à existência de blocos carnavalescos, que desde o início do século passado, congregavam jogadores, dirigentes e boa parte dos torcedores do Alvinegro Praiano. O pioneiro deles foi o Flor do Ambiente, que entre os seus ilustres foliões contava com a alegria e simpatia de Urbano Caldeira, o patrono do clube.
Flor do Ambiente, o bloco do Urbano
No seu nascimento, a vida social do Santos Foot-Ball Club era agitada pelos grupos carnavalescos Celeste Aída, Grêmio Alvinegro e Viúvas do Soldado Desconhecido, todos compostos por sócios, simpatizantes e jogadores santistas.
Em 1928 surgiu o destacado Flor do Ambiente, fundado por Urbano Caldeira, Aloísio Boamorte, Álvaro Morgado, Antônio Bento de Amorim Filho, Alfredo Bompeixe, Luiz Vieira de Carvalho, Mário Sardinha, Feliciano Firmo Ferreira (Javali), Anacleto da Conceição, Artur Martins (Tutu), Antoninho Freitas Guimarães e Hermann Palmeira Martins.
No ano de sua fundação o Flor do Ambiente se exibiu com muita desenvoltura e organização nas ruas do centro histórico de Santos, e foi aplaudidíssimo não só pelas autoridades municipais, como pelos diretores e associados do Alvinegro.
Após cinco anos de fuzarca, o Flor do Ambiente deixou de existir em 1933, com a morte de seu sócio fundador Urbano Caldeira, conhecido no tríduo momístico como “Lorde Urbanidade”.
Além dos fundadores, seus principais participantes foram Juca do Violão, Araken Patusca, Nabor, Siriri, Renato Pimenta, “Fiffi Boxeur”, Maninho, Manoel Antônio Sá (Pipoca), Jarbas, Anacleto, Chico Tico-Tico, Oscar Figueiredo e Paulo Fernandes.
Sai a Flor, entra a Bola Alvinegra 
Criado para preencher a lacuna deixada pelo término do Bloco Flor do Ambiente, o Bloco da Bola Alvinegra foi fundado em 14 de março de 1937 por um grupo de 28 rapazes, quase todos associados e jogadores do Santos,   a saber: Ararê, Arary, Acary, Bompeixe, Bilu, Cândido de Freitas, Dadá, Dionísio, Figueira, Hugo, Horácio, Isaias, Ivã, Krausch, Moacir, Mário Pereira, Novo, Neves, Odil, Oswaldo, Omar, Osmar, Orlando, Pereira, Saci, Victor, Vadico e Velho. Além deles, o autor da bonita música do Bloco foi o violinista Mazinho.
A turma de foliões que ajudou a fundar o Bola Alvinegra era comandada por Virgílio Pinto de Oliveira, o Bilu, que além de jogador, foi também o técnico que levou o Santos ao seu primeiro título de campeão paulista, em 1935.
Muito exigente, Bilu obrigava os componentes do bloco a decorar as músicas que a serem cantadas nas apresentações do grupo. Na época, prevalecia o uso dos instrumentos de corda, e o bloco se apresentava como um grupo de seresta. Em sua primeira apresentação, no Carnaval de 1937, o Bola Alvinegra saiu com 36 integrantes, todos fantasiados de palhaços brancos e com roupas exageradamente largas.
Nas bodas de prata do Santos, na sede da rua Itororó, 27, o Bola se apresentou no segundo andar, em um recital com muitas evoluções e um excelente repertório musical, tornando-se o ponto alto das festividades na sede santista.
Após as apresentações no desfile de Momo, o bloco, que em sua maioria era composto por integrantes da elite da cidade, se dirigia aos mais refinados clubes da cidade, como o Clube XV e o Tênis Clube, além de frequentar também os salões do Parque Balneário Hotel, no coração do elegante bairro do Gonzaga.
A melhor época do grupo foi logo após a sua fundação, quando sua sede era na rua Itororó, 27. O Bola não participava de disputas carnavalescas e geralmente abria o desfile carnavalesco nas ruas do centro histórico ou na avenida da praia. Dois dirigentes que ajudaram muito a continuar a tradição do Bloco foram Walmir Rocha e Victor Lovecchio, que garantiram a continuidade do bloco até a década de 1960.
Era comum, após o desfile na praia, o Bola Alvinegra se apresentar na residência do presidente Athié Jorge Coury, no canal 3, e depois seguir até a casa do dirigente Modesto Roma, na rua Alexandre Martins, levando consigo alguns jogadores da equipe principal do time santista.
Depois de uma parada de 13 anos, coube ao trabalhador portuário e atleta laureado do Santos Juarez Guimarães a tarefa de continuar com as apresentações do Bola Alvinegra. As cores preta e branca e o hino do Santos estavam entre as tradições do bloco, que se apresentou no Carnaval santista de rua até meados da década de 1980. Hoje, porém, o Bola é só saudades na memória dos foliões e torcedores do Santos Futebol Clube.
Bloco das Havaianas, dos campeões de 1955
O “Bloco das Havaianas da Vila Belmiro”, organizado por jogadores, diretores e associados do Santos FC, surgiu em 1955, ano em que o time seria campeão paulista pela segunda vez em sua história. Valter Vasconcelos, o craque da camisa 10 antes de Pelé, era um dos mais animados do grupo e foi ele quem mandar confeccionar as fantasias do bloco em papel crepom.
Alguns dos componentes preferiram sair às ruas vestidos com trajes bem diferentes, cada um a seu modo fantasiando-se com muita originalidade. Eram roupas femininas, farrapos, fantasias de nenês e muitas outras invenções típicas de um grupo bem entrosado e alegre, disposto a curtir numa boa os dias de Carnaval.
Naquele único ano em que foi às ruas o Bloco das Havaianas desfilou na avenida da praia e foi bem ovacionado pelo público. O responsável pelo caminhão do chope que abastecia a turma era, como não poderia deixar de ser, o craque Vasconcelos, que ao fazer às vezes de garçom, servia um e tomava dois copos.
O povo aplaudiu e se divertiu bastante com o Elesbão vestido de bebê gigante, tomando mamadeira com uísque, dentro de um enorme carrinho de nenê, empurrado pelo ponta Alfredinho vestido de noiva. Mas tudo com muito respeito e alegria.
A seguir, alguns dos foliões do bloco: Tite, o Lorde Cantor; Hélvio Piteira , Vasconcelos, Alfredinho, Elesbão, Waldemar, O Lorde Martelo, Cássio Nogueira, Bereco, Carlinhos Roma, Salu da Bandinha, Chico Formiga,  Urubatão, e Zito, o Lorde Capitão.
Em tempo: A música do Bloco das Havaianas da Vila Belmiro serviu de inspiração a Carlinhos Roma para compor o hino oficial do Santos , em 1957.

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