Itu, pequena no nome, mas grande historicamente no interior paulista, conhecida como “O Berço da Republica”, distante 102 km da capital, sendo famosa por nela terem residido muitos “barões do café” é também uma localidade privilegiada, pois lá veio ao mundo no dia 1º de agosto de 1904, o garoto Athié Jorge Coury.
E foi no Colégio São Luís, em sua terra natal, que ele cursou o primário e o secundário, onde sua família tinha plantação de café. Já na adolescência foi residir em Piracicaba, também no interior, onde cursou até o segundo ano de agrimensura, mas foi em São Paulo no Colégio Mackenzie que ele se diplomou em Economia.
Começou sua carreira defendendo a meta do Esporte Clube Sírio e por ser amigo de vários atletas foi convencido a jogar no Santos por dois dirigentes santistas, Ricardo Pinto de Oliveira e Zeca Ratto.
Ao aceitar descer a serra em direção à Baixada Santista, de imediato se tornou sócio de uma corretora de café, época em que o país era o maior produtor e exportador de sementes da fruta do café.
Sua filiação ao Santos ocorreu no dia 9 de setembro de 1927 e seu proponente foi o presidente Guilherme Gonçalves atendendo a um pedido do diretor-geral de esportes Urbano Caldeira.
Um goleiro arrojado e destemido
Aos 23 anos fez sua primeira participação na meta santista assumindo a vaga deixada por Tuffy que fora expulso do Alvinegro junto com o centroavante Feitiço, Tuffy não mais retornaria ao Santos seguiria sua carreira jogando em times da capital, já Feitiço foi perdoado e voltou no ano seguinte.
Na partida de estreia de Athié defendeu um pênalti e a confiança do grupo que ficaria no final do Campeonato Paulista como “O time do ataque dos 100 gols”. E curiosamente a equipe contra a qual fez sua estreia no dia 09 de outubro de 1927 fosse a mesma que 30 anos depois Pelé também jogava pela primeira vez com a camisa do Santos, contra o Corinthians de Santo André.
Naquele domingo distante o Alvinegro goleou a equipe local pelo placar de 9 a 0. Feitiço marcou cinco gols, Siriri três e Camarão um. O time formou com: Athié, Bilú e David; Alfredo, Júlio e Hugo; Omar, Camarão, Siriri, Feitiço e Passos.
Na Revolução Constituinte participou como segundo-tenente
Nos anos seguintes era sempre convocado para atuar pela Seleção Paulista e era nome certo para goleiro principal do Escrete Nacional na Primeira Copa do Mundo de Futebol, em 1930, no Uruguai.
Porém devido as divergências entre os responsáveis pela CBD e os dirigentes paulistas, nenhum jogador do Estado de São Paulo pode ser convocado para defender a Seleção Brasileira na Copa do Uruguai e Athié acabou perdendo a oportunidade de jogar no país vizinho.
Durante a Revolução Constituinte de 1932, ele foi segundo-tenente comissionado e lutou defendendo o Estado Paulista. Fez parte dos bravos atletas-soldados, que se empenharam para que a Constituição fosse respeitada pelo então presidente Getúlio Vargas.
Sua última apresentação na meta do Alvinegro ocorreu em 15 de abril de 1934, um domingo, na derrota para o Palestra Itália, hoje Palmeiras, por 3 a 0. Em partida do Campeonato Paulista, na Vila Belmiro.
Entre os anos de 1927 e 1934 Athié vestiu a camisa do clube que tanto amou em 172 oportunidades. Sua posição foi herdada por Cyro Maciel Portieri, apelidado de “Gato Preto”.
De diretor de esportes a eterno presidente
Após atuar como diretor de esportes, Athié se tornou o 22º presidente do Santos em 27 de fevereiro de 1945, sucedendo a Antônio Ezequiel Feliciano da Silva. Um de seus vice-presidentes era Ulysses Silveira Guimarães (*06/10/1916 + 12/10/1992), que depois se tornaria político eminente e a partir de 1988 seria conhecido como o “Senhor Diretas”.
No final de 1946 a ousadia do dinâmico presidente levou o Alvinegro a uma verdadeira epopeia em gramados do Norte/Nordeste do Brasil. Foi a maior excursão de um time de futebol no País. A delegação visitou os Estados de Pernambuco (três jogos), Rio Grande do Norte (dois), Ceará (quatro), Maranhão (três) e por último o Pará (três).
Em 1945 Athié se filiou ao Partido Social Progressista (PSP), pelo qual se elegeu vereador em Santos, trabalhando na Câmara Municipal de 1947 a 1949. Durante esse período doou seus proventos a entidades assistenciais locais e também à Santa Casa de Santos.
Elegeu-se deputado estadual em 1950, exercendo o mandato em várias ocasiões até 1963, quanto foi proclamado deputado federal, permanecendo no Congresso Nacional até 1982.
Montou o melhor time do mundo
Durante o seu longevo período à frente do clube, o Santos conquistou as maiores glórias que um clube de poderia conquistar, não só pelos títulos – como os bicampeonatos da Copa Libertadores e do Mundial –, mas pelo futebol belo e apaixonante, marcado pela ofensividade.
Resistiu com denodo às ofertas tentadoras de clubes estrangeiros que queriam contratar os principais ídolos do alvinegro, principalmente o Rei Pelé. Nessa fase áurea, o Santos peregrinou mundo afora, se exibindo nos quatro cantos da Terra para estádios lotados.
No Continente Africano o time por ele presidido parou uma guerra e promoveu a paz em regiões onde o Rei Pelé era adorado como uma divindade. A revista argentina El Gráfico elegeu o time bicampeão mundial em 1962/63 como o melhor de todos os tempos.
A equipe-base era formada por Gylmar; Mauro e Dalmo; Lima, Zito e Calvet; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. O técnico era Luís Alonso Perez, o Lula.
Na eleição para escolha do presidente santista, em fevereiro de 1971, Athié perdeu nas urnas para Vasco José Faé, e decidiu então, muito a contragosto, se afastar da vida política do Santos, dedicando-se exclusivamente à sua carreira como representante do povo no Congresso Nacional.
Presidiu a Bolsa de Café de Santos e colaborou com o então prefeito Paulo Gomes Barbosa na conquista do terreno que pertencia ao Instituto Brasileiro de Café, (IBC), na entrada da cidade de Santos, onde hoje está o Complexo Chico Formiga.
Em sua homenagem, o clube deu seu nome ao ginásio de esportes inaugurado no estádio Urbano Caldeira em 1950. Athié recebeu também o título de Presidente Emérito do Santos.
O Governo Federal deu seu nome ao Conjunto Habitacional no bairro do Saboó, em Santos. Já o Estadual denominou um colégio do bairro da Aparecida de Olga Coury, mãe do presidente santista.
O maior líder do Alvinegro fora dos gramados faleceu numa terça-feira, em 1º de dezembro de 1992, aos 88 anos, no Hospital Beneficência Portuguesa, em Santos.