Odir Cunha, do Centro de Memória
O time do Santos se mantém apaixonante pela leva de garotos que surgem quando todas as esperanças de se manter uma equipe competitiva parecem perdidas. Esta sina, na verdade, o acompanha desde a sua fundação. Por isso, pode-se dizer que Arnaldo Silveira foi o primeiro presente dos deuses do futebol ao Alvinegro Praiano.
Nascido na progressiva Santos ainda no século XIX, em 6 de agosto de 1894, Arnaldo Patusca da Silveira, sobrinho de Sizino Patusca, o primeiro presidente do Santos, e portanto primo de Ary e de Araken Patusca, era um jovem de 17 anos quando, ao lado de outros 38 estudantes e comerciários da cidade, fundou o time que se tornaria o melhor e mais conhecido no mundo.
Entre os fundadores havia outros bons de bola, como o driblador ponta direita Adolpho Millon, de 16 anos, mas Arnaldo se destacava não só pelo futebol objetivo e o chute forte, que o tornava um temido cobrador de faltas, mas também pela personalidade. Em uma época em que os homens amadureciam mais cedo, era o tipo de sujeito que assumia responsabilidades e por isso logo se tornou um líder da equipe.
Suas façanhas não podem ser esquecidas. Em 15 de setembro de 1912 marcou o primeiro gol oficial na história do Santos, na vitória por 3 a 2 sobre o Santos Athletic Club, no campo da Avenida Ana Costa. Em 22 de junho de 1913 jogou muito e marcou dois gols na goleada de 6 a 3 sobre o Corinthians, em São Paulo, no primeiro clássico paulista.
Em uma ascensão só comparável aos melhores Meninos da Vila, aos 20 anos já era titular da Seleção Brasileira vencedora da Copa Roca, contra a Argentina, no primeiro título do futebol brasileiro, e aos 25 capitaneou a Seleção campeã do Sul-americano de 1919, até ali a conquista mais importante do futebol nacional.
De baixa estatura, tinha o apelido de Miúdo. Seu futebol, entretanto, era enorme. Defendeu o Alvinegro Praiano de 1912 até 1922. Em 132 jogos marcou 74 gols, ou em 56% das vezes em que entrou em campo. Comandou o time nos títulos santistas de 1913 e 1915.
Pela Seleção Brasileira, iniciando uma tradição que chegou a Mauro Ramos de Oliveira e Carlos Alberto Torres, teve a honra de capitanear o Escrete no título sul-americano de 1919, a primeira grande conquista do futebol nacional, tão importante na época como uma Copa do Mundo.
Ao abandonar os campos, trabalhou por muitos anos na área administrativa do Santos. Ao se aposentar, morou em Atibaia e em sua casa costumava hastear a bandeira do Santos, em homenagem ao clube que tanto amou. Faleceu em 24 de junho de 1980, aos 85 anos, na cidade de Santos.