Guilherme Guarche, Centro de Memória
Santos, sexta-feira, 7 de julho de 1905. Nesse dia veio ao mundo, em Santos, um menino que recebeu de seu pai, o comerciante Sizino Patusca, o nome Araken. Dezenove anos depois, em 1925, ganharia o apelido “Le Danger”, dado a ele pela imprensa francesa, maravilhada com o futebol veloz do garoto então pertencente ao clube da Vila Belmiro, emprestado ao CA Paulistano na pioneira e vitoriosa excursão em gramados europeus.
Nessa primeira viagem de um time brasileiro à Europa, o poderoso esquadrão do Jardim América, bairro elegante da capital paulista, jogou dez partidas em gramados do velho mundo, tendo vencido nove e perdido apenas uma. O jovem atleta Araken, então com 19 anos, jogou duas partidas pelo time alvirrubro, fazendo dupla de ataque com o lendário Friedenreich, e marcou dois gols.
Sua primeira partida no segundo quadro do Santos ocorreu de maneira curiosa. Ele tinha 15 anos e estava na Vila Belmiro para assistir a uma partida do Santos contra o Jundiaí FC, quando o ponta-esquerda Edgar da Silva Marques sentiu-se mal no aquecimento e o diretor de futebol Urbano Caldeira resolveu convidar Araken para ocupar a posição. O garoto se saiu tão bem que marcou os cinco gols santistas no empate de 5 a 5.
No time principal ele estreou aos 18 anos, em 4 de fevereiro de 1923, em um amistoso na Vila Belmiro diante do Paulista de Jundiaí. Dessa vez o Santos perdeu por 4 a 1 e Chico Massulo marcou o único gol do Peixe, que formou com Longobardi, Waldemar e Paulino; Merino, Marba e Renato; Martin, Araken, Chico Massulo, Cardoso e Edgard. Araken integrou o “Ataque dos 100 gols” no Campeonato Paulista. Em 16 partidas, a linha formada por Omar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista chegou à marca centenária, com média de 6,25 gols por jogo. Araken foi o artilheiro do campeonato, com 31 gols, marca jamais alcançada antes no estadual paulista. Na goleada sobre o Ypiranga por 12 a 1 ele marcou sete gols, outro recorde.
De personalidade forte, em 1929 Araken se desentendeu com o disciplinador presidente Antônio Guilherme Gonçalves, que havia suspendido os jogadores Bilu e Siriri por estes terem jogado pelo time da firma em que trabalhavam em um festival promovido pela Liga Santista de Futebol. Araken foi solidário aos jogadores e acabou sendo suspenso por 90 dias.
Os protestos de sócios e torcedores fizeram com que a suspensão fosse reduzida para 30 dias, mas Araken não quis mais permanecer na Vila Belmiro. Jogou a Copa do Mundo de 1930 como atleta da Confederação Brasileira de Desportos e depois fundou o São Paulo da Floresta, campeão paulista em 1931.
Mas Araken não poderia encerrar a carreira sem retornar ao seu Santos, clube em que tinham jogado seus irmãos Ararê e Ary Patusca e os primos Arnaldo e Oswaldo Silveira. Assim, em 1935, aos 29 anos, voltou à Vila Belmiro para comandar o time na conquista do título paulista daquele ano, o primeiro estadual do clube, marcando o segundo gol da vitória de 2 a 0 sobre o Corinthians, no Parque São Jorge.
Mais letrado do que a maioria dos jogadores, Araken escreveu o livro “Os Reis do Futebol”, narrando a pioneira excursão do Paulistano à Europa, em 1925. Sobre o período de 1926 a 1931, em que o Santos não chegou ao título paulista, apesar de ser considerado uma das melhores equipes do país, ele revelou, em uma entrevista:
“Nós éramos um time muito treinado e unido. O Santos daquela época foi, talvez, o time mais harmônico do Brasil. Era uma linha tão boa que quando se formava a Seleção Paulista, iam os cinco como titulares. Só não conseguimos chegar ao título porque os times da Capital armavam esquemas fora do campo”.
Araken Patusca jogou no Santos de 1923 a 1929 e depois de 1935 a 1937. Em 197 partidas marcou 184 gols, no período de 1923 a 1929 e, depois de 1935 a 1937. Faleceu em sua Santos em 24 de janeiro de 1990, com 84 anos.