Guilherme Guarche, do Centro de Memória
O jogador santista mais vitorioso depois da era Pelé faz aniversário. Ganhador de oito títulos oficiais pelo Santos de 2002 a 2012, neste 6 de julho o lateral-esquerdo Léo, o Guerreiro da Vila, nascido em Campos do Goiatacazes em 6 de julho de 1975, faz 45 anos. Com 456 partidas, ele também é o décimo jogador que mais vezes vestiu a camisa santista.
O curioso é que Léo não é o único craque da história santista a nascer nessa cidade do Norte do Estado do Rio de Janeiro. O primeiro foi seu tio-avô Augusto Vieira de Oliveira, o saudoso Tite, que brilhou no ataque santista dos anos 50 e 60 e faleceu em 26 de agosto de 2004, em Santos. Tite defendeu as cores branca e preta em 475 partidas, 19 a mais que seu sobrinho-neto Leonardo Lourenço Bastos. O interessante é que ambos só se conheceram quando Léo chegou à Vila Belmiro, em 2000.
No Santos, uma carreira vitoriosa
Léo começou jogando no juvenil da equipe de sua cidade natal, o Americano Futebol Clube. Em 1995 foi promovido ao time profissional, ficando no “Glorioso do Parque” por mais dois anos, até ser transferido, com outros dois jogadores, para o União São João de Araras, no Interior Paulista.
Em 1999 teve uma passagem rápida pelo Palmeiras, mas não foi aproveitado pelo técnico Luiz Felipe Scollari e saiu do clube sem fazer sequer uma partida oficial. Na temporada seguinte se transferiu para o Santos.
Na Vila Belmiro sua carreira ganharia uma dimensão maior e o consagraria com a camisa três do Santos, chegando a ser considerado pelos santistas um dos melhores laterais do time em todos os tempos.
Aos 25 anos estreou na equipe comandada pelo técnico Antônio Gilberto Maniaes, o Giba (falecido em São Paulo em 24 de junho de 2014). Em jogo na Vila Belmiro contra o time que anteriormente o rejeitara, o Palmeiras, Léo atuou em uma equipe formada por Carlos Germano, Michel (Júlio César), Preto, Sangaletti (Valdo) e o estreante Léo; Claudiomiro, Renato, Robert (Aílton), Caio Ribeiro; Edmundo e Dodô.
Naquele domingo, 27 de agosto de 2000, em que apenas 7.315 pagantes viram o clássico, o Santos perdeu por 3 a 2 (Edmundo marcou os gols do Peixe), mas, em uma entrevista após o jogo, Léo fez uma declaração que agradou aos torcedores:
Se depender de mim, vou deixar meu sangue para fazer o Santos campeão.
Apesar de ter apenas 1,65m, o lateral compensava a baixa estatura com muita garra e mobilidade. Quando conduzia a bola, ultrapassando o meio de campo e adentrando na defesa adversária, tornava-se um gigante na visão dos adversários.
Segunda geração dos Meninos da Vila
A grande conquista aconteceu em 2002, quando o Santos, após 18 anos sem um título importante, venceu o tão sonhado Campeonato Brasileiro. Com o técnico Emerson Leão no comando, o time ficou famoso como a segunda geração dos Meninos da Vila, pois era formado por muitos jovens vindos das categorias de base, como os astros Robinho e Diego.
O palco dessa vitória foi o Morumbi, em um domingo de verão, 15 de dezembro de 2002, dia em que o time de Vila Belmiro venceu o arquirrival Corinthians e conquistou o seu sétimo título de Campeão Brasileiro. Robinho, Elano e Léo marcaram os gols da vitória por 3 a 2 que garantiu ao Santos o bonito troféu, hoje está exposto no Memorial das Conquistas.
Coube ao lateral-esquerdo marcar o gol que fechou o placar, aos 47 minutos do segundo tempo, no último lance do jogo. Robinho recebeu um passe do próprio Léo, enganou Kléber e Vampeta, a bola espirrou para Léo, que acompanhava a jogada, este cortou para o meio, passando a bola da perna esquerda para a direita, e na altura da meia-lua soltou um pombo sem asa que fez explodir o estádio e dar início à festa santista.
O campeão brasileiro formou com Fábio Costa, Maurinho, Alex, André Luís e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego (Robert) (Michel); Robinho e William. A arbitragem foi de Carlos Eugênio Simon.
Na conquista do oitavo título brasileiro do Santos, em 2004, Léo foi o jogador que mais atuou na campanha, com 43 jogos. Nesse ano, repetindo o feito de 2001 e 2003, foi eleito o melhor lateral-esquerdo do Campeonato Brasileiro, conquistando a Bola de Prata da revista Placar.
Destaque no Benfica
Seu futebol chamou a atenção dos dirigentes da equipe portuguesa do Benfica, que o contrataram em meados de 2005 pela elevada soma, para a época, de €250.000 (duzentos e cinquenta mil euros). Seu futebol aplicado conquistou a simpatia e a admiração dos benfiquistas. Pelo time português ganhou os torneios de Dubai, Guadiana e Guimarães.
Recebeu o título de melhor lateral-esquerdo do futebol português em três temporadas: 2005/06, 2006/07 e 2007/08. No começo de 2009 rescindiu seu contrato com o time da Águia e voltou ao Brasil, assinando com o Santos um contrato de dois anos, renovado em 2011.
Mais títulos pelo Santos
Em sua volta à Vila Belmiro conquistou mais seis títulos significativos: três Campeonatos Paulistas, em 2010, 2011 e 2012; uma Copa do Brasil em 2010; uma Recopa Sul-Americana em 2012 e o mais importante de todos, a Copa Libertadores da América de 2011, obtida com a vitória de 2 a 1 sobre o Peñarol, no Pacaembu, na noite de 22 de junho de 2011.
Desses anos de sua volta o mais marcante foi 2010, pois formou em uma equipe que jogava um futebol alegre, envolvente e bem ofensivo, comandada por Neymar, Paulo Henrique Ganso e Robinho.
Em 24 de abril de 2014 não chegou a um acordo com os diretores do Santos para a renovação de seu vínculo e anunciou sua despedida dos gramados:
Meu agradecimento especial à grande nação santista. Afinal, foi por ela que disputei cada bola, vibrei com cada vitória e cada uma das grandes conquistas.
No Centenário da Vila, um tempo em cada equipe
Quando o estádio Urbano Caldeira completou seu primeiro século de existência o Santos promoveu uma partida festiva, convidando a equipe do Benfica, e aproveitou para prestar uma homenagem ao Guerreiro da Vila, que se despediu dos gramados atuando meio tempo para cada uma das grandes equipes que defendeu na carreira.
Realizado em um sábado, 8 de outubro de 2016, o jogo terminou empatado em 1 a 1, com o gol santista marcado ao final da partida pelo zagueiro Noguera (com ele o Peixe manteve o tabu de jamais ter perdido para o tradicional time português).
Dirigido pelo técnico Dorival Júnior, o Santos jogou com Vanderlei, (John Victor depois João Paulo), Victor Ferraz (Daniel Guedes), Luiz Felipe (Noguera), David Braz (Lucas Veríssimo) e Zeca (Caju); Thiago Maia (Léo Cittadini) (Fernando Medeiros), Renato (Yuri) (Matheus Oliveira), Jean Mota (Paulinho depois Joel) e Elano (Vecchio) (Walterson); Ricardo Oliveira (Giovanni depois Rodrigão e Léo) e Copete (Rafael Longuine (essas 18 substituições em uma única partida são mais um recorde santista).
Além de suas atuações marcantes por Santos e Benfica, Léo também foi convocado para a Seleção Brasileira, que defendeu em oito partidas, tornando-se campeão da Copa das Confederações de 2005.