Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Estatísticas por Gabriel Santana e Guilherme Guarche
Nesta terça-feira, 24 de setembro, comemoramos o aniversário de dois artilheiros essenciais para o bicampeonato paulista de 1955/56: o clássico Álvaro José Rodrigues Valente, nascido no Guarujá em 1931, e o raçudo Emmanuelle Del Vecchio, nascido em São Paulo três anos depois.
Revelado pelo Jabaquara, Álvaro chegou ao Santos em 1953 e logo na estreia – um amistoso contra o Flamengo, na Vila Belmiro, em 3 de março de 1953 – marcou três dos quatro gols da vitória santista por 4 a 3. Versátil, podia jogar tanto na meia como no comando do ataque e só deixou de atuar como centroavante a partir de outubro de 1953, quando a posição foi herdada por Del Vecchio, das divisões de base do Santos.
Em sua primeira partida no Santos, Del Vecchio já teve a companhia de seu identipartário. Ambos formaram no time que venceu o Comercial de São Paulo por 2 a 0, no Parque Antártica, pelo Campeonato Paulista. Del Vecchio, então com 20 anos, marcou o segundo gol aos 37 minutos do segundo tempo.
Ele e Álvaro estiverem presentes em dois jogos históricos do Santos: no empate de 1 a 1 contra o Gymnasia y Esgrima de La Plata, Argentina, em 21 de março de 1954, na primeira partida do Alvinegro Praiano no exterior, e em 15 de janeiro de 1956, na vitória de 2 a 1 sobre o Taubaté, na Vila Belmiro, que deu ao time o título paulista de 1955. Del Vecchio fez o gol contra o Gymnasia, o primeiro gol santista em terras estrangeiras, e Álvaro inaugurou o marcador do jogo contra o Taubaté.
Álvaro permaneceu no Santos de 1953 a 1959 e também em 1961. Em 1959 ele foi contratado pelo Atlético de Madrid e levou com ele o seu irmão Ramiro, também jogador do Santos. Ao retornar de Madrid, onze anos depois, fez mais uma partida no Santos em 1961, pelo Torneio Rio-São Paulo.
Del Vecchio vestiu a camisa alvinegra de 1953 a 1957 e em 1965 e 1966. Artilheiro do Campeonato Paulista de 1955, com 22 gols, em 1957 foi contratado pelo Verona, da Itália. Antes de voltar ao Santos atuou ainda por Napoli, Padova, Milan, Boca Juniors e São Paulo. Encerrou a carreira no Atlético Paranaense, em 1970, e entre 1984 e 1986 trabalhou como técnico do Santos e da Internacional de Limeira.
Estatísticas parecidas, temperamentos diferentes
Os nomes de Álvaro e Del Vecchio estão muito próximos na lista histórica de artilheiros do Santos: em 289 partidas Álvaro marcou 107 gols; Del Vecchio jogou 177 partidas e fez 105 gols. Pela Seleção Brasileira, Álvaro marcou quatro gols em 11 jogos; Del Vecchio fez um gol em nove partidas.
Atacante que viu Pelé chegar à Vila e também marcou um gol na estreia do Rei – goleada de 7 a 1 sobre o Corinthians de Santo André, em 7 de setembro de 1956 –, Álvaro era uma pessoa de hábitos simples. Após o futebol voltou para a sua Guarujá e trabalhava como zelador de edifício quando passou a ter crises de diabetes, teve a perna amputada e acabou falecendo em 21 de setembro de 1991, três dias antes de completar 60 anos. Hoje seu nome batiza uma rua do Guarujá.
Irritadiço, Del Vecchio era daquele tipo que não levava desaforo para casa. Em um sábado festivo, 23 de julho de 1957, em que o Santos jogava e venceria o Benfica de Lisboa por 3 a 2, o centroavante, que herdara do pai o hábito de praticar boxe, subiu às cabines de rádio da Vila Belmiro e agrediu o narrador Ernani Franco, que o tinha criticado duramente na derrota para o Corinthians, dois dias antes, no Pacaembu. Ernani Franco era muito querido pela diretoria santista e por isso a corda estourou para o lado de Del Vecchio, cujo passe foi vendido para a Itália.
Ao abandonar o futebol, o aguerrido atacante veio viver em Santos, mas não se pode dizer que a idade tenha mudado seu temperamento. Morreu em 7 de outubro de 1995, aos 61 anos, assassinado por um ex-namorado de sua filha. Deixou os filhos Victor Emmanuele, Maria Emmanuela e César Emmanuele.