Ai que saudades do Gradim!

Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória
Quando Mário Lago e Ataúlfo Alves compuseram a lendária “Ai que saudade da Amélia”, em 1942, jamais poderiam imaginar que essa personagem, tema da bela canção, seria usada como apelido do jogador Adhemar de Oliveira, o Gradim, que carregou consigo esse apelido feminino por toda a sua carreira.
Gradim nasceu em Taquara, na região metropolitana de Porto Alegre, em uma sexta-feira, 12 de dezembro de 1913, um ano após a fundação do Santos Futebol Clube – equipe que defenderia a partir de novembro de 1936, aos 22 anos de idade, até 1944, jogando 271 partidas e marcando 95 gols pelo Alvinegro Praiano.
O jovem jogador negro iniciou sua carreira no extinto Centro Esportivo Força e Luz, de Porto Alegre, em 1931, mesma equipe que revelou o ponta-direita Dorval Rodrigues, o mesmo que depois faria parte do Ataque dos Sonhos do Santos. Gradim interessou ao Alvinegro Praiano depois de atuar na Seleção Gaúcha, vice-campeã brasileira em 1936.
No Santos, Gradim, o “Amélia”, foi zagueiro, volante, lateral-direito, lateral-esquerdo  e centroavante. Foi também o batedor oficial de pênaltis da equipe de Vila Belmiro, o que contribuiu para que tenha sido o artilheiro máximo do time nas temporadas de 1937 e 1938, com 18 e 19 gols, respectivamente.
Embora Gradim seja sempre lembrado pelo apelido da imortal canção –  porque como a “Amélia”, acatava as determinações dos técnicos sem reclamar e jogava em todas as posições –, na realidade o jogador que ficou mais famoso por atuar em várias posições no Santos foi o curinga Lima, destaque na equipe no esquadrão que marcou época no futebol mundial.
Mesmo sem ganhar nenhum título pelo Santos, Gradim é lembrado pela garra, determinação e, principalmente, pela disciplina tática. Ele entrou em  definitivo na história do clube por ter feito o gol de número 2.000 do Santos em 30 de abril de 1939, na vitória do Peixe diante do Ypiranga, da Bahia, por 3 a 0.
Esse tento histórico de Gradim foi o segundo na conturbada partida amistosa no Campo da Graça, em Salvador. Após a marcação de um pênalti contra o time local, o árbitro Sanches Dias foi agredido, o campo foi invadido por dirigentes, torcedores e policiais e houve um grande conflito, só acalmado quando o árbitro foi substituído.
A partida recomeçou com todos os envolvidos na balbúrdia em campo, entre eles o zagueiro com o sugestivo apelido de Incêndio, que tinha sido expulso. O ponta-esquerda Ruy ainda marcou mais um gol, fechando a vitória santista em 3 a 0.
A última vez em que o polivalente Gradim defendeu as cores do Alvinegro ocorreu no amistoso jogado em 19 de novembro de 1944, em Ribeirão Preto, numa partida contra a seleção local com arrecadação em benefício da Santa Casa daquela cidade.
Naquela tarde de domingo o Santos jogou com Joel, Jaú e Gradim; Ayala, Nenê e Albertinho; Guilherme, Nélio (Odair), Otacílio (Roque), Eunápio e Ruy. O Alvinegro venceu por 2 a 0, com dois gols de Eunápio. Após deixar o Santos, Gradim encerrou a carreira no Jabaquara Atlético Clube.

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