Agne Boklund, um goleiro sueco em Vila Belmiro

texto de Guilherme Gomez Guarche
O Santos FC, nos 106 anos de sua rica existência, notabilizou-se por ter sua meta defendida, vários goleiros oriundos de outros países. São, ao todo, doze arqueiros estrangeiros que envergaram a camisa número um do Alvinegro mais famoso do mundo.
O primeiro guardião do time santista jogou as quatro primeiras partidas do Peixe nos anos de 1912/13. Era um francês de nome Julien Jacques Fauvel. Nascido na região do Havre, veio para Santos e permaneceu até 1914. Depois mudou-se para São Carlos, cidade do estado de São Paulo, de onde partiu para defender sua pátria na Primeira Guerra Mundial, sendo condecorado pelo governo francês. Até hoje seus descendentes residem no interior paulista.
Os demais goleiros estrangeiros foram: Talladas (espanhol), José Lengyl (romeno), Peter (tcheco), Rodolfo Rodrigues (uruguaio), Tápia (chileno), Henao (colombiano), Capuano, Peres, Cejas, Ricardo (argentinos) e Agne S. Andersson Boklund nascido na Suécia, no dia 29/09/1904, falecido no dia 06/08/1949. Agne jogou no Santos no período de 1923 a 1927, exatas 58 partidas.
É sobre esse goleiro sueco que vamos escrever sobre um fato raro nos dias atuais e que foi o motivo da carta por ele endereçada aos diretores do Santos, no dia 09/08/1926, e que se encontra devidamente arquivada em nossos arquivos no Centro de Memória. O documento original poderá ser visto em breve, quando o Memorial das Conquistas realizará uma exposição, sob a coordenação do historiador Gabriel Pierin, com documentos raros e antigos que o clube os têm em seus arquivos devidamente bem cuidados.
O Santos jogou no dia 08/08/1926, no campo da Água Branca em São Paulo e venceu a equipe do CA Ypiranga pelo placar de 5 a 2 em partida válida pelo campeonato paulista, com gols de Siriri (2), Camarão, Abel e Araken para o Alvinegro praiano e quem jogou na meta santista não foi o goleiro titular na época, Agne, mas sim, o reserva Ballio.
Por ter não ter atuado na partida, o goleiro sueco escreveu a carta em papel timbrado da firma de origem escandinávia, na qual prestava serviços. Sua íntegra transcrevemos para conhecimento dos torcedores do Peixe:
“Santos, 09 de agosto de 1926
Ilmos. Srs. Dignos Directores do Santos Football Club,
Nesta,
Distinguidos Amigos & Snrs.
Depois de innumeras dificuldades de viagem, cheguei do interior do Estado hontem á noite, e apresso-me a communicar a V.Sa. a causa da minha impossiblidade de tomar parte no jogo, realizado hontem em São Paulo, entre o nosso valoroso Club e o C. A. Ypiranga.
Pensei, como disse ao Snr. Mario Pacheco, chegar a São Paulo hontem ao meio dia mas a chuva torrencial que cahio no interior, não me deixou tornar este pensamento em realidade.
No caminho de itapetininga para Sorocaba, fomos forçados a parar por muito tempo, com o automovel encalhado, motivado ao pessimo estado da estrada. Mesmo assim, procurei obter meio de condução para São Paulo, o que não me foi possível por não passar automovel algum pelo local. Só consegui por isso chegar a São Paulo ás 17.30 horas.
Sei que fui de encontro aos regulamentos do nosso Club, que de muito pesar é para mim, e peço a V.Ss. que avaliem se, ante os continuos obstaculos de uma viagem como esta, era possível tornar realidade o meu pensamento. Rogo, tambem, que não façam mau juizo de minha pessôa por ser obrigado a procecer desta maneira indesajavel.
Espero que V.Ss. procedam para esta minha falta involuntaria como é dos nossos estatutos, pedindo, porem, que me seja applicada a pena minima dos mesmo.
Sempre ao inteiro dispor de V. Ss. para o engrandecimento do pavilhão do nosso veterano e sempre glorioso Santos F.C. , envio-vos
Cordiaes Saudações!
Agne Boklund.”
Em resposta a carta acima, o Diretor-Geral de Esportes, Urbano Caldeira escrevia, em 20 de agosto de 1926:
“Tendo em vista as allegações apresentadas pelo Sr. Agne e sobre as quais não ponho duvida, opino para que o mesmo seja isento de qualquer penalidade.”

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