A Gioconda ou Mona Lisa del Giocondo é a mais notável e conhecida pintura de Leonardo da Vinci, um dos mais eminentes homens do Renascimento italiano. Assim como a famosa obra de arte do genial pintor renascentista podemos considerar o gol marcado pelo Rei Pelé, na Rua Javari, 117, no dia 2 de agosto de 1959, como uma imortal obra-prima do futebol.
Esse gol considerado como o gol mais bonito do Rei Pelé aconteceu em um distante domingo no acanhado Estádio Conde Rodolfo Crespi, no bairro da Mooca, zona leste da cidade de São Paulo de propriedade do Clube Atlético Juventus, o popular Moleque Travesso.
E foi na vitória do Santos pelo placar de 4 a 0 diante do dono da casa, em partida válida pelo Campeonato Paulista de 1959. Pelé além do bonito gol também marcaria mais dois e o outro foi marcado pelo ponta-direita Dorval Rodrigues.
O Peixe escalado por Luiz Alonso Perez, na partida de nº 1693 de sua história com: Manga; Mourão e Pavão; Formiga, Ramiro e Zito; Dorval, Jair Rosa Pinto, Coutinho, Pelé e Pepe. Com o terceiro gol marcado por Pelé o Alvinegro contabilizava até aquela data 4647 gols.
O tento que agora completa 63 anos foi o gol de nº 200 dos 1282 gols assinalados pelo Rei somente em partidas pela equipe principal do Santos, O tento-joia foi o último do Rei naquela memorável partida. Ao todo na Rua Javari O Atleta do Século marcou nove gols com a camisa do Santos.
Após a feitura do gol, Pelé correu em direção da torcida adversária que o havia provocado durante a partida e comemorou o tento saltando e socando o ar num desabafo aos que o vaiavam, esse seu gesto se tornaria dai em diante com sua marca peculiar nas comemorações dos gols por ele marcados.
A obra de arte do Rei na visão dos jornalistas do jornal A Tribuna
O gol descrito pelo jornalista De Vaney:
“No capítulo dos gols magistrais, o que Pelé assinalou, domingo, na Rua Javari, há que ter um realce especial. Lances existem que, pela sua formosura técnica, a gente os traz gravados nos olhos, de regresso a casa.
Esse, o de Pelé, 4º do Santos F. Clube ante o Juventus, é o gol que se fixou na alma, no espírito, no coração, no sentimento inteiro de quem o viu surgir em meio de dois crepúsculos: o do dia, que se findava aos poucos, e o da partida, que se extinguia lentamente.
Gols tenho eu os visto, magníficos, para mais de meia centena deles. Vi Friendereich, a matreirice em pessoa, derrubar os uruguaios de 19 com aquele tento-histórico que deu ao Brasil o seu primeiro título.
Vi Nilo Murtinho Braga, furacão em feitio de gente, sacudir redes argentinas em vesperais de ouro. Vi Feitiço, pólvora seca em cada chanca, estraçalhar malhas escocesas com quatro petardos no dia em que os do Motherwell tombaram por 5 x 0.
Vi Leônidas da Silva, todo de borracha, arrasar metas polonesas em concepções estupendas, dignas da magia que se continha em seus pés. Vi Heleno de Freitas, uma ofensa em cada chute, arrebentar cidadelas imbatíveis, em cotejos decisivos.
Vi Carvalho Leite, um rompe-aço em cada arremate, vencer guardiões famosos em tiros devastadores. Vi Petronilho de Brito, um poema em cada lance, esconder a bola no fundo dos arcos inimigos como menino que brinca de chicote-queimado.
Vi gols de todos os feitios, desde o que explode no fundo do retângulo como bomba de canhão, até o que chia ao contato dos barbantes encerados como azeite de alto custo em frigideira de ouro. Mas gol com aquele que Pelé presentou o mundo do futebol, domingo, na Mooca, eu creio que ninguém viu coisa igual até hoje. O gol de Pelé fez lembrar, até, a anedota do cidadão que após olhar demoradamente para a girafa, no jardim zoológico, comentou: “Isso não existe”.
O jornalista Ari Fortes descreveu assim o lance:
“Aos 42 minutos ocorreu o tento-joia de PELÉ, que fez vibrar a grande assistência. Em manobra de Dorval e Coutinho, a pelota se ofereceu ao “scrathman” que, num de seus lances característicos, encobriu Homero, colhendo a bola à frente.
Clóvis interveio e também foi superado com idêntico golpe. Por último saiu da meta o arqueiro Mão de Onça e, igualmente Pelé o encobriu, ficando com o arco vazio à sua disposição. Antes da aproximação de qualquer outro defensor juventino, o atacante santista lançou o corpo ligeiramente para diante e, com sutil golpe de testa atirou a esfera às malhas.
Lance realmente espetacular que valeu ao autor do tento. Como se disse, os cumprimentos de vários elementos do próprio conjunto antagonista e os aplausos em massa de todo o estádio! Depois de jogada de tão primorosa concepção nada mais se poderia esperar de relevo nos últimos três minutos. E o prélio se encerrou com 4 a 0 pró Santos”.
O curinga da Vila, Lima que hoje integra o grupo dos Ìdolos Eternos do Santos, era um dos defensores da equipe do Moleque Travesso, sua ótima participação nesse encontro o traria para o Peixe no ano de 1961, e ele se notabilizaria formando no time que encantaria o mundo na década do ano de 1960.
No dia 29 de agosto de 2006, Edson Arantes do Nascimento convidado pela diretoria do Juventus presidida por Armando Raucci comparecia no estádio Rodolfo Crespi e inaugurava em suas dependências um busto em sua homenagem por ter sido lá que o Rei marcou o gol mais bonito de sua carreira. Bela iniciativa dos dirigentes do Moleque Travesso.