Por Odir Cunha
Por ter tido melhor campanha, o Santos FC do técnico Cabralzinho tinha a vantagem na semifinal do Brasileiro de 1995, no Maracanã, contra o Fluminense. A situação ficou ainda melhor com o gol de Giovanni, aos 17 minutos do primeiro tempo. Na segunda etapa, porém, tudo mudou…
Renato Gaúcho marcou aos cinco; Ronald, de pênalti, aos 25; Robert e Jamelli foram expulsos e quando a derrota por um gol parecia um mal menor, Leonardo fez o terceiro aos 45 e dois minutos depois Cadu completou a goleada de 4 a 1, resultado que parecia impossível de ser recuperado no Pacaembu, pois além de tudo o time carioca tinha a melhor defesa da competição e jamais havia sofrido mais de três gols em uma partida.
No domingo, 10 de dezembro, um Santos improvisado entrava no Pacaembu para tentar o improvável diante de 28.090 pagantes (o Tobogã estava interditado). Cabralzinho escalou o time com Edinho, Marquinhos Capixaba, Ronaldo Marconato, Narciso e Marcos Adriano; Gallo e Carlinhos; Macedo (depois Marcos Paulo), Marcelo Passos (Pintado), Giovanni e Camanducaia (Batista).
O Fluminense, campeão carioca daquele ano, foi escalado pelo técnico Joel Santana com Welerson, Ronald, Lima, Alê (depois Gaúcho) e Cássio; Vampeta, Otacílio, Aílton e Rogerinho; Renato Gaucho e Valdeir (Leonardo). Na arbitragem, Sidrack Marinho.
Como precisava de uma vitória mínima de três gols de diferença para ir à final, o Santos se jogou todo à frente. A recompensa veio aos 25 minutos, quando Camanducaia sofreu pênalti e Giovanni converteu. Quatro minutos depois o mesmo Giovanni recebeu de Marcelo Passos, livrou-se de um adversário e enfiou o bico na bola para jogar no canto direito de Welerson, em golaço que incendiou o Pacaembu e deixou a vaga em aberto.
No intervalo os jogadores resolveram permanecer no gramado, enchendo-se da energia que vinha das arquibancadas. A estratégia deu certo. Logo aos seis minutos Macedo recebeu na área e bateu de esquerda para fazer 3 a 0. Parecia que o objetivo já havia sido alcançado, mas a angústia do torcedor santista estava longe de acabar.
Rogerinho marcou um minuto depois e o placar passou, novamente, a classificar o Fluminense. Aos 16 minutos, porém, Giovanni, que naquele dia realizou um das maiores exibições de um jogador no Brasil, roubou a bola de Alê e passou para Camanducaia marcar o quarto.
Minutos depois Ronaldo Marconato foi expulso e o Santos passou a se segurar com um jogador a menos. Aos 38 minutos, aproveitando passe magistral de calcanhar de Giovanni, Marcelo Passos acertou pelo chute de curva e fez 5 a 1. Dois minutos depois, porém, Rogerinho marcou de novo e a tensão permaneceu até o final, comemorado como em uma final de Copa do Mundo.
Aqueles 5 a 2 ainda são lembrados como a mais importante virada entre dois grandes clubes brasileiros. A atuação consolidou Giovanni como um dos maiores craques do futebol nacional, a ponto de ser escolhido como o melhor jogador do Campeonato Brasileiro de 1995.
Gol de Placa
Hoje a expressão está consagrada, mas nem todos sabem como ela surgiu. O saudoso jornalista Joelmir Beting, falecido em novembro de 2012, aos 75 anos, à época repórter do jornal O Esporte, definiu assim a jogada de Pelé que resultou no segundo gol do Santos contra o Fluminense, no Maracanã, em um domingo, 5 de março de 1961:
“Numa caminhada tortuosa e torturada, que durou mais de um minuto e meio de posse de bola, ele acaba fulminando com um drible da vaca no goleiro Castilho e faz o gol”.
Pelé, que tinha 20 anos, marcou esse gol aos 40 minutos do primeiro tempo. Em sua arrancada ele superou Pinheiro, Clóvis e Altair e, diante da chegada de Jair Marinho, tocou a bola no canto direito de Castilho, em um lance aplaudido de pé por todo o estádio. O Santos venceria a partida por 3 a 1, com dois gols de Pelé e um de Pepe.
O paulista Joelmir resolveu fazer uma placa de bronze e ele próprio a instalou nos corredores do Maracanã. Ela dizia: “Neste estádio, Pelé marcou no dia 5 de março de 1961 o tento mais bonito da história do Maracanã”. A partir daí surgiu a expressão “gol de placa” para designar gols espetaculares, que merecem ser lembrados.
No dia do gol de placa o Santos jogou com Laércio, Fioti, Mauro, Dalmo e Calvet; Zito e Mengálvio (depois Ney); Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe (Sormani). Castilho, Jair Marinho, Pinheiro, Clóvis (Augusto) e Altair; Edmilson e Paulinho; Telê (Paulo), Valdo, Jaburú e Escurinho. O árbitro foi o paulista Olten Ayres de Abreu.
Um duelo muito equilibrado
Informações de Guilherme Gomez Guarche e Gabriel Santana, do Centro de Memória do Santos
Desde que se enfrentaram pela primeira vez, em 1918, Santos e Fluminense já fizeram 95 partidas, sendo 58 pelo Campeonato Brasileiro, 23 pelo Torneio Rio-São Paulo, 12 amistosas e duas pela Copa Sul-Americana.
O curioso é que faltam apenas cinco jogos para alcançarem o seu centésimo confronto e o equilíbrio é quase total, pois a vantagem do clube carioca é de apenas uma partida. Em 95 jogos, o Santos venceu 37, perdeu 38 e empatou 20, com 153 gols marcados e 157 sofridos.
Se forem selecionados apenas os 58 jogos pelo Campeonato Brasileiro, a vantagem é do Fluminense, com 26 vitórias, contra 21 do Santos e 11 empates. O Santos marcou 82 gols e sofreu 85.
Em jogos pelo Brasileiro no Maracanã os times se enfrentaram 22 vezes, com quatro vitórias santistas, quatro empates e 14 triunfos tricolores. O Santos marcou 20 gols e sofreu 34.
Ao todo as equipes se enfrentaram 31 vezes no Maracanã, com nove vitórias santistas, 16 derrotas, seis empates, 41 gols a favor e 49 contra.
O velho estádio das Laranjeiras assistiu a nove confrontos entre Santos e Fluminense, com seis vitórias do time da casa, duas do Santos e um empate.
Pelé jamais jogou nas Laranjeiras. Das onze vezes que enfrentou o Fluminense, o Rei do Futebol ganhou cinco, perdeu três e empatou três.