Por Gabriel Pierin, do Centro de Memória
No dia 22 de junho de 2011, numa inesquecível noite de quarta-feira, um Pacaembu eufórico presenciou a volta olímpica de Pelé e do técnico Muricy sorrindo, de mãos dadas, pelo gramado do estádio durante as comemorações do tricampeonato da Libertadores.
O desfecho arrasador do Santos em nada lembra o seu início na competição, quando enfrentou grandes adversidades e quase foi eliminado ainda na fase de grupos.
O time que era a sensação do futebol nacional, vencedor da Copa do Brasil, começou a Libertadores de forma irregular, numa estreia pífia e sem gols diante do Deportivo Táchira, na Venezuela, no dia 15 de fevereiro.
O Alvinegro voltou a campo duas semanas depois, em 2 de março, contra o paraguaio Cerro Porteño. A partida na Vila Belmiro chegava ao fim e o time vencia por 1 a 0, gol de Elano, de pênalti, aos 9 minutos do segundo tempo, quando, já nos acréscimos, o veterano Edu Dracena cometeu o pênalti que provocou o empate.
O jogo terminou com um gosto amargo. Para completar a tragédia, o alto preço dos ingressos e a chuva resultaram em um público inferior a nove mil pagantes. Adilson Batista foi demitido e o interino Marcelo Martelotte assumiu o comando da equipe.
Em 16 de março o Santos foi a Santiago enfrentar o Colo-Colo. O golaço de Elano, em falta cobrada de longa distância, deixou a torcida esperançosa, mas o time da casa virou e acabou vencendo por 3 a 2.
A situação do Santos exigia um milagre. A equipe tinha apenas dois pontos ganhos e nenhuma vitória, empatado com o Táchira e fora da zona de classificação. As duas vagas para as oitavas de final estavam com o Colo-Colo, seis pontos e duas vitórias, e Cerro Porteño, cinco pontos e uma vitória.
A chegada de Muricy
O experiente Muricy Ramalho foi contratado para técnico do time, mas só assistiu das arquibancadas a partida seguinte, novamente contra o Colo-Colo, na Vila Belmiro, pela primeira partida do returno. O jogo estava tranquilo, o Santos vencia por 3 a 0 e Neymar estraçalhava, quando resolveu colocar uma máscara de si mesmo para comemorar o lindo terceiro gol e foi expulso.
Zé Eduardo e Elano, este no banco de reservas, também levaram cartão vermelho e o time passou a ser sufocado, sofrendo dois gols nos últimos minutos e quase cedendo um empate que seria fatal.
Uma semana depois, justamente no dia do 99º aniversário do clube, o Santos jogaria a sorte contra o Cerro, em Assunção. Desfalcado de Neymar, Elano e Zé Eduardo, o Alvinegro teria de fazer das tripas coração e vencer, pois com uma derrota, ou mesmo um empate, estaria eliminado.
Muricy Ramalho ainda não tinha duas semanas de clube quando armou o Santos para o jogo contra o Cerro, no dia 14 de abril. Paulo Henrique Ganso, voltando de uma contusão, entrou no lugar de Elano. Os reservas Diogo (depois Maikon Leite) e Keirrison (depois Alex Sandro) foram escalados no ataque.
Aos 11 minutos Danilo acertou um chutaço do meio da rua para abrir o marcador. Aos dois do segundo tempo Ganso enfiou para Maikon Leite, que penetrou rápido e bateu na saída de Barreto. O Cerro só foi fazer o seu gol nos acréscimos.
O Santos garantiu a vaga na última rodada ao vencer o Táchira, no Pacaembu, por 3 a 1, com gols de Neymar, Jonathan e Danilo. No outro jogo, o Cerro surpreendeu o Colo-Colo, no Chile, vencendo por 3 a 2 e também se classificando para as oitavas de final.
Santos, o único brasileiro
Na primeira partida das oitavas, Ganso acertou um lindo chute de fora da área e o Santos passou pelo América do México com uma vitória por 1 a 0 na Vila Belmiro. No jogo de volta, numa noite inspirada do goleiro Rafael, o Peixe segurou o empate sem gols em Querétaro, e garantiu a classificação para as quartas de final.
Naquele 4 de maio todos os outros quatro times brasileiros foram eliminados. Com a nova configuração, o Santos passaria a ter o direito de fazer a segunda partida em casa até a final.
Nas quartas, o adversário foi o Once Caldas, o algoz do Cruzeiro. Em 2004 a equipe colombiana havia eliminado o Santos. Dessa vez, mais sólido, o Alvinegro venceu em Manizales por 1 a 0, gol de Patrick, e empatou em 1 a 1 em um Pacaembu lotado, com gol do astro Neymar.
Na semifinal o Cerro Porteño voltou a cruzar o caminho do Santos. No Pacaembu, Edu Dracena marcou aos 43 minutos e garantiu a vitória por 1 a 0. Em Assunção, o Santos terminou o primeiro tempo com a vantagem de 3 a 1 (Zé Eduardo, Barreto (contra) e Neymar), mas o Cerro reagiu no segundo e empatou em 3 a 3. A equipe brasileira jogava pelo empate e o resultado foi insuficiente para tirar o Alvinegro da final.
De novo o Peñarol
Quarenta e nove anos depois, Santos e Peñarol jogariam novamente pelo título mais importante das Américas. Cinco vezes campeão da Libertadores, o Peñarol era o campeão do mundo quando perdeu para o Santos a final de 1962.
Na primeira partida, diante de 60 mil torcedores presentes no Estádio Centenário, o jogo não foi além de um empate por 0 a 0. No Pacaembu a história foi outra e o Santos dominou o adversário.
Os 40 157 torcedores viram, no primeiro minuto do segundo tempo, Arouca penetrar pelo meio, tabelar com Ganso e servir a Neymar, que acertou um chute seco entre o goleiro Sosa e a trave. Um golaço com a marca do elenco santista.
Aos 23 minutos, Danilo penetrou pela direita, livrou-se de um marcador e bateu de canhota junto à trave direita. Após esse segundo gol a certeza da conquista não foi abalado nem mesmo quando Durval marcou, contra, aos 34 minutos.
O Santos voltava a vencer o título continental justamente contra o Peñarol, adversário da final de 1962, quando o Alvinegro Praiano foi campeão pela primeira vez.