A fundação do Santos FC

Por Gabriel Pierin, do Centro de Memória
No dia 09 de abril de 1912 o jornal Diário de Santos publicou um anúncio com palavras que não tardariam a se cristalizar: “Vários sportsmen desta cidade estão empenhados em organizar um poderoso club de football”. A motivação se justificava: o futebol andava esquecido entre os jovens da cidade. “Era já sensível a falta, entre nós, de um bom clube dedicado ao bello sport do football. Acreditamos que o novo clube venha preencher essa lacuna”, destacava o anúncio.
O fato é que a comissão organizadora, formada por Mário Ferraz, Raymundo Marques e Argemiro de Souza Junior, já havia percorrido o alto comércio e convidado mais de duzentos jovens para a nova agremiação, além de conseguir a primeira conquista para o novo clube: “um vasto e esplendido terreno de propriedade do sr. J. D. Martins, à rua Aguiar de Andrade, no Macuco, onde será instalado o ground da nova sociedade esportiva”, concluía a nota.
No contexto da fundação do Santos Foot-ball Club, o quadro político da cidade era composto por algumas personalidades que viriam a fazer parte direta e indiretamente do clube. O prefeito da época, Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva, curiosamente iria se perpetuar na memória da nova agremiação, emprestando seu nome ao antigo bairro da Vila Operária, popularizando a casa do Santos como Vila Belmiro e, como alguns cronistas gostam de chamar, “a vila mais famosa do mundo”.
As bases do novo clube seriam delineadas na reunião de 14 de abril de 1912, um domingo, às 14 horas, na sede do Club Concórdia, à rua do Rosário 18, atual João Pessoa, número 10. Naquela tarde, Raymundo Marques, ao abrir a sessão da assembleia de fundação, fez considerações sobre a situação do futebol e do objetivo da reunião de fundar um clube destinado ao esporte. Todos os presentes concordaram com o orador. Em sua maioria os ouvintes eram jovens estudantes e empregados no comércio, desejosos de participar de um clube destinado à prática do esporte bretão.

Com a presença de 39 pessoas, foi escolhida a diretoria, a primeira da história do clube. Sizino Collatino Patusca, um dos baluartes do Sport Club Americano, embora ausente à reunião, foi aclamado presidente. George P. Cox, membro do Clube XV, vice-presidente.
Um dos assuntos da pauta foi a escolha do nome da nova agremiação. Raymundo Marques abriu os debates, solicitando sugestões dos presentes. O nome África Football Club foi pronunciado, mas a proposição rejeitada. “Associação Esportiva Brasil” foi lembrada por alguém e, apesar de agradar a outros, não foi aceita. Associar o nome do clube ao país não é de bom tom, justificaram os opositores.
Raymundo Marques deu prosseguimento. “Concórdia FC”, opinou Alvaro de Barros Fontes. Concórdia era o nome do clube que cedeu o salão onde a reunião estava sendo realizada. Era uma gentil homenagem ao clube anfitrião. Mas, se ele já existia, não havia razão para criar um novo. Raymundo Marques tornou a solicitar sugestões.
Foi quando a voz de Edmundo Jorge de Araújo se fez ouvir, do fundo da sala: “Por que não chamamos o nosso clube de Santos, Santos Foot-ball Club?”. Após um breve silêncio, uma salva de palmas ecoou por todo o salão. Raymundo Marques nem precisou colocar o nome em votação. Transformando palmas em palavras, decretou: “Meus senhores! Acaba de ser fundado o Santos Foot-ball Club”.
Era o entardecer de 14 de abril de 1912. Estava fundado aquele que viria a ser o maior clube de futebol da cidade e que, exatos cinquenta anos depois, se tornaria o primeiro clube brasileiro campeão mundial. No dia seguinte, 15 de abril de 1912, o jornal A Tribuna de Santos noticiava: “Santos Football Club com o nome supra acaba de ser fundado nesta cidade, um clube de football destinado, por certo, a uma vida longa e plena de vitórias, para o que conta com os melhores elementos desta terra. Eis a sua primeira diretoria: Presidente, Sizino Patusca; Vice, George P. Cox; 1º Secretário, José Guilherme Martins; 2º, Raul Dantas; 1º Tesoureiro, Leonel Silva; 2º, Dario Ferraz da Frota. Direto res: Augusto Bulle, João Carlos de Mello, Henrique Cross, Raymundo Marques, Cícero F. de Lima Junior e Camyro Faeter”.
Ao final da notícia havia um trecho que se tornaria um valioso detalhe de teor histórico: “Cores do novo clube: Branco e azul, com um friso amarelo entre as duas cores”. Apenas na terceira reunião da diretoria, em 31 de março de 1913, as cores do uniforme foram alteradas para calção branco e camisa com listras brancas e pretas, tornando o novo clube um legítimo alvinegro.

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