A estreia do insuperável Lula

Por Guilherme Guarche e Odir Cunha, do Centro de Memória
Qualquer iniciante na história do futebol sabe que o santista Luiz Alonso Perez, o Lula, foi o técnico mais vitorioso do futebol nacional, com mais de 20 títulos oficiais, além de inúmeros torneios pelo mundo afora. Mas poucos sabem que Lula era apenas um auxiliar do técnico Aymoré Moreira quando o substituiu em um amistoso contra o São Paulo, no Pacaembu, no dia 3 de junho de 1952.
Enquanto Aymoré dirigia a Seleção Paulista, Lula, aos 30 anos, estreou como técnico do profissional comandando um Santos formado por Luís, Olavo (Diogo) e Expedito; Nenê, Formiga e Pascoal; Cento e nove (Hugo), Dedeco, Alemão, Nicácio e Canhoto (Chiquinho).
Ao final do jogo, uma surpresa: o time do técnico estreante venceu por 1 a 0, gol de Alemão, superando a equipe tricolor dirigida pelo experiente Vicente Feola, futuro técnico da Seleção Brasileira na Copa de 1958. Sorte ou competência? Provavelmente Lula tinha as duas qualidades. E também muita paciência.
Depois da estreia ele comandou o Santos no jogo seguinte, quatro dias depois, em outro amistoso contra o São Paulo, na Vila Belmiro, em que o Santos perdeu por 2 a 0. Em seguida, voltou para a condição de reserva do técnico titular, além de dirigir as equipes amadoras do clube.
Nomeado subdiretor de futebol amador em 23 de janeiro de 1949, Lula assinou seu primeiro contrato para dirigir o futebol amador do Santos em 13 de maio de 1952.
Antes de chegar a Vila Belmiro, Lula dividia seu trabalho de distribuidor de leite em Santos com a função de técnico de equipes da cidade, como Palmeiras, Portuguesa Santista e Americana.
Depois de Aymoré Moreira, o Santos foi treinado por Artigas, Antoninho e Giuseppe Ottina. Uma nova oportunidade de dirigir o time profissional só veio para Lula em 5 de junho de 1954, em substituição ao italiano Ottina, após derrotas nas três rodadas iniciais do Torneio Rio-São Paulo. O próximo adversário era o Botafogo de Garrincha, em pleno Maracanã. E aí a estrela de Lula entrou em campo.
O time perdia por 2 a 1 e virou nos cinco minutos finais, com gols de Joel e Tite, obtendo sua primeira vitória no Maracanã. Nesse jogo Lula escalou Manga, Hélvio e Feijó; Urubatão, Formiga e Zito; Joel, Walter, Álvaro, Vasconcelos (Hugo) e Tite.
No jogo seguinte a equipe perdeu para a Portuguesa por 3 a 0, mas se recuperou amplamente nas três rodadas seguintes, vencendo Flamengo (4 a 0), Vasco (1 a 0) e Corinthians (2 a 0). No final, o sexto lugar acabou sendo um prêmio pela ótima recuperação.
Lula foi técnico efetivo do Santos de 1954 a 1966. Nesse período dirigiu o time em 957 partidas, vencido 628, empatado 146 e perdido 183, marcando exatos 2 900 gols e sofrendo 1 466. É o técnico que mais vezes dirigiu o Alvinegro Praiano em sua secular história e é também o que mais títulos ganhou à frente do Peixe:
Dois Mundiais Interclubes (1962/63), duas Copas Libertadores da América (1962/63), cinco Campeonatos Brasileiros (1961/62/63/64/65), quatro Torneio Rio-São Paulo (1959/63/64/66) e oito Campeonatos Paulistas (1955/56/57/58/60/61/62/64/65).
A última vez em que atuou como técnico do Alvinegro, antes de ser substituído pelo auxiliar Antoninho, foi no dia 19 de dezembro de 1966, na Vila Belmiro, pelo Campeonato Paulista, na vitória sobre a Prudentina por 3 a 0 com três gols de Toninho Guerreiro. O time formou com Cláudio, Zé Carlos, Modesto e Geraldino; Lima e Orlando; Amauri, Joel Camargo, Toninho, Dorval e Abel.
Ao sair do Santos, Lula treinou Corinthians, Portuguesa, Portuguesa Santista e Santo André. Faleceu em 1º de março de 1972, aos 50 anos, em decorrência de infecção generalizada após um transplante de rins.
Técnico mais vezes campeão paulista (8) e brasileiro (5), Lula também foi o primeiro bicampeão mundial e o primeiro brasileiro a conquistar a Copa Libertadores. Bonachão, sabia lidar com os jogadores, mesmo os mais famosos. Seu maior mérito, porém, foi o olho clínico para descobrir meninos craques, como Del Vecchio, Pepe, Pelé, Coutinho, Clodoaldo, Edu, Joel Camargo. Nenhum outro técnico revelou tantos talentos como ele.

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