A conquista que fez os Meninos da Vila soltarem o grito de toda uma geração

Por Pedro Mendes, do Memorial das Conquistas 

Para uma geração de santistas é como se fosse ontem, mas foi num mesmo 15 de dezembro, há exatos 20 anos, que o Santos batia o Corinthians e se tornava Campeão Brasileiro de 2002. O título teve enredo digno de filme, com o Peixe se classificando em oitavo na primeira fase e batendo equipes favoritas ao título nas fases eliminatórias. 

A capacidade ofensiva e o time recheado de Meninos da Vila fizeram com que o passado se conectasse ao presente e criasse uma história perfeita da geração que ficará para sempre no coração da Nação Santista.  

O INÍCIO 

Nos anos anteriores, o Santos adotou a estratégia de investir em contratações de jogadores experientes e acabou não tendo o retorno técnico que a torcida e diretoria esperavam, colocando o Peixe em uma crise financeira. 

Já no início do ano de 2002, o técnico Celso Roth acabou demitido após eliminações precoces no Torneio Rio-São Paulo e na Copa do Brasil. Com o tempo sem jogos oficiais, o Peixe contratou o técnico Emerson Leão e marcou uma série de amistosos. 

Nos amistosos o Santos acabou vencendo os quatro jogos que disputou, com destaque para a vitória sobre o Corinthians na Vila Belmiro por 3 a 1. Diego e Robinho comandaram o ataque e André Luís, Renato e William balançaram a rede corintiana. A partir dessa partida, Leão resolveu disputar o Campeonato Brasileiro com a molecada, e não solicitou a contratação de mais nenhum atleta. 

A CAMPANHA  

O Santos iniciou a disputa do Brasileiro considerado, pela imprensa, como um dos candidatos ao rebaixamento, pois contava com muitos garotos e sem nomes de jogadores experientes.  Foi o último Campeonato Brasileiro da era “mata-mata” e os oito primeiros da primeira fase, disputada em pontos corridos, classificavam-se para a fase final. Como era de se esperar, a equipe alternou entre bons e maus resultados, mas sempre se manteve próximo ou dentro desse grupo de oito finalistas. 

Nos dois últimos jogos da primeira fase a equipe santista foi derrotada pela Ponte Preta, na Vila Belmiro e pelo São Caetano, no Anacleto Campanella. O time santista se classificou em oitavo, ou seja, na última posição possível, graças a uma vitória na última rodada do rebaixado Gama diante do Coritiba, que brigava com o Peixe pela última vaga. 

O primeiro desafio pelas quartas de final foi enfrentar o até então melhor time da competição, o São Paulo. Como o Santos havia se classificado em oitavo, confrontou o primeiro colocado, com a desvantagem de fazer o segundo jogo no Morumbi e ser eliminado em caso de empate em pontos e saldo de gols. Porém, mais uma vez, os Meninos da Vila não se intimidaram. 

Na primeira partida, um show na Vila Belmiro. Com gols de Alberto, Robinho e Diego, o Peixe venceu por 3 a 1. Na partida de volta, o São Paulo até tentou, saiu na frente logo no início do jogo, mas na segunda etapa, Léo e Diego decretaram a virada e a classificação do Santos para as semifinais, contra o Grêmio. 

Novamente o Santos realizou o primeiro jogo em casa e tratou de resolver a disputa em seus domínios. Em jogo impecável venceu por 3 a 0, com dois golaços de Alberto e outro golaço de Robinho. Na segunda partida, o time gaúcho venceu apenas por 1 a 0, resultado que classificou o Peixe para a decisão.  

A DECISÃO 

O Corinthians foi o grande adversário do Peixe na final, após passar pelo Fluminense nas semifinais. O time do Parque São Jorge tinha a vantagem de jogar pelo empate na soma dos pontos e no saldo de gols, já que havia feito melhor campanha que o Santos na primeira fase. 

O primeiro jogo era mando do time santista, mas as duas partidas foram realizadas no Morumbi, com os ingressos divididos igualmente entre as duas torcidas.  

Logo aos 15 minutos, Diego fez um lançamento preciso para Alberto, que correu por trás da zaga e bateu entre as pernas do goleiro Doni, abrindo o marcador para o Peixe. 

No segundo tempo, os corintianos tentaram empatar a todo custo, mas sem sucesso. Já no fim do jogo, aos 43 minutos, em uma saída de bola errada da zaga do Corinthians, Robinho interceptou o passe de Fabrício e lançou Renato, que tocou por cima de Doni, fazendo 2 a 0. Com a vitória por 2 gols de diferença, o Santos foi para a partida derradeira podendo perder até por um gol. 

Diante de 74.592 pagantes o Santos se apresentou com Fábio Costa, Maurinho, Alex, André Luis e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego (Robert)(Michel); Robinho e William (Alexandre).  

A partida começou preocupante para o time santista. O jovem camisa 10, Diego, sentiu uma distensão na coxa no primeiro minuto de jogo. O experiente Robert, vice-campeão brasileiro em 1995, entrou em seu lugar. 

Segundos depois, o Corinthians quase abriu o placar em uma cabeçada do atacante Guilherme. Fábio Costa realizou sua primeira grande defesa naquela tarde. Aos 10 minutos, foi a vez do zagueiro André Luís cabecear e Doni fazer boa defesa. 

Aos 35 minutos, Léo tocou para Robinho, na esquerda do ataque santista. O camisa 7 pegou a bola e foi avançando, enquanto o lateral Rogério, que estava na sua marcação, foi recuando. Robinho passou os pés sobre a bola oito vezes, e eternizou o lance com essas inesquecíveis pedaladas. Sem saber o que fazer, Rogério cometeu o pênalti. O Menino da Vila foi para a cobrança, sem medo da responsabilidade, e abriu o placar da decisão. O primeiro tempo terminou com a euforia do time santista e a preocupação do lado corintiano. 

O Corinthians retornou decidido a empatar nos primeiros minutos da segunda etapa, e só não conseguiu devido às monumentais defesas de Fábio Costa. A primeira, em cobrança de falta de Rogério, que desviou em Paulo Almeida e obrigou o arqueiro a uma defesa de puro reflexo. Um minuto depois, em cabeçada de Fábio Luciano, o camisa 1 do Peixe mais uma vez foi extraordinário, colocando a bola para escanteio. 

De tanto tentar, aos 30 minutos, Deivid, de cabeça, conseguiu empatar. Nove minutos depois, o zagueiro Anderson virou a partida, em nova cabeçada. De repente a torcida santista ficou quieta e tensa. Um filme passou pela cabeça. No ano anterior, com um gol nos segundos finais, o Corinthians eliminou o Santos nas semifinais do Campeonato Paulista.  

Contudo, aos 43 minutos, após deixar Anderson para trás, Robinho invadiu a área pela direita, ergueu a cabeça e achou Elano livre para empurrar para as redes e aliviar o coração do torcedor santista. Três minutos depois, Robinho correu pela esquerda da área adversária, driblou dois adversários e tocou para Léo, que, de perna direita, no último lance do jogo e do campeonato, colocou no ângulo de Doni e decretou a vitória santista. 

A Carlos Eugênio Simon restou pedir a bola a Doni, consolar o goleiro corintiano e apitar o final de uma das decisões mais emocionantes da história do Campeonato Brasileiro. O alívio havia chegado para o Santos e para aqueles torcedores carentes de grandes alegrias e grandes momentos. O título era uma dádiva dos Meninos da Vila de 2002 ao Glorioso Alvinegro Praiano. A conquista fez o Santos ressurgir. O amor do santista por seu time estava renovado e mais forte do que nunca. 

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