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Por Gabriel Pierin, do Centro de Memória
No domingo, 10 de janeiro de 1965, a chuva afastou os torcedores do Maracanã, o árbitro Albino Zanferrari se atrapalhou diversas vezes, os jogadores brigaram e de nada adiantou a vitória do Botafogo por 3 a 2, pois, por falta de datas para a revanche, os dois alvinegros foram considerados campeões.
O Torneio Rio-São Paulo de 1964 tinha tudo para ter uma final apoteótica. Afinal, o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha, os melhores times brasileiros naqueles tempos de futebol arte, jogariam a decisão em uma melhor de três.
Na primeira partida da decisão, o Botafogo demonstrou superioridade no primeiro tempo. A defesa santista encontrou dificuldades de parar o rápido ataque botafoguense, sobretudo nas velozes arrancadas de Jairzinho. Foi dele o primeiro gol carioca, após uma falha de Haroldo. O Santos continuava sem conseguir armar as suas jogadas e o Botafogo não desperdiçou as oportunidades. Roberto marcou duas vezes: aos 39 minutos, de cabeça, após cruzamento de Arlindo e, aos 42 com um chute no ângulo de fora da área.
O time da Vila Belmiro voltou para o segundo tempo com Lima no lugar de Haroldo, na zaga, e Toninho na ponta-direita, substituindo Peixinho. Com a defesa mais fortalecida, o Santos se lançou mais ao ataque e, aos quatro minutos, Coutinho diminuiu. O Botafogo se retraiu e, novamente pelos pés de Coutinho, o Alvinegro assinalou seu segundo gol.
Com 3 a 2 no placar, não faltariam fortes emoções até o fim da partida, mas o que sobrou foi a inaptidão na arbitragem. Num arremate forte e rasteiro de Pepe, desviado por Toninho, o goleiro Manga espalmou, mas acabou segurando a bola antes que ela transpusesse a risca do gol. O árbitro Albino Zanferrari correu para o centro do campo, validando o tento e o empate santista, mas diante dos protestos dos jogadores cariocas resolveu consultar o auxiliar. Antônio Viug contestou a marcação e o árbitro voltou atrás.
A partir daí, mais confusão. Após falta de Coutinho sobre Paulistinha, Zanferrari entendeu que o zagueiro estava retardando a partida e o expulsou. A revolta foi generalizada e o jogo só recomeçou após a entrada do policiamento em campo. Com a partida pronta para o reinício, Pelé e o goleiro Manga trocaram gracejos e também foram expulsos.
O árbitro esperou apenas a última substituição da equipe carioca para encerrar a partida. Apenas 24 068 pessoas foram ao estádio naquele domingo festivo, porém chuvoso, para ver o confronto entre dois dos melhores times do mundo. O evento fazia parte das comemorações do IV Centenário do Estado da Guanabara.
Viajar era preciso
O Rio-São Paulo de 1964 foi disputado em turno único. Com sete vitórias em nove jogos, Santos e Botafogo empataram em número de pontos, o que obrigou à decisão extra entre ambos. A regra previa uma “melhor de três”, mas os dois alvinegros já tinham viagem marcada para logo depois da primeira partida da final – o Santos para o Chile, o Botafogo para o Peru – e, por falta de datas, as duas equipes concordaram em dividir o título após a primeira partida.
O Santos, que já vinha das conquistas do Tetracampeonato Brasileiro e do Campeonato Paulista, naquele início de 1965 conquistava também o Torneio Rio-São Paulo de 1964. Com os títulos Paulista, Brasileiro (Taça Brasil) e do Rio-São Paulo de 1964, o Santos completava, desde meados de 1961, 12 títulos oficiais conquistados em 14 possíveis. Nesse período só deixou de ganhar o Paulista de 1963 e a Libertadores de 1964.
O time campeão do Rio-São Paulo de 1964, o terceiro conquistado pelo Santos, jogou com Gylmar, Ismael, Modesto, Haroldo (Lima) e Geraldino; Zito e Mengálvio; Peixinho (Toninho), Coutinho, Pelé e Pepe.[:]