Por Gabriel Pierin, do Centro de Memória
No dia 27 de dezembro de 1961, o Santos enfrentou o Bahia na segunda partida da decisão da Taça Brasil, na Vila Belmiro, e venceu por 5 a 1. A vitória garantiu o primeiro título brasileiro do Santos e a chance de disputar a Libertadores no ano seguinte.
O Campeonato Brasileiro de Futebol de 1961, originalmente denominado Taça Brasil pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos), foi a terceira edição do Campeonato Brasileiro e contou com a participação de dezoito equipes (dezessete campeões estaduais e o campeão da edição anterior), sendo que os campeões dos estados de São Paulo e de Pernambuco, estados finalistas do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, assim como ocorreu em 1960, já entravam na fase final.
Para muitos o Santos de 1961 já era o melhor time do Brasil, mas faltava o título. Na primeira Taça Brasil, em 1959, a equipe perdeu a decisão justamente para o Bahia. Porém, com o título estadual de 1960 surgiu nova oportunidade para disputar o torneio e vencer a Taça. Pelo regulamento o Santos entrou direto na fase semifinal para enfrentar o campeão da chave Zona Sul, o América. A equipe, campeã da Guanabara de 1960, classificada após vencer o Palmeiras nas quartas-de-final, era uma forte candidata ao título. O Santos precisou de três partidas para passar para a final.
No primeiro jogo, em São Januário, o Alvinegro goleou o América por 6 a 2, com três gols de Pepe, dois de Pelé e um de Coutinho. Em seguida, surpreendentemente, perdeu na Vila Belmiro por 1 a 0, em jogo conturbado, no qual o árbitro Armando Marques expulsou Pelé. Na partida desempate, goleou no Pacaembu por 6 a 1, com dois gols de Pelé, dois de Coutinho, um de Dorval e um de Pepe.
Na final veio o Bahia. O campeão baiano venceu a chave Zona Norte e, na fase semifinal, passou pelo Náutico, campeão pernambucano, com um empate e uma vitória. Contra o Santos, o primeiro jogo foi marcado para Salvador, dia 22 de dezembro, e o segundo na Vila Belmiro, dia 27. Era a chance de vingar a derrota de 1959 e levantar o troféu inédito.
Uma revanche histórica
Campeão brasileiro em 1959 sobre o Santos, o Bahia encheu o estádio da Fonte Nova no primeiro jogo da final. O público de 41 893 pessoas trouxe a renda recorde de Cr$ 7 441 400,00.
O Santos não se intimidou e logo aos três minutos abriu o marcador, com Coutinho. O experiente campeão baiano equilibrou a partida e aos oito minutos do segundo tempo Marito aproveitou um rebote de Laércio e empatou o jogo. O resultado transferiu ainda mais emoção para o jogo da volta, na Vila Belmiro.
Na noite de quarta-feira, 27 de dezembro, o público de 18 662 pessoas pagaram ingresso para assistir ao jogo final no Estádio Urbano Caldeira. O árbitro baiano Bayonilzo Lisboa foi escalado para apitar a partida.
Do lado do Santos, o técnico Lula manteve o mesmo time que atuou em Salvador: Laércio (Silas), Lima, Mauro (Olavo) e Dalmo; Calvet e Zito; Dorval, Tite, Coutinho, Pelé e Pepe. Escalado por Armando Simões, o Bahia jogou com Nadinho (Jair), Agnaldo, Henrique, Vicente e Florisvaldo; Flávio e Mário; Marito, Alencar (Carlito), Léo (Didico) e Biriba.
O Santos começou inspirado e criou três chances em apenas dois minutos. O Bahia recuou e chegou a colocar oito jogadores no seu campo de defesa. O goleiro Nadinho foi o destaque da equipe, fazendo grandes defesas.
A atitude defensiva nada adiantou. Aos 26 minutos veio o primeiro gol. Henrique cometeu falta em Pelé. O ponta-esquerda Pepe cobrou rasteiro para Coutinho que tocou para o Rei. O meia chutou no canto esquerdo do goleiro Nadinho e abriu a contagem.
O Bahia ainda estava se refazendo do gol sofrido, quando Pelé aproveitou o descuido de Florisvaldo, roubou a bola, fintou dois zagueiros e tirou do goleiro para fazer 2 a 0 aos 30 minutos.
Um minuto depois veio o terceiro. Pelé tocou para Coutinho chutar para o gol. Nadinho rebateu e Pelé concluiu para as redes. Aos 33 foi a vez de Coutinho. O centroavante passou por dois adversários e chutou de pé esquerdo para ampliar o marcador.
O primeiro tempo terminou 4 a 0. Na volta do intervalo, o Santos relaxou e marcou apenas mais um gol aos 16 minutos. Coutinho tabelou com Pelé, passou pelo zagueiro e fez o quinto da partida.
O Bahia fez o seu gol de honra aos 44 minutos. O zagueiro santista Olavo acabou caindo sobre o atacante Alencar e o árbitro marcou a penalidade. Florisvaldo cobrou com violência e deu os números finais a partida: 5 a 1.
Não havia tempo para mais nada. Com a vitória expressiva o Santos levantava a Taça de Campeão Brasileiro pela primeira vez, numa sequência de cinco vezes entre os anos 1961 e 1965.
Taça e Flores
O primeiro-ministro Tancredo Neves (na época o Brasil experimentara o breve regime parlamentarista), representado pelo sr. Paulo Machado de Carvalho, vice-presidente da CBD, entregou ao Santos, um ramo de flores. O capitão Zito, que recebeu a Taça Brasil dos dirigentes da CBD, deu uma volta no gramado exibindo o troféu ao público. A Vila Belmiro estava em festa.
Com o título brasileiro, veio a Libertadores e o Mundial
A conquista da Taça Brasil garantiu a vaga para a Copa Libertadores no ano seguinte. Em 1962 o Santos não só se tornou o primeiro a vencer o torneio sul-americano, como também alcançou a primazia no Mundial de Clubes.
Enfim, era o início da maior hegemonia de um time brasileiro na história. Entre os anos 1961 a 1963 o Alvinegro Praiano colecionaria nada menos do que nove títulos oficiais consecutivos.