A conquista do Octogonal do Chile, ou Torneio Nicolau Moran

Por Gabriel Santana, do Centro de Memória
Com cinco vitórias e uma derrota, o Santos chegou à última rodada do torneio Octogonal do Chile, na noite de 5 de fevereiro de 1968, com os mesmos oito pontos de seu adversário, a Seleção da Alemanha Oriental. Os alemães, de invejável preparo físico, vinham invictos, com quatro vitórias e dois empates. A expectativa pela decisão e a adoração dos chilenos pelo Santos e por Pelé atraíram um público de 67.862 pessoas ao Estádio Nacional de Santiago.
Até ali o Santos derrotara a Seleção da Tchecoslováquia por 4 a 1, a Universidad Católica, do Chile, também por 4 a 1; o Vasas, da Hungria, por 4 a 0; perdera para a Universidad de Chile por 2 a1; vencera o Racing, da Argentina, por 2 a1, e o Colo Colo, do Chile, por 4 a 1. Fizera 19 gols e sofrera seis, com um saldo de 13. Seus jogos tiveram um público médio de 47 mil pessoas.
A Alemanha Oriental empatara com o Vasas por 3 a 3 e com a Seleção da Tchecoslováquia por 2 a 2. No mais, vencera seus jogos com relativa facilidade. Marcara 21 gols e sofrera 11.
O caminho da conquista
O primeiro adversário do Peixe foi a forte Seleção da Tchecoslováquia. Os chilenos ainda se lembravam do jogo memorável do Hexagonal do Chile de 1965, em que o Santos venceu os tchecos por 6 a 4 e no dia seguinte um jornal de Santiago saiu com a manchete: “Em nenhum lugar do mundo se viu futebol assim”. Em 1968, perante um público de quase 70 mil pessoas, o Alvinegro goleou por 4 a 1, com dois gols de Toninho Guerreiro, um de Negreiros e um, contra, do zagueiro Taborski.
No segundo desafio, mais um triunfo por 4 a 1, dessa vez sobre a Unversidad Católica, vice-campeã chilena, com dois gols de Carlos Alberto Torres, um de Toninho Guerreiro e outro de Negreiros. Pelé, que tinha sido substituído por Douglas na primeira partida, não jogou contra os chilenos.
O Vasas, de Budapest, bicampeão húngaro em 1965/66, foi o terceiro obstáculo santista. Mesmo sem estar totalmente recuperado, Pelé abriu o marcado aos 16 minutos de jogo. Depois, Edu, duas vezes, e Toninho Guerreiro completaram o placar de 4 a 0.
Em seguida, sem Pelé, o Santos sofreu seu único revés da competição. Perdeu por 2 a 1 para a Universidad de Chile, campeã chilena de 1967. Edu fez empatou o jogo aos 30 minutos do segundo tempo, mas Ayala, aos 36, desempatou para a Universidad.
Na rodada seguinte o Alvinegro se recuperou da derrota ao derrotar o Racing, campeão mundial de 1967, por 2 a 1, com gols de Orlandinho e Toninho Guerreiro. O jogo foi dramático. Com um jogador a menos, pois Joel Camargo foi expulso, e sem Pelé, o Alvinegro buscou forças para desempatar a partida aos 40 minutos do segundo tempo.
Em 2 de fevereiro, sexta-feira, data da penúltima partida, uma tragédia abalou a equipe santista. O dirigente e ex atleta Nicolau Moran, que chefiava a delegação, faleceu no dia confronto com o Colo-Colo. Moran estava internado devido a uma hemorragia estomacal e não resistiu.
Mesmo abalado com a morte de seu querido dirigente, o time santista jogou com hombridade e venceu a popular equipe chilena por 4 a 1. Antes da partida, os atletas afirmaram que a melhor homenagem a Moran seria a conquista do título. Toninho Guerreiro, Clariá (contra), Douglas e Edu marcaram para o Santos.
Homenagem e a mais uma taça
Antes da última rodada os promotores do octogonal decidiram nomeá-lo “Torneio Nicolau Moran”. Além de dirigente, Moran foi um destacado atleta do Peixe no período de 1931 a 1940. Atuou em 141 jogos e marcou 27 gols.
Para a decisiva partida, diante dos invictos alemães orientais, o técnico Antoninho mandou a campo Cláudio, Carlos Alberto Torres (depois Negreiros), Ramos Delgado, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo e Lima; Wilson, Toninho Guerreiro, Douglas e Edu. Ainda em recuperação, Pelé não pode mesmo jogar a final.
A Alemanha foi escalada com Welgang, Urbanczyck, Wruck, Bransch, Kormer e Frassdorf; Hoge e Noldner (Kreige); Frenczel, Irmscher e Vogel. Arbitrada pelo chileno Claudio Vicuna, a partida teve um público de 67.862 presentes.
Mal a partida tinha começado e, aos cinco minutos, teve de ser paralisada, pois o árbitro pediu aos atletas do Santos que trocassem de calção, pois os uniformes das equipes estavam parecidos. Os dirigentes do Santos negaram a troca. O Racing ofereceu suas camisas azuis para o Peixe, mas a oferta também foi recusada. A solução foi a Alemanha trocar as cores de sua camisa.
Retornando à partida, a partir dos 15 minutos o Santos tomou conta das ações e pressionou a Seleção alemã, principalmente nos minutos finais da primeira etapa. Acuados, os europeus conseguiam apenas armar alguns contra-ataques, mas nenhum com sucesso.
A melhor chance do primeiro tempo veio por intermédio de Toninho Guerreiro. O centroavante superou seis alemães e chutou, obrigando o goleiro a realizar grande defesa. Já no fim da primeira etapa, Carlos Alberto, machucado, teve de ser substituído por Negreiros.
Lima foi deslocado para a lateral direita, Negreiros entrou no meio de campo e o time melhorou ao mudar seu esquema de jogo de 4-2-4 para 4-4-2. Logo aos 7 minutos do segundo tempo Toninho abriu a contagem, em uma linda cabeçada. Aos 20 minutos o Negreiros ampliou a vantagem. E aos 33 minutos, ele de novo, fez o terceiro tento santista. A Alemanha ainda diminuiu, com Vogel, aos 45 minutos, mas não havia tempo para uma reação.
Com o título, foi cumprida a homenagem prometida a Nicolau Moran, um dirigente amigo dos jogadores. Negreiros, um dos que mais sentiu a morte de Moran, reuniu forças para entrar em campo e lutar pela vitória e o título do torneio que eternizou o nome do grande dirigente santista.

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