Por Gabriel Pierin, do Centro de Memória
Disputada na noite de 3 de janeiro de 1957, uma quinta-feira, no Pacaembu, a decisão do Campeonato Paulista de 1956 acabou premiando as duas melhores equipes do torneio. Santos e São Paulo terminaram a fase final empatados com 30 pontos ganhos e decidiram o título em um jogo extra.
O Campeonato Paulista de 1956 trouxe como novidade a disputa de uma fase classificatória. As dez melhores equipes dessa fase disputariam entre si a fase final, chamada Série Azul. As novas regras intensificaram as disputas, aumentando a renda e o público nos estádios. A opinião pública e os jornalistas aprovaram o formato da competição.
O Santos terminou a fase de classificação em primeiro lugar, invicto. Na fase final sofreu suas únicas três derrotas, para Corinthians, São Paulo e Palmeiras. Depois de terminar a fase de classificação apenas em terceiro, o São Paulo cresceu na fase final e dividiu com o Santos a liderança e a chance de conquistar o título.
A última rodada tinha sido emocionante. No dia 27 de dezembro o São Paulo superou o Palmeiras por 5 a 3, chegou aos 30 pontos e ficou torcendo por um tropeço do Santos diante do Corinthians para levantar a taça. O Clássico Alvinegro ocorreu dois dias depois, no mesmo Pacaembu. Determinado, o time do técnico Lula foi com tudo para cima do rival e venceu por 2 a 1.
A imprensa destacava o equilíbrio de forças entre as equipes finalistas e não apontava um favorito. A possibilidade da prorrogação, ou até mesmo de um novo confronto, caso persistisse o empate, não estavam descartadas.
Cerca de 51 500 pessoas compareceram ao Pacaembu para ver a grande final. O time de Vila Belmiro entrou em campo com Manga, Wilson e Feijó; Ramiro, Formiga e Zito; Tite, Jair da Rosa Pinto, Pagão, Del Vecchio e Pepe. O técnico Feola armou o time da capital com Borelli, Clelio e Mauro; Sarará, Vitor e Alfredo; Maurinho, Zezinho, Gino, Dino e Canhoteiro.
A expectativa era de um jogo equilibrado. O São Paulo tinha o melhor ataque da Série Azul e o Santos, atual campeão do torneio, a melhor defesa e um poderoso ataque. No entanto, Vasconcelos, um dos destaques da equipe, estava fora. O atacante havia quebrado a perna em uma partida justamente contra o São Paulo, rodadas antes.
O árbitro inglês Erwin Hieger deu início ao jogo e a contagem foi aberta logo aos nove minutos. Clélio cobrou falta na intermediária santista, Gino saltou mais do que a zaga e desviou a bola para trás. Ela acabou sobrando para Zezinho, que girou o corpo para chutar e marcar o primeiro gol da partida sobre o goleiro Manga.
Com a vantagem no marcador, os são-paulinos alteraram o seu padrão de jogo, valendo-se das jogadas de contra-ataque. Os santistas aumentaram a pressão e a estratégia acabou dando certo. Em uma jogada despretensiosa pela lateral do campo, a zaga são-paulina acabou se complicando e o lance terminou em pênalti a favor dos santistas, convertido por Feijó. O tricolor se recuperou ainda no primeiro tempo e, aproveitando uma falha na retaguarda santista, desempatou o jogo, novamente com Zezinho.
O Santos voltou para a etapa complementar disposto a mudar o cenário da partida e garantir o bicampeonato paulista pela primeira vez na sua história. Tite empatou aos 18 minutos e um inspirado Del Vecchio virou o jogo aos 26 e ampliou aos 34 minutos. Assim, com um incontestável 4 a 2, o Santos sagrava-se bicampeão estadual.
Para chegar ao título de 1956 o Alvinegro venceu a fase de classificação com 30 pontos ganhos, um a mais do que o Corinthians, e venceu também a fase final, ou Série Azul, empatado com o São Paulo. Na soma geral conquistou 62 pontos, sete a mais do que o São Paulo; obteve 29 vitórias, quatro a mais do que o tricolor, e perdeu apenas três vezes, metade do vice-campeão.
Era o início da supremacia santista e dos anos de ouro. Naquele inesquecível 1956, além do bicampeonato paulista, ficaria gravada na memória dos santistas a estreia de Pelé, em um amistoso contra o Corinthians de Santo André, em 7 de setembro. Junto com o esquadrão Alvinegro, o Rei do futebol desfilaria a arte do futebol brasileiro pelo mundo, em conquistas memoráveis.