Eu era dos incrédulos 9.437 espectadores presentes ao “Alçapão da Vila” na chuvosa tarde de sábado dia 21 de novembro de 1964 na partida em que o Santos FC triturava a equipe do Botafogo de Ribeirão Preto na Vila Belmiro pelo Campeonato Paulista ao vencer pelo dilatado placar de 11 a 0. O Rei Pelé marcou 8 gols nessa vitória espetacular formando o Peixe com: Gilmar; Ismael, Modesto, Geraldino e Haroldo; Lima e Mengálvio; Toninho, Coutinho, Pelé e Pepe. O técnico era Luiz Alonso Perez, o Lula.
O jornal “A Gazeta Esportiva” no dia seguinte publicou com destaque na primeira página a seguinte manchete “SACI” da Vila marcou oito gols!. Pelé superou Fried depois de 35 anos.
Além do Rei goleador também marcaram Pepe, Coutinho e Toninho Guerreiro. O detalhe maior é que o gol marcado pelo ponta-esquerda Pepe foi um gol olímpico e não recebeu o merecido destaque da imprensa que enalteceu apenas os 8 gols do Rei. O “Pantera da Mogiana” apelido do time botafoguense era dirigido pelo técnico Osvaldo Brandão, o popular “Caçamba” que depois da goleada sofrida pediu demissão do cargo e foi dirigir a equipe do Corinthians que era 14 dias depois impiedosamente goleado no dia 05 de dezembro de 1964, no Pacaembu pelo placar de 7 a 4 com o Rei marcando 4 gols e Coutinho 03 gols.
O recorde de gols em uma só partida no Brasil, do eterno Rei Pelé durou até o ano de 1976 sendo superado por Dário, o Dadá Maravilha, que marcou 10 gols na vitória do Sport Recife contra o Santo Amaro, antes o recorde do Rei tinha sido igualado por Jorge Mendonça que marcou 08 gols na vitória do Náutico contra o mesmo caixa de pancadas que atende pelo nome de Santo Amaro no estado de Pernambuco.
Pelé em toda a sua carreira jogando pelo Alvinegro Praiano o Rei marcou 1091 gols em 1116 partidas oficiais.
Antes do Atleta do Século atingir essa marca fantástica de gols em uma só partida, o maior goleador do time santista era Araken Patusca que marcou 7 gols na vitória de 12 a 1 diante do CA Ipiranga da capital na Vila Belmiro pelo campeonato paulista. Araken Patusca em homenagem ao Rei escreveu a ele a seguinte carta:
“Pelé você me suplantou. Você me venceu. Você marcou 8 tentos numa partida oficial de campeonato. Eu marquei 7. Meus olhos se turvaram. Eram lágrimas que os umedeciam, e que traduziam não a amargura pela perda de um recorde de 37 anos, mas que eram, e isso sim, o testemunho de uma recordação.
Pelé – naquela mesma cidade. Santos, a minha cidade, naquela mesma cancha, Vila Belmiro, ante a mesma torcida vibrante do Campeão da Técnica e da Disciplina, com aquela mesma camisa, que seria a de número 10, se numerada fosse, eu em 1927, conseguia 7 tentos em jogos de campeonato.
Dois anos depois, em 1929 fui alcançado no recorde pelo mestre da época, Arthur Friendenreich. Durante 37 anos fui o recordista, acompanhado em 35 anos pelo grande Arthur Friendenreich. Pelé – você sucede na tabela de artilheiros recordistas, não a este pequeno Araken Patusca, mas ao rei do passado – Arthur Friendenreich.
A César o que é de César”.
Guilherme Guarche – Coordenador do Centro de Memória e Estatística