Por Gabriel Pierin, do Centro de Memória
Diante de 70 mil pessoas presentes no Estádio da Luz, em Lisboa, o Santos goleava o Benfica por 5 a 2 para se tornar o primeiro time brasileiro campeão mundial.
O Peixe já havia vencido a partida de ida, por 3 a 2, em um Maracanã com mais de 90 mil espectadores. Por sua vez, o Benfica acreditava na vitória em casa e na realização da terceira e última partida. O clube português tinha motivos para isso, afinal era o bicampeão europeu, título que conseguiu ao vencer o poderoso Real Madrid de Puskas e Di Stéfano por 5 a 3, em Amsterdam, em maio daquele ano.
Naquela noite mágica de quinta-feira, 11 de outubro de 1962, há exatos 62 anos, o técnico Lula foi decisivo na armação da equipe. Com a ausência de Mengálvio, machucado, Lula lançou Lima no meio-campo ao lado de Zito. Na lateral direita, o técnico contou com o experiente Olavo.
O jogo foi muito disputado até a abertura do placar. Gylmar fez algumas defesas empolgantes nas investidas dos atacantes portugueses, enquanto o time santista procurava armar suas jogadas e encontrar os espaços no campo.
Aos 17 minutos veio o primeiro gol. Coutinho deu um passe para Pepe que correu e chutou forte. Na passagem da bola, Pelé deu um carrinho para alcançar o cruzamento e vencer o goleiro Costa Pereira pela primeira vez.
Dez minutos depois, o gol de placa. Pelé recebeu a bola de Zito, driblou três jogadores e finalizou com um chute cruzado, superando mais uma vez o goleiro português. O primeiro tempo terminou com a vantagem de 2 a 0.
O Santos ampliou logo no início da segunda etapa. Aos 3 minutos, Pelé recebeu um passe de Lima, passou por dois e deixou Coutinho em condições de empurrar a bola para o gol.
Aos 19, o time de Vila Belmiro voltava a marcar. Pelé passou a bola entre as pernas de Coluna, correu entre os adversários e chutou forte para o gol. O goleiro rebateu e Pelé na corrida estufou as redes. Pepe marcou seu gol aos 31 minutos. Depois de trocar passes com Pelé, o ponta-esquerda aproveitou a falha do goleiro após o chute e completou para o gol.
Com 5 a 0 no marcador, o Alvinegro relaxou. O Benfica aproveitou a oportunidade para marcar aos 41 e 44 minutos, com Eusébio e Santana, colocando números finais à partida: 5 a 2.
Os heróis dessa conquista inesquecível foram Gylmar, Olavo, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Lima; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. O Benfica jogou com Costa Pereira, Humberto, Raul e Cruz; Cavem e Jacinto; José Augusto, Santana, Eusébio, Coluna e Simões. O árbitro foi Pierre Schwinté, da França.
Santos melhor que o Benfica
Era a quarta vez que os times de enfrentavam e pela quarta vez o Alvinegro vencia o adversário europeu. O primeiro confronto ocorreu em 1957 na Vila Belmiro e o Santos venceu o amistoso por 3 a 2. Em 1961, as equipes se enfrentaram pelo Torneio de Paris e o Peixe aplicou uma goleada de 6 a 3.
Nos dois triunfos pelo Mundial Interclubes de 1962, duas vitórias: 3 a 2 no Maracanã e 5 a 2 no Estádio da Luz. O Santos marcou oito gols e sofreu quatro. Com dois gols no Rio e três em Lisboa, Pelé se tornou o maior artilheiro de uma decisão Interclubes, primazia que se mantém até hoje.
Santos do Brasil e do Mundo
O futebol brasileiro alcançou dois grandes êxitos no ano de 1962. Primeiro foi a conquista da Jules Rimet pela segunda vez consecutiva com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo do Chile. Com o Santos, ao confirmar a vitória sobre o Benfica, firmou a supremacia brasileira ao levar o título mundial interclubes inédito para o País.
Outros times brasileiros foram campeões do mundo depois disso. O próprio Santos se tornou o primeiro bicampeão mundial em 1963, mas nenhum outro conseguiu o título ao golear o campeão europeu na Europa.