1967, nono título em 13 anos

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Como se sabe, o Santos dominou o futebol paulista de 1955 a 1969, período em que ganhou 11 títulos estaduais. Porém, nem todas as conquistas foram folgadas. Em 1967 o time titubeou nas últimas rodadas e alguns especialistas já previam a sua decadência. Só que não contavam com uma reviravolta na reta final e mais um título indiscutível, ganho na noite chuvosa de 21 de dezembro, em um Pacaembu superlotado.
Depois do difícil ano de 1966, em que ganhou só o Torneio Rio-São Paulo, e mesmo assim dividido com Corinthians, Botafogo e Vasco – temporada que provocou a substituição do técnico Lula por seu auxiliar Antoninho –, o Santos estava chegando ao fim de 1967 sem nenhuma outra conquista. Santos e Seleção Brasileira – eliminada na fase de grupos da Copa da Inglaterra – tinham vivido um ano para esquecer. E em 1967 o título Estadual parecia querer fugir do Alvinegro nas últimas rodadas.
Quatro empates consecutivos, contra Comercial de Ribeirão Preto (1 a 1), São Bento (1 a 1), Portuguesa de Desportos (0 a 0) e Guarani (1 a 1), tiraram o Santos da liderança a duas rodadas para o final e a deixaram para o São Paulo, com um ponto perdido a menos.
Na penúltima rodada, enquanto o São Paulo venceu o Guarani, em Campinas, por 2 a 0, o Santos se recuperou das últimas exibições e bateu o Corinthians por 2 a 1 em um Morumbi com 47.631 pessoas. O resultado tirou o alvinegro da capital da luta pelo título. Sobraram o São Paulo, que na última rodada enfrentaria o Corinthians, no Morumbi, e o Santos, que jogaria contra a Portuguesa Santista no estádio Ulrico Mursa.
O Santos tinha um recurso a ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça que poderia lhe dar um ponto do jogo contra o Comercial de Ribeirão Preto, mas na tabela o São Paulo era o líder, com um ponto de vantagem. E ficou mais perto do título aos 24 minutos do segundo tempo, quando Lourival acertou um chute forte e abriu o marcador contra o Corinthians. Enquanto isso, em Santos, o Alvinegro Praiano vencia a Portuguesa Santista por 2 a 1.
A torcida são-paulina já comemorava o título, que viria dez anos depois do último Paulista ganho pelo tricolor, quando Edson cruzou, Ditão cabeceou, Picasso não conseguiu segurar e Benê empurrou para as redes, empatando a partida a um minuto do final. Em Santos, ao saber da notícia do empate no Pacaembu, o Alvinegro se animou e Edu ainda marcou o terceiro gol. Empatado em pontos com o São Paulo, o Santos abriu mão do recurso e concordou em decidir o título em campo.

Marcou-se a finalíssima para a noite de quinta-feira, 21 de dezembro, no Pacaembu, com arbitragem de Armando Marques. O técnico Antoninho confirmou a mesma equipe que vinha jogando: Cláudio, Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo e Buglê; Wilson, Toninho, Pelé e Edu. No São Paulo, Silvio Pirillo tinha um sério problema para escalar o time.
O zagueiro central Jurandir sofrera uma distensão muscular no clássico com o Corinthians e deveria ser substituído por Bellini, capitão do Brasil na Copa da Suécia. Só que Bellini já tinha 37 anos e parecia uma temeridade colocá-lo para enfrentar uma dupla de área rápida e habilidosa como Toninho e Pelé.
De qualquer forma, sem outra opção, Pirillo armou o tricolor com Picasso, Renato, Bellini, Dias e Edilson; Lourival e Nenê; Válter, Babá, Djair e Paraná. Apesar da chuva, 43.627 torcedores compareceram ao Pacaembu para apreciar o duelo, que apresentou o recorde de arrecadação no futebol paulista, com 151 808 cruzeiros novos.
Implacável como sempre nas decisões, o Santos pressionou desde o início e aos 12 minutos já vencia por 2 a 0, gols de Edu aos 10 e Toninho aos 12. Os gols tiveram assistência de Pelé e em ambos ficou evidente a indecisão do miolo de zaga tricolor. O São Paulo só diminuiria no finzinho, quando não havia mais tempo para impedir novo título estadual santista. No dia seguinte, o jornal Última Hora definiu assim a vitória do novo velho campeão:
O Santos começou arrasador, marcando seus dois gols nos primeiros 12 minutos, por intermédio de Edu e Toninho. Depois, seus atacantes perderam inúmeras oportunidades, chutaram três bolas na trave e encontraram em Picasso um goleiro excepcional, com defesas milagrosas. O São Paulo, lutando até o fim, fez seu gol, quando faltavam dois minutos para terminar, numa jogada de Babá.
Este foi o nono título ganho pelo Santos em treze anos: 1955, 56, 58, 60, 61, 62, 64, 65 e 67 – o que demonstra a total supremacia da equipe santista no futebol de São Paulo.  
Como se sabe, o período de maior domínio do Santos no Campeonato Paulista se prolongou até 1969, quando, em 15 anos, o Alvinegro Praiano levantou 11 taças. No mesmo período, o Palmeiras levantou três, o São Paulo uma e o Corinthians nenhuma.

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