1960, a década de ouro

Por Gabriel Davi Pierin, do Centro de Memória
A conquista do Paulista de 1960 teve um sabor de revanche para o Santos. O time havia perdido o campeonato do ano anterior em uma melhor de três para o Palmeiras e em 1960 calhou de o Palmeiras ser o adversário do Santos na última rodada, na noite de sexta-feira, 16 de dezembro, em que a Vila Belmiro acolheu um público aproximado de 27 400 pessoas.
Perder o título estadual de 1959 impediu o Santos de disputar a Taça Brasil de 1960, o Campeonato Brasileiro da época, o que adiou o sonho de alcançar o título nacional. Na mesma temporada de 1960 o Alvinegro já tinha acumulado outros revezes, como perder a decisão da Taça Brasil de 1959, jogada em março de 1960, no Maracanã, e terminar apenas em oitavo lugar o Torneio Rio-São Paulo. Restava o Campeonato Paulista.
Há duas rodadas para o final o Santos liderava com dois pontos ganhos a mais do que a surpreendente Portuguesa, mas perdeu para o São Paulo por 2 a 1, em sua primeira partida no Morumbi. Para sorte dos santistas, no mesmo dia a Portuguesa também foi derrotada, pelo Noroeste, em Bauru, por 5 a 2, o que levou a decisão para a última rodada.
Com um bom time, que no segundo turno chegou a derrotar o Santos por 4 a 3, na Vila Belmiro, a Portuguesa venceu o Jabaquara por 2 a 0 no seu último jogo, dia 14 de dezembro, e ficou à espera do clássico entre Santos e Palmeiras. Uma derrota santista e a Portuguesa teria a oportunidade de decidir o título com o Santos.
Seis pontos ganhos atrás do Alvinegro Praiano, ao alviverde só restava impedir o triunfo do rival. Mas, na Vila, o clima era de vitória. O jogo começou com um Santos implacável. A um minuto Zito recebeu a bola na entrada da grande área e chutou forte e rasteiro para abrir o marcador.
O Santos continuou atacando e levando perigo ao gol adversário, mas o Palmeiras conseguiu equilibrar a partida, encaixando bons contra-ataques. Aos 34 minutos, Zé Carlos derrubou Julinho com uma entrada violenta. Chinezinho cobrou a falta sobre a barreira e a bola ainda bateu na trave antes de procurar as redes do goleiro Laércio. Era o empate.
Pelé ainda fez um lance extraordinário antes do fim da primeira etapa. Recebeu a bola de Pepe no meio da área, matou no peito e completou com um poderoso chute na trave. O empate garantiria o título, mas o Alvinegro queria mais.
O time voltou para a etapa complementar com a mesma disposição. Poderia ter desempatado com Dorval, Pepe e Zito, em chances claras de gol. A vitória acabou vindo dos pés de Pelé. Aos 15 minutos, após fazer uma tabela com Coutinho, o artilheiro máximo do futebol desferiu o chute fatal contra a meta do goleiro Valdir.
O time da capital não se entregava, mas era o Santos quem continuava criando as melhores oportunidades. Pepe quase faz o terceiro gol no último minuto. Em seguida, o árbitro João Etzel Filho apitou o final da partida. Vila Belmiro em festa novamente. Zito e Pelé, o líder e o craque do time, eram os mais radiantes.
O Santos voltava a ganhar o Campeonato Paulista, com 50 pontos ganhos, 22 vitórias, 100 gols a favor e 44 contra, saldo de 56 gols. O campeão perdeu apenas seis das 34 partidas disputadas. A Portuguesa, segunda colocada, terminou com o mesmo número de vitórias. Com 34 gols, Pelé foi o artilheiro do Paulista pela quarta vez consecutiva. Silvio, da Portuguesa, ficou em segundo, com 28.
O time daquela noite, escalado pelo técnico Lula, jogou com Laércio, Dalmo, Mauro, Zé Carlos, Calvet, Zito, Sormani (depois Dorval), Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Com a vitória que representou uma vingança contra o algoz de 1959, o Santos não só conquistava o Campeonato Paulista de 1960, como inaugurava a década mais vitoriosa de um time de futebol. A década de ouro.

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