14 de abril, um dia iluminado

Do Centro de Memória
O dia em que o Santos nasceu tem lhe proporcionado grandes alegrias. Nesses 108 anos de vida, alguns sucessos extraordinários – para muitos indícios de que os deuses do futebol jamais abandonaram o Alvinegro Praiano – têm ocorrido nesse abençoado 14 de abril. Se não, vejamos…
Como imaginar que um clube com apenas seis anos de vida, que participara de apenas três campeonatos paulistas, pudesse desafiar, no dia do seu aniversário, o conceituado Botafogo de Futebol e Regatas, um dos expoentes do esporte na Capital Federal, fundado em julho de 1894, três vezes campeão e quatro vezes segundo colocado do campeonato carioca? Pois aquele Santos, que já trazia na alma a ousadia dos fortes, não se intimidou.
No domingo de comemorações, 14 de abril de 1918, em uma Vila Belmiro que ainda não tinha dois anos, lá estava o esquadrão da capital federal adentrando o gramado com Cazuza (depois Abreu), Americano e Osny; Franco, Adherbal e Pino; Léo, Petiot, Santinho, Menezes e Celso.
Para enfrentá-los, o Santos apresentou Costa e Silva, Américo e Arthur; Pereira, Jarbas e Ricardo; Adolpho Millon, Marba, Ary Patusca, Haroldo Domingues e Arnaldo Silveira. O destaque do time era o ataque, do qual Millon, Haroldo e Arnaldo seriam convocados para o Campeonato Sul-americano de 1919.
Mal o árbitro Godinho Cerqueira apitou para começar a partida e já se percebeu que o Santos estava naqueles dias insaciáveis. O Botafogo resistiu na primeira meia hora de jogo, mas entre os 33 e os 40 minutos o Alvinegro Praiano marcou quatro gols, três deles do resoluto centroavante Ary Patusca.
A situação não mudou muito na segunda etapa, com o Santos marcando mais quatro gols, dois deles de Adolpho Millon. O visitante fez seus dois golzinhos quando já perdia por 6 a 0. E assim o Santos triunfou por 8 a 2, na maior goleada já obtida sobre o Botafogo.
Guarani também levou oito
Em outro 14 de abril, dessa vez uma quarta-feira à noite, em 2010, o irresistível bando de garotos liderado por Neymar, Ganso e Robinho e coadjuvado por André, Madson, Wesley e Arouca, sapecou 8 a 1 no Guarani, pela Copa do Brasil. Só Neymar, que já despontava como o grande craque do País – mesmo sem ter sido convocado para a Copa da África do Sul – fez cinco gols nesse jogo.
O interessante dessa goleada é que ela representou o décimo jogo seguido em que o Santos marcou, ao menos, três gols por partida. Nessa sequência se incluíam mais duas goleadas estrondosas: 10 a 0 na Naviraiense e 9 a 1 no Ituano. Como se voltasse aos tempos de Pelé, Coutinho, Dorval e Pepe, o time de Neymar marcou 53 gols nesses 10 jogos, média impressionante de 5,3 por partida.
O milagre de Assunção
No ano seguinte o dia do aniversário do Santos foi permeado de angústia. À noite o time jogaria a sua sorte na Copa Libertadores contra o forte Cerro Porteño, em Assunção, e estaria desfalcado de Neymar, Elano e Zé Love. Um empate já poderia tirar o time da fase seguinte da competição.
Sem muitas opções, o técnico Muricy Ramalho montou o ataque com Diogo (depois Maikon Leite) e Keirrison (depois Alex Sandro). Na mídia social, jornalistas-torcedores de outros clubes ironizavam, dizendo que no dia do seu aniversário o Santos seria premiado com a desclassificação.
Porém, como se sabe, o Alvinegro fez uma partida quase perfeita, soube se defender muito bem e deu pontadas certeiras, marcando dois gols, com Danilo e Maikon Leite. O Cerro só fez o seu nos acréscimos. A vitória , por 2 a 1, levou o Alvinegro à frente, até chegar ao seu terceiro título da Libertadores.
Um convidado indigesto
Ao mesmo tempo em que joga mais motivado em seu aniversário, o Santos parece se sentir muito bem quando convidado para as festas de aniversários alheoios. Em maio de 1960, o Munique 1860, na época um dos mais fortes da Alemanha e rival ferrenho do Bayern de Munique, convidou o Santos para as comemorações de seu centenário. Cerca de 35 mil pessoas lotaram o estádio para ver o duelo, disputado na noite de 25 de maio de 1960, uma quarta-feira.
Talvez o fato de ter jogado apenas dois dias antes, em Katowicz, na Polônia – e goleado a Seleção Polonesa por 5 a 2 – pudesse ter cansado ou ao menos diminuído o ímpeto dos santistas, devem ter acredito os dirigentes do Munique. Mas qual…
Com uma exibição encantadora, que pode ser apreciada no Youtube, o Santos goleou a equipe alemã por 9 a 1, com três gols de Pelé, três de Pepe, um de Coutinho, um de Zito e um de Sormani (o link para assistir aos melhores momentos do jogo é “27/5/1960 Santos FC 9 X 1 TSV 1860 München). É claro que o Munique jamais voltou a convidar o Alvinegro Praiano para ajudar a soprar as velinhas.
Almoço azedo
Em 1º de setembro de 1927, uma quinta-feira, o alvinegro da capital paulista completou 17 anos de existência. Dentre as festividades estava previsto um lauto almoço, com a presença de toda a imprensa esportiva da época. Só que antes disso, no domingo, 4 de setembro, o time da capital teria de enfrentar o Santos, pelo Campeonato Paulista.
Já com cinco títulos paulistas, o alvinegro paulistano era considerado pela imprensa paulistana como o favorito para o clássico, até porque o jogo seria no Parque da Antártica Paulista, na capital, onde a equipe teria a quase totalidade dos torcedores ao seu lado. Pois bem…
Em 1927, como sabemos, o Santos tinha um ataque excepcional, que naquele ano seria o primeiro da América do Sul a fazer 100 gols em uma competição, formado por Omar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista. Era um time que não tinha medo de cara feia e jogava tão bem dentro ou fora do alçapão.
Para sintetizar a história, Camarão marcou três vezes, Araken mais três, e Feitiço e Omar completaram a goleada de 8 a 3, a maior entre os jogos completos entre as duas equipes. O almoço festivo, como se pode prever, não desceu muito bem.

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