Um clássico alvinegro de 71 anos

Por: Odir Cunha

Santistas de todo o mundo, fiquem sabendo que, historicamente, o jogo contra o Ceará tem uma diferença pequena de gols. Dois, no máximo. A única goleada ocorreu justamente na primeira partida entre ambos, há 71 anos, no estádio Presidente Vargas, em Fortaleza. Mas essa história será contada mais abaixo pelo historiador Guilherme Gomez Guarche.

Só estou aqui para dizer que tudo indica que o jogo desta quarta-feira, às 19h30, no Castelão, em Fortaleza, adiantado do segundo turno do Campeonato Brasileiro, deverá ser bem disputado. Informa o nosso Centro de Memória que Santos e Ceará já se enfrentaram 12 vezes, com seis vitórias santistas, três do alvinegro cearense e três empates, 19 gols do Santos e 13 do adversário.

Dez desses jogos foram pelo Campeonato Brasileiro e o Santos venceu seis deles, perdeu três e empatou três, marcou 12 gols e sofreu 11. Apenas no Estádio Presidente Vargas foram cinco partidas, com duas vitórias de cada lado e um empate, nove gols do Santos e oito do Ceará.

Ainda segundo o nosso Centro de Memória, os artilheiros santistas do confronto são:

1 – Caxambu, três gols.

2 – Bruno Aguiar, dois gols.

3 – Adolfrises, Aluisio Guerreiro, Borges, Diogo, Juary, Keirrison, Nélson Borges, Neymar, Nilton Batata, Oberdan, Pelé, Pirombá, Rodrygo e Pio (contra), um gol cada.

Bem, agora vamos ao artigo sobre a primeira partida e a única goleada ocorrida nesse tradicional duelo de alvinegros.

O Rei do Norte/Nordeste

Guilherme Gomez Guarche

Uma verdadeira epopeia, é assim que podemos denominar essa longeva e exaustiva excursão do Santos FC por gramados do Norte/Nordeste brasileiro iniciada em 27 de novembro de 1946, data na qual a delegação do Alvinegro Praiano deixou a cidade de São Paulo, viajando de avião pela primeira vez, em sua centenária história.

A delegação decolou do aeroporto de Congonhas a bordo de uma aeronave da empresa Transcontinental, em viagem que demorou quase 11 horas até o aeroporto de Recife, onde teria início essa magistral campanha que deu ao Santos FC o título de campeão do Norte/Nordeste.

Nesse giro, que até os dias atuais é o mais longo de todas as excursões do time santista, foram disputadas 15 partidas, com o Peixe obtendo 12 vitórias e três empates, sem sentir o sabor de uma só derrota. Caxambu, com 19 gols, e Adolfrises, com 18, foram os principais goleadores do Peixe.

Waldomiro Jamal, mais conhecido como Caxambu, tinha esse apelido por ter nascido na cidade mineira do mesmo nome, no dia 1º de novembro de 1916. Antes de jogar no Alvinegro ele estava defendendo o EC Pelotas, do Rio Grande do Sul.

Nessa épica viagem é que o alvinegro mais famoso do mundo enfrentou o Ceará Sporting Club pela primeira vez. A partida foi a sexta da excursão e terminou com a goleada santista por 5 a 2. A seguir, a ficha técnica do confronto:

Santos FC 5×2 Ceará SC, amistoso em 22/12/1946

Local: Estádio Getúlio Vargas, Fortaleza, em Ceará

Árbitro: José Nogueira (Planika)

SFC: Osni, Artigas e Expedito; Nenê, Dacunto e Ayala; Pirombá, Canhoto (Zeferino), Caxambu, Adolfrises (Maracaí) e Ruy. Técnico: Abel Picabéa.

CSC: Walter (Pintado); Saraiva e Popó; Ozéias, Odilon (Andrade) e Pereira; Balinha, Defeito, Charutinho, Lima e Mitotonio.

Gols do SFC: Caxambu (3), Adolfrises e Pirombá.

Gols do CSC: Charutinho e Odilon.

A viagem de Natal para Fortaleza foi feita a bordo do navio “Comandante Ripper”, do Lloyd Brasileiro, que zarpou da capital potiguar pela madrugada do dia 18 de dezembro, chegando à Fortaleza na manhã do dia seguinte. Na ponte metálica do cais fortalezense, a delegação foi recebida pelos representantes de todos os clubes locais e pelos presidentes da Federação Cearense e do Fortaleza Esporte Clube. Finda a troca de cumprimentos, que teve lugar no Viaduto Moreira da Rocha, a delegação rumou para o Hotel Excelsior, onde lhe foram destinados os aposentos. Ainda na capital cearense o Peixe disputou mais três partidas nesse giro, tendo vencido duas e empatado uma.

Segundo apuramos, a impressão deixada pela equipe do Santos no encontro com o Ceará SC, principalmente no segundo período, foi das melhores. Tanto assim que a crônica esportiva local teceu fartos elogios à atuação do Alvinegro. Depois que deixou a terra do poeta José de Alencar, a delegação santista, chefiada por Acácio de Paula Leite Sampaio, viajou para São Luiz nas asas da Panair do Brasil.

O retorno à cidade de Santos só ocorreu em 7 de fevereiro de 1947, após dois meses e 11 dias de viagem. A delegação foi recebida ainda na Via Anchieta, na altura da cidade de Cubatão, sendo escoltada por vários automóveis até chegar a Santos, onde parou defronte ao jornal “A Tribuna”, seguindo depois para a sede do clube, na rua Itororó, 27,no centro da cidade, local em que ocorreu um demorado e estridente foguetório de recepção a toda comitiva do lídimo representante da terra de Brás Cubas.

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