Pagão, genial, faz o gol 4000 do Santos

Odir Cunha, do Centro de Memória
Um atacante rápido e sinuoso, que parecia flutuar em campo, foi o autor do gol 4000 do Santos. Paulo César Araújo era seu nome, o bailarino Pagão, que aos 28 minutos do primeiro tempo construiu uma obra-prima para abrir o marcador contra o Fluminense, pelo Torneio Rio-São Paulo. Era um domingo, 26 de maio de 1957 e o Pacaembu recebia 17 015 torcedores, quase todos santistas, para assistir a um dos bons duelos da época.
O jogo valia pela antepenúltima rodada do torneio. O Fluminense liderava, mas uma vitória deixaria o Alvinegro a dois pontos do tricolor. Ao Santos faltaria, ainda, enfrentar América e Vasco.
Então com 22 anos, Pagão era o comandante de um ataque que, naquela partida, começou com Dorval, Álvaro, Pelé e Tite. Na verdade, Pepe era o titular da ponta-esquerda e entraria no transcorrer do jogo, no lugar de Dorval, completando a famosa linha Pe-Pe-Pe – que qualquer criança soletrava e queria dizer Pagão, Pelé e Pepe.
Um time já reconhecido pela sua fissura de marcar gols, naquela tarde o Santos jogou com Manga, Getúlio e Mourão; Fioti, Brauner e Urubatão (depois Zito); Dorval (Pepe), Álvaro (Jair Rosa Pinto), Pagão, Pelé e Tite.
O Flu tinha alguns jogadores de renome, como Altair e Telê Santana, mas o forte mesmo era o conjunto, bem montado pelo técnico Silvio Pirilo, que escalou a equipe com Vitor Gonzalez, Cacá e Roberto; Ivan (Jair Santana), Clóvis e Altair; Telê Santana, Robson, Valdo, Jair Francisco (Léo) e Escurinho (Djair). Na arbitragem, Alberto da Gama Malcher.
Domínio santista e golaço histórico
O próprio Jornal do Brasil, tradicional diário carioca – cuja versão em papel foi publicada de 1891 a 2010 – reconheceu o amplo domínio técnico santista. Ao ler a descrição do jogo dá para imaginar “o veloz e objetivo ataque santista”, como definiu o jornal, pressionando a equipe carioca, para entusiasmo do bom público no Pacaembu.
Após algumas oportunidades, finalmente o gol saiu, aos 28 minutos. Aqui vale a pena reproduzir fielmente a descrição impressa no JB:
Aos 28 minutos, numa jogada espetacular, pondo em ação toda a sua velocidade e inteligência, o comandante santista Pagão passou por dois adversários e embora perseguido de perto por Clóvis, que tentou ainda segurá-lo pela camisa, sem sucesso, invadiu a área e fulminou Vitor Gonzalez com um tiro seco, sem apelação.

Assim, foi, portanto, o gol 4000 da história do maior time artilheiro do futebol (hoje com 12 262 gols). O Santos prosseguiu na partida melhor e Álvaro aumentou para 2 a 0 aos cinco minutos do segundo tempo.
Mas o Fluminense não desistiu. Telê Santana, aos 17, e Léo, de cabeça, aos 40 minutos, ainda conseguiram o empate que manteve com uma diferença de quatro pontos de frente e tiraram do Alvinegro a chance de lutar pelo título nas duas rodadas finais.
O Santos ainda golearia o América, no Maracanã, por 4 a 0, mas perderia a última partida, na Vila Belmiro, para o Vasco, por 3 a 2, quando a vitória ao menos lhe daria o vice-campeonato isolado. Ao final, o Fluminense sagrou-se campeão e o Santos, em quarto lugar, ao menos terminou como o melhor entre os cinco paulistas do torneio.
E para o santista que esteve no Pacaembu naquele domingo mágico de outono, e viu Pagão liderar um ataque que penetrava na defesa adversária como faca quente na manteiga, restou ainda a lembrança encantada da obra de arte do bailarino que desenhou o gol 4000 do Santos.

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