Há 71 anos nascia Leão, o improvável professor dos Meninos campeões de 2002

Odir Cunha, do Centro de Memória
Émerson Leão, nascido em Ribeirão Preto em 11 de julho de 1949, foi o melhor goleiro do Brasil por muitos anos e também ganhou títulos importantes como técnico. Sua carreira está repleta de façanhas, mas nenhuma foi mais impressionante do que levar um bando de garotos ao título brasileiro de 2002.
Espantosa porque não foi só uma questão técnica. Tinha muita alma, muita garra naquele time. Um coração enorme pulsava sempre que aquele Santos entrava em campo. Era muita gente determinada a calar a boca do destino. Desacreditados, uma ova! E Leão, o exigente professor, entendeu que com aqueles meninos deveria controlar o seu temperamento irascível e deixar aflorar o lado carinhoso que nunca havia mostrado.
A situação que antecedeu o Brasileiro não foi nova na história do Santos. Em mais um roteiro perfeito para um filme de “perdedores” que no final dão a volta por cima, o clube vivia uma fase terrível. Tinha ficado quase quatro meses sem jogar uma partida oficial depois de eliminado no Torneio Rio-São Paulo.
Sem dinheiro para contratar jogadores de renome, mais uma vez o Alvinegro teria de acreditar em seus garotos da base. Trazer um técnico experiente também seria inviável, a não ser que este aceitasse um salário abaixo do mercado. Demitido da Seleção Brasileira em meados de 2001, Leão foi o escolhido.
Ele tinha se revoltado com os dirigentes da CBF pela maneira como o desligaram da Seleção. Sem contar com jogadores em atividade na Europa e sem os que disputavam as finais de competições no Brasil, teve de improvisar uma equipe que perdeu para França e Austrália na Copa das Confederações de 2001, em Japão/Coréia.
Decepcionado, afastou-se do futebol por mais de um semestre antes de ser convidado pelo Santos. A oferta era de 30 mil reais por mês para dirigir o time no Brasileiro de 2002. O salário era pequeno para um técnico de ponta, mas a meta, pouco ambiciosa, seria apenas impedir o rebaixamento.
Robinho se lembra que um dia, em conversa descontraída com o presidente Marcelo Teixeira, Leão perguntou:
­ – Presidente, o que eu vou fazer com esse cara de canelinha fina e esse outro cabeçudo?
Alguns amistosos provaram que Robinho, o das canelas finas, e Diego tinham um enorme potencial. Em um sábado, 27 de julho, a garotada venceu o Corinthians por 3 a 1, na Vila Belmiro.
Na segunda-feira Leão avisou que toparia o desafio. Decidiu até recusar as contratações do colombiano Rincón; de Guilherme, atacante do Atlético Mineiro, e de Adriano Chuva, do Paraná.
Presente à reunião, o auxiliar técnico Pedro Santilli testemunhou o entusiasmo dos garotos ao saber que vestiriam a camisa do Santos no Campeonato Brasileiro:
– Foi uma das coisas mais emocionantes que vi no futebol. Lembro bem as expressões dos jogadores. O Robinho estava excitado, não acreditava no que ouvia. Era muita vontade junta. Mas a média de idade não chegava a 21 anos, então falei pro Leão que se a equipe fracassasse nós seríamos crucificados. Ele concordou, mas resolveu arriscar mesmo assim.
Põe risco nisso…
Inseguro a princípio, o jovem Santos ganhava na Vila e perdia fora. Depois, passou a jogar tão bem dentro como fora de casa, brigou pela liderança e foi considerado o melhor do campeonato. Mas em seguida perdeu jogos seguidos e por pouco fica fora dos oito classificados para a fase eliminatória. Enfim, não houve perigo de rebaixamento, mas muitos santistas viveram sob o risco constante de um enfarte.
Na fase final, como se sabe, o Santos ganhou cinco dos seis jogos, fez três gols em São Paulo e Grêmio na Vila, derrotou São Paulo e Corinthians no Morumbi, fez uma das finais mais empolgantes de todos os Brasileiros e, com toda a justiça ganhou o seu sétimo e mais emocionante título brasileiro.
Todos os jogadores se superaram. Além de Robinho e Diego, Renato, Elano, Léo, Alex e Paulo Almeida acabariam chamados para a Seleção Brasileira. Maurinho, André Luís, Alberto e Fábio Costa também seriam bem valorizados com o título.
Se fossem mais experientes, com uma carreira já feita e altos salários, provavelmente os jogadores não seguissem tão fielmente as orientações do técnico. Da mesma forma, se Leão estivesse na crista da onda dificilmente teria aceitado o desafio e talvez não tivesse paciência com a garotada.
Campeão brasileiro quatro vezes como goleiro, campeão paulista pelos três grandes da capital paulista; titular da Seleção Brasileira nas Copas de 1974 e 1978 e reserva nas de 1970 e 1986; técnico campeão brasileiro pelo Sport Recife em 1987, Leão já tinha comandado o Santos no título da Conmebol de 1998 antes de 2002.
O futebol e a vida continuaram depois. Em 2003 Leão ainda levou o Santos ao vice-campeonato brasileiro e da Copa Libertadores. Saiu do clube em 2004 e voltou em 2008. Porém, repetir a magia de 2002 seria pedir demais. Hoje só nos resta agradecer ao aniversariante do dia por nos ter proporcionado uma sensação de felicidade que nos acompanhará para sempre. Obrigado professor!

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