Giovanni, Neymar, Robinho e Ganso no mesmo desfile

Odir Cunha, do Centro de Memória
Era domingo de Carnaval, um 14 de fevereiro de 2010; o adversário, um time do Interior; a competição, o centenário Campeonato Paulista ainda na fase de classificação. Mesmo assim, 32.001 pagantes rechearam as arquibancadas do Pacaembu para ver Santos e Rio Claro. Motivo? A reestreia do ídolo Giovanni, que aos 38 anos iniciava sua terceira passagem pelo Alvinegro Praiano.
Para completar as atrações da tarde, outro bom filho que voltava à casa: Robinho, o garoto das oito pedaladas, aquele que colocou a bola embaixo do braço e aos 19 anos decidiu um título brasileiro. O quarteto de astros ainda contava com dois garotos atrevidos que buscavam, e logo conseguiram, lugares privilegiados no mundo do futebol: Neymar e Paulo Henrique Ganso.
Na plateia, santistas anônimos se misturavam a personalidades igualmente apaixonadas pelo mítico Alvinegro Praiano. O intérprete e compositor Zeca Baleiro, acompanhado de mulher e filho, era um deles. O clima era de euforia, mas a bola rolou e o futebol, mais uma vez, mostrou que tem suas próprias regras.
O Santos confiou demais em sua força no primeiro tempo, a ponto de o técnico Dorival Junior reclamar que seus principais jogadores estavam “firulando”. Isso foi percebido pelo técnico do Rio Claro, bastante conhecido, e querido, pelos santistas: Paulinho McLaren, artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1991, que percebeu o buraco nas costas do lateral Pará.
Foi por ali, em uma escapada aos 39 minutos, que Maicon Souza penetrou, driblou Pará e cruzou para Jackson abrir o marcador. Alguma coisa tinha de ser feita para mudar o jogo na segunda etapa. Dorival Junior tirou o defensivo Germano e colocou Giovanni. Também trocou Wesley por Madson. O time logo se aprumou e tomou conta da partida.
A ginga de Neymar envolvia os adversários. Aos 21 minutos, depois de driblar e tabelar, bateu a gol, o goleiro Sidney espalmou e André entrou embaixo das traves para empatar o jogo. Perto do fim, aos 42 minutos, nova arrancada, outro chute, outra espalmada, e dessa vez Giovanni subiu com elegância e tranquilidade para cumprimentar para as redes.  O roteiro, digno de um Oscar, estava concluído.
O desafio fora vencido por um menino de 18 anos e seu mentor, 20 anos mais velho. Tudo no tempo certo. O torcedor saiu do Pacaembu ainda saboreando as imagens do gol de Giovanni e do abraço recebido pelos companheiros. Humilde, ele respondeu que não era nenhum herói, apenas tinha feito o gol, o mérito era de todos. Aquele seria o único gol de Giovanni naquela passagem em que só realizou sete jogos pelo Santos. Mas aquela tarde ficaria guardada para sempre, pois a partir dali o time não perderia mais o compasso e iniciaria o desfile apoteótico que atravessaria aquele Campeonato Paulista, a Copa do Brasil e só terminaria no título da Copa Libertadores de 2011.

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