Para a história não há favoritos

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Estatísticas por Guilherme Guarche
A verdade do futebol só pode ser descoberta depois que todas as camadas superficiais são retiradas. Quem pesquisar a história completa dos confrontos entre Santos e Avaí dirá que o Alvinegro Praiano é favorito. À mesma conclusão chegará aquele que analisar apenas os jogos pelo Campeonato Brasileiro. Porém, o mais detalhista, que isolar unicamente os duelos pelo Brasileiro disputados na Ressacada, saberá que, do ponto de vista histórico, o jogo dessa quarta-feira, às 21 horas, em Florianópolis, se reveste de um equilíbrio absoluto.
Desde a primeira partida entre ambos – um amistoso em 1972 vencido pelo Santos – as equipes já se enfrentaram 15 vezes. O Santos venceu sete, empatou seis e perdeu duas; marcou 27 gols e sofreu 18.
Apenas pelo Brasileiro jogaram 12 vezes, com cinco vitórias, seis empates e duas derrotas santistas; 23 gols a favor e 15 contra. Porém, quando os jogos pelo Brasileiro são disputados na Ressacada, a história tem sido diferente.
Nas cinco partidas disputadas no campo do Avaí, válidas pela maior competição nacional, ocorreram três empates e uma vitória para cada lado. O número de gols também é idêntico: sete para cada time. Isso quer dizer que, qualquer que seja a posição das equipes na tabela, a disputa tende a ser muito equilibrada.
A oito rodadas do fim do campeonato, o Santos ainda sonha, ao menos, com o vice-campeonato. O time poderá alcançar 82 pontos caso vença todas as partidas que lhe restam, provavelmente o bastante para superar o Palmeiras. O caso do Avaí é bem mais dramático.
Na última posição da tabela, com apenas 17 pontos e apenas três vitórias (uma a cada 10 jogos), o time de Santa Catarina teria de vencer todos os seus jogos e ainda depender de outros resultados para permanecer na Série A. É esse adversário desesperado que espera pelos santistas nessa quarta.
Um Menino da Vila construiu a virada
A única vitória santista sobre o Avaí, pelo Brasileiro, no estádio da Ressacada, teve como heróis um artilheiro experiente e um garoto talentoso que despontava para o futebol a partir da sagrada Vila Belmiro.
Na reta final do Brasileiro de 2011, quando se encontraram em Florianópolis, o Avaí tentava fugir do rebaixamento e o Santos de Neymar surfava no meio da tabela, só esperando dezembro chegar para disputar o Mundial de Clubes da Fifa, no Japão.
Era uma quarta-feira à tarde, feriado de 7 de setembro. A Ressacada recebia 5.630 pagantes e o técnico Muricy Ramalho, mesmo poupando titulares, escalou um bom time, com Rafael, Edu Dracena, Bruno Rodrigo, Léo, Adriano (Felipe Anderson), Henrique (Bruno Aguiar), Danilo e Elano (Éder Lima); Neymar, Alan Kardec e Borges.
O Avaí, armado pelo técnico Toninho Cecílio, jogou com Rafael Santos, Arlan. Gustavo Bastos, Dirceu, Róbson (Cleverson), Romano, Bruno Silva, Pedro Ken (Leandro Lima), Batista (Rafael Coelho), Lincoln e Willian (este é o mesmo Willian campeão brasileiro com o Santos em 2002).
O campo pesado, cheio de poças d’água, tornou as divididas mais perigosas e o árbitro Ediney Guerreiro Mascarenhas não economizou nos cartões amarelos, dando cinco para os santistas e quatro para os jogadores do Avaí. Um dos cartões, a Edu Dracena, correspondeu ao pênalti marcado sobre Lincoln, aos 32 minutos da primeira etapa, e convertido pelo ex-santista Willian. Lincoln corria com a bola, pronto para chutar a gol, quando caiu.
– Nem cheguei perto dele. Foi uma vergonha – reclamava Dracena ao final do primeiro tempo.
Na segunda etapa, Muricy tirou o volante Adriano e colocou o jovem meia Felipe Anderson, um Menino da Vila de 18 anos, ainda um tanto irregular, mas muito talentoso e de enorme potencial.
Aos 26 minutos, Neymar tocou para Felipe Anderson, que deu passe preciso para Borges. O centroavante, que se firmaria como o artilheiro do campeonato, penetrou pela meia direita da área, driblou o goleiro Rafael Santos e bateu para o gol vazio, empatando a partida.
Cinco minutos depois, Felipe Anderson recebeu um lançamento pela direita, desvencilhou-se dos dois adversários que o marcavam e acertou um chute potente, de esquerda, no ângulo esquerdo da meta adversária, definindo a partida. Esse golaço era a evidência de que se estava diante de mais um craque brotado na Vila Belmiro (garoto pobre de Brasília quando veio ao Santos, hoje Felipe Anderson é ídolo no West Ham, na Inglaterra, onde recebe um salário equivalente a 3,5 milhões de reais por mês).
Após vencer o Avaí, o Santos prosseguiu, com altos e baixos, até o final do campeonato. Nessa caminhada venceu os times que seriam campeão e vice da competição. Se não estivesse com a cabeça no Mundial, provavelmente lutaria pelo título até o fim. Quanto ao Avaí, acabou mesmo em último lugar, rebaixado para a Série B na companhia de América Mineiro, Ceará e Atlético Paranaense.
Artilheiros santistas do confronto
1 – Borges, três gols.
2 – Neymar e Kléber Pereira, dois gols.
4 – Madson, Ganso, Marcel, Keirrison, Rychely, Felipe Anderson, Robinho, Gabriel, Thiago Maia, Ricardo Oliveira, Nílson, Lucas Limas, Copete, Derlis González, Carlos Sánchez e Felipe Jonatan, um gol.
No primeiro jogo, recorde de público
Santos e Avaí se enfrentaram pela primeira vez em um amistoso jogado em 15 de agosto de 1972, uma terça-feira de feriado estadual em Florianópolis. A presença do Santos de Pelé atraiu ao estádio Adolfo Konder um público recorde de 19.985 pessoas – recorde que se manteve até a demolição do estádio, em 1982, para a construção do Beira Mar Shopping.
Sem jogos pelo Campeonato Paulista no meio da semana, o Santos aceitou o convite para o amistoso em troca de uma bolsa de 70 mil cruzeiros. Para esse confronto, Pepe, que iniciava a carreira de técnico, escalou o time com Cejas, Orlando, Oberdan, Paulo e Zé Carlos; Nenê e Léo Oliveira (Afonsinho); Jader, Alcindo, Pelé e Edu (Ferreira).
O Avaí jogou com Rubens, Gonzaga, Lili, Batista e Oriovaldo; Miltinho e Rogério; Toninho (Balduíno), Lica, Moacir e Ismael. A arbitragem foi de José Carlos Bezerra e a renda alcançou 135 mil cruzeiros.
Aos cinco minutos o centroavante Alcindo recebeu bom passe de Pelé e inaugurou o marcador. Lica empatou aos 24. Na segunda etapa, Alcindo voltou a marcar, em jogada individual, aos 22 minutos, e assim terminou o primeiro duelo entre a Baleia e o Leão da Ilha.

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