Álvaro, muita classe a serviço do Santos

Odir Cunha, do Centro de Memória
Perceba, o leitor e a leitora, como alguns detalhes metafísicos nos lembram, a todo momento, que o destino do Santos foi traçado pelos astros. No dia 22 de agosto, como você deve se lembrar, comemoramos o nascimento de dois goleiros magníficos – Gylmar e Cláudio –, ambos do Santos e da Seleção Brasileira. Agora, neste 24 de setembro celebramos os artilheiros Del Vecchio e Álvaro Valente, nascidos no mesmo dia, companheiros no ataque santista bicampeão estadual em 1955/56 e também jogadores de Seleção.
Álvaro José Rodrigues Valente, três anos mais velho que Del Vecchio, nasceu no Guarujá em 1931, foi revelado pelo Jabaquara e se tornou jogador do Santos em 1953. Esbelto, versátil, de estilo elegante, Álvaro podia jogar tanto na meia como no comando do ataque. Em sua estreia no Santos, aos 21 anos, em amistoso contra o Flamengo, na Vila Belmiro, já mostrou talento e personalidade.
Naquele 3 de março de 1953, uma terça-feira, marcou três gols na vitória santista por 4 a 3 e conquistou a posição. Só deixaria de atuar como centroavante e se fixaria na meia a partir de outubro de 1953, quando a camisa nove passaria para seu identipartário Del Vecchio.
Ele e Del Vecchio estiveram presentes em dois jogos históricos do Alvinegro Praiano: no empate de 1 a 1 contra o Gymnasia y Esgrima de La Plata, Argentina, em 21 de março de 1954, na primeira partida do Alvinegro Praiano no exterior, e em 15 de janeiro de 1956, na vitória de 2 a 1 sobre o Taubaté, na Vila Belmiro, que deu ao time o título paulista de 1955. Del Vecchio fez o gol no Gymnasia, o primeiro do Santos em terras estrangeiras, e Álvaro abriu o marcador contra o Taubaté.
Um dos titulares no amistoso contra o Corinthians de Santo André, em 7 de setembro de 1956, jogo que marcou a estreia de Pelé entre os profissionais, Álvaro marcou um dos gols na goleada de 7 a 1. No segundo tempo deu lugar a Raimundinho, jogador da base também considerado de grande futuro (mas Raimundinho não se firmou no Santos e acabou indo para o São Bento de Sorocaba).
Em 1959, depois de três títulos paulistas, de ter participado da primeira excursão santista à Europa e após ter jogado nove partidas oficiais pela Seleção Brasileira, quatro delas em campos europeus, Álvaro foi contratado pelo Atlético de Madrid, e levou com ele seu irmão, Ramiro, também jogador do Santos. Ao retornar da Espanha, 11 anos depois, fez mais uma partida pelo Santos, no Torneio Rio-São Paulo.
Em 289 partidas com a predestinada camisa alvinegra, Álvaro marcou 107 gols, dois a mais que Del Vecchio. Pela Seleção Brasileira fez nove jogos oficiais, um não oficial, e três gols.
Ao contrário do irritadiço Del Vecchio, Álvaro era um sujeito tranquilo, de hábitos simples. Após o futebol, voltou para a sua Guarujá e trabalhava como zelador de edifício quando passou a ter crises de diabetes, teve a perna amputada e acabou falecendo em 21 de setembro de 1991, três dias antes de completar 60 anos. Hoje seu nome batiza uma rua do Guarujá. Como se sabe, Del Vecchio morreu quase com a mesma idade, aos 61 anos.
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