Há 58 anos a estreia do Santos na Libertadores teve de tudo

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Estrear na Copa Libertadores, como o Santos fará nesta terça-feira, às 19h15, contra o ascendente Defensa y Justicia, na província de Buenos Aires, causa apreensão a qualquer equipe, ainda mais quando o jogo é no campo adversário.
A história mostra que por mais que as forças não pareçam equilibradas, as circunstâncias igualam as equipes e a luta pela vitória ganha tons dramáticos. Esta lição o Santos aprendeu desde a sua primeira participação na Libertadores, em 1962.
Campeão brasileiro de 1961, ao vencer o Bahia na final da Taça Brasil, o Alvinegro Praiano se credenciou para disputar sua primeira Libertadores no ano seguinte – época em que a competição também era chamada de Torneio dos Campeões da América, pois só o campeão de cada país podia participar.
Mesmo com fama de ser um dos melhores times do mundo, lá foi o Santos para a traiçoeira altitude de La Paz, a fim de iniciar sua participação na Libertadores de 1962 diante do Deportivo Municipal, o campeão boliviano. Cerca de 40 mil pessoas lotaram o estádio Hernandes Siles Suaso naquela segunda-feira, 18 de fevereiro, para ver o grande jogo.
Pelo regulamento, os árbitros de cada partida deveriam ser do país do time visitante. Assim, o potiguar Olten Ayres de Abreu (Mossoró, 27/09/1928 – São Paulo, 24/12/2015) foi escalado para a estreia do Santos. Anos depois, Olten lembraria os detalhes daquela jornada que se revelaria heroica:
“O Santos entrou em campo debaixo de aplausos. Estenderam um tapete para o Pelé e lhe entregaram flores. Parecia que seria um jogo tranquilo. Mas a partida foi truncada e muito disputada. O primeiro tempo terminou 1 a 1. No segundo, saíram muitos gols e os bolivianos chegaram a estar ganhando por 3 a 2 até 30 minutos do segundo tempo. O Santos virou para 4 a 3. Quando terminei o jogo, fui agredido e reagi. O Pelé e eu acabamos saindo do estádio no camburão da polícia. Queriam nos matar”.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, os bolivianos reclamaram que o árbitro encerrou a partida antes do tempo. Ainda em campo o atlético Olten foi agredido por um jogador do Deportivo e não levou o desaforo para casa. Os músicos da banda também foram para cima do árbitro brasileiro e tudo virou uma grande confusão. Na verdade, as muitas reviravoltas no placar tinham deixado os nervos à flor da pele.
No primeiro tempo, Aguillera abriu o marcador aos 16 minutos, e Lima empatou aos 41. Na segunda etapa, Mengálvio desempatou aos 11 minutos, cobrando falta. Mas Torres empatou aos 13 e Ruiz fez 3 a 2 para o campeão boliviano aos 17. O Santos só foi empatar aos 32 minutos, com Pagão. Dois minutos depois, Tite fechou a última virada e garantiu a dramática vitória santista por espetaculares 4 a 3.
Os heróis santistas daquela jornada, além do técnico Lula, foram Laércio, Getúlio, Olavo e Zé Carlos; Lima e Calvet; Dorval (Tite), Mengálvio, Pagão, Pelé e Oswaldo.
No jogo de volta, o Santos goleou o Deportivo Municipal, na Vila Belmiro, por 6 a 1, com dois gols de Pagão, dois de Dorval, um de Pepe e um de Coutinho. Aquela Libertadores, como se sabe, terminaria com o primeiro título de um time brasileiro na competição.

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