Uma Fênix pronta para bater asas

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Ao se mergulhar na prodigiosa história santista percebe-se que, mais até do que outros respeitáveis animais marinhos, como o Peixe, a Baleia ou a Orca, é a Fênix, essa ave mitológica que renasce das cinzas, a que melhor simboliza os inesperados momentos de glória absoluta que volta e meia abençoam o Alvinegro Praiano, como ocorreu no Campeonato Brasileiro de 2002.
No primeiro semestre daquele ano, desclassificado da Copa do Brasil e do Torneio Rio-São Paulo, o Alvinegro Praiano ausentou-se por quatro meses de competições oficiais, até o início do Brasileiro. Sem time e sem dinheiro, o jeito foi acreditar em um bando de garotos comandados por Émerson Leão, um técnico com fama de rabugento.
Inesperadamente, aquela equipe fez grandes jogos naquele Brasileiro, mas caiu muito na reta final, só conseguindo um lugar entre os oito finalistas por esses acasos que apenas os deuses do futebol explicam.
Veio o confiante São Paulo, líder absoluto em todos os quesitos, e os Meninos seguiram em frente. Veio o Grêmio, desfilando aquela altivez tradicional gaúcha, mas os garotos continuaram firmes… Aí chegou a grande final. Uma mudança: o Santos não poderia fazer o seu primeiro jogo na Vila Belmiro, onde estava jogando por rock in roll, e teria de enfrentar o alvinegro da capital em dois jogos no Morumbi, que, naquela época, era a casa do rival.
Setenta mil lugares, 35 mil para cada torcida, e os santistas se espremeram em sua metade. Sim, porque o incomensurável contingente de torcedores do Alvinegro Praiano só se manifesta quando quer e quando pressente que a Fênix está pronta para bater as asas.
Alberto e Renato, com passes de Diego e Robinho, construíram uma vitória de sonho no primeiro jogo. Mas ainda havia o segundo, a hora da verdade, no domingo seguinte. De novo estádio lotado e dessa vez, percebia-se, os santistas, ansiosos por uma espera de décadas, eram a maioria.
Robinho deu as oito pedaladas do destino e abriu a contagem no primeiro tempo. Mas o adversário era brioso e mesmo contando apenas com chuveirinhos, virou para 2 a 1. Nesse momento, santistas de pouca fé se esconderam pelos cantos. Um ano antes o mesmo rival tinha marcado um gol decisivo já nos acréscimos.
Marcasse mais um naquele domingo de sonho e desespero e a taça se desmancharia entre nossos dedos.
Mas, nesse momento, lá pelos 40 do segundo tempo, alguns juram que viram uma ave imensa, maior do que a maior das águias, com penas de um dourado brilhante, abrir suas enormes asas, mansamente, sobre o campo de jogo. Foi nesse momento que Robinho roubou a bola, driblou pela direita e serviu Elano para empatar aos 43 minutos, erguer a camisa e revelar a imagem de Nossa Senhora Aparecida na camisa de baixo.
Dois minutos depois, Robinho entortou Cléber e Vampeta pela esquerda e Léo marcou o gol no exato último lance do jogo, retribuindo com sublime e infinita folga a decepção do ano anterior.
Assim, naquele 15 de dezembro de 2002 o desacreditado Santos se tornou campeão brasileiro pela oitava vez. Depois, a Fênix foi vista em 2010, 2011 e agora anda por aí, pronta para bater as asas a qualquer momento. E o detalhe é que o caminho até os céus do Pacaembu ela sabe de cor…
Estatísticas do Clássico Alvinegro
Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória
No século XXI o Clássico Alvinegro foi realizado 66 vezes, com 27 vitórias do Santos, 21 do rival e 18 empates. O Alvinegro Praiano marcou 90 gols e sofreu 83.
Somente pelo Campeonato Paulista, em que já se defrontaram 201 vezes,  beste século foram 25 partidas, com nove vitórias santistas, oito derrotas e oito empates; 30 gols santistas e 29 do alvinegro de Itaquera.
Artilheiros santistas do confronto no Século XXI
1 – Ricardo Oliveira, 6 gols.
2 – Elano, 5 gols.
3 – Robinho, Renato, Neymar, André e Gabriel Barbosa, 4 gols.

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