O Santos na Revolução de 1932

Da equipe do Centro de Memória
O Brasil já viveu momentos terríveis. A Revolução Constitucionalista de 1932, que colocou o Estado de São Paulo contra o governo centralizador do presidente Getúlio Vargas, foi um dos momentos trágicos da história brasileira, que provocou a morte de 934 pessoas. O Santos não ficou indiferente ao conflito e seus jogadores Athié Jorge Cury (foto) e Virgílio Pinto de Oliveira, o Bilu, participaram ativamente da luta ao lado das tropas paulistas.
O movimento contra a ditadura de Vargas mobilizou São Paulo. Durante o confronto, cerca de três mil atletas, de diversas modalidades esportivas, principalmente jogadores de futebol, decidiram criar um grupo que ganhou o nome de “Batalhão Esportivo”. Athié e Bilu se engajaram nele.
Goleiro titular do Santos e da Seleção Paulista, em 1930 Athié havia defendido Vargas para derrubar as oligarquias que dominavam a política brasileira, mas dois anos depois pegou em armas pelo Estado de São Paulo contra o mesmo presidente.
Na chamada “guerra paulista”, que durou de 9 de julho a 12 de outubro de 1932, Athié participou como segundo-tenente comissionado, lutando no Interior do Estado de São Paulo e também doando dinheiro para a causa, pois sua família tinha posses e ele, além de atleta, era um bem-sucedido corretor de café em Santos.
Com o fim do Estado Novo e a redemocratização do país, em 1945, Athié foi eleito presidente do Santos, clube pelo qual jogou 173 partidas no período de 1927 a 1934. Também se filiou ao Partido Socialista Paulista, iniciando uma longa carreira política baseada em defender a população mais simples, geralmente esquecida pelos governantes.
O segundo jogador-soldado constitucionalista foi o zagueiro Virgílio Pinto de Oliveira, o Bilu, o “Rei do carrinho”, companheiro de Athié no plantel conhecido como o “o time do ataque dos 100 gols”. O aguerrido Bilu lutou com muito empenho e dedicação, mostrando nos campos de guerra a mesma garra que tinha com a camisa santista.
Ao abandonar o futebol, Bilu se tornou treinador do Santos e em 1935 comandou o time na conquista do seu primeiro título de campeão paulista.
Além de Athié e Bilu, um terceiro jogador, bastante famoso, que chegou a atuar pelo Santos em algumas partidas, engrossou as fileiras paulistas na guerra. O meia Arthur Friedenreich se destacou como segundo-tenente, liderando as tropas na linha de frente e participando ativamente de programas de rádio em que conclamava a população a doar bens pessoais e dinheiro para o movimento revolucionário.
Fried, considerado o “rei do futebol amador” no Brasil, jogou pelo Alvinegro Praiano em cinco partidas amistosas: uma em 1930 e quatro na excursão do Santos pelo Rio Grande do Sul, em 1935.
Os paulistas perderam a guerra de 1932 para as tropas do governo federal, formadas por soldados de vários Estados, mas a luta pela Constituição saiu fortalecida, e em 1933 as eleições foram realizadas em São Paulo, elegendo o civil Armando Sales como governador dos paulistas. E em 1934 foi reunida a Assembleia Constituinte que faria a nova Carta Magna do País.
Em 1932 o Santos se posicionou favorável aos revolucionários paulistas, doando suas medalhas e troféus e incentivando os jogadores a fazer o mesmo. O objetivo era que esses prêmios fossem derretidos e transformados em munição. Depois da guerra, uma parte dos troféus acabou retornando ao clube.

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