O Clássico dos Clássicos!

Por Odir Cunha
Quando se encontram, nesse duelo que tem 102 anos, Santos e Palmeiras – duas equipes que já foram chamadas de “academias” do futebol – costumam produzir espetáculos de boa técnica, muitas alternativas e quase nenhuma indisciplina, o que fez os historiadores dos dois times rebatizarem esse tradicional confronto do futebol brasileiro como o “Clássico dos Clássicos”.
Os palmeirenses alegam que a única equipe que conseguia rivalizar com o Santos de Pelé era o alviverde, já que algumas vezes interrompeu o rosário de triunfos do Alvinegro Praiano. Realmente. Se não fossem as conquistas do Palmeiras em 1959, 1963 e 1966, o Santos teria feito uma sequência de 11 títulos paulistas consecutivos!
As equipes já decidiram muitas competições, a começar pelo Campeonato Paulista de 1927, cuja partida final foi realizada em 4 de março de 1928, na Vila Belmiro. Mesmo jogando pelo empate, porém, o Santos foi derrotado pelo Palestra Itália, antigo nome do Palmeiras, por 3 a 2, diante de 15 mil pessoas. Os irmãos Siriri e Camarão marcaram para o Santos, que foi desavergonhadamente prejudicado pela arbitragem de Anthero Mollinaro, árbitro ligado às hostes palestrinas..
Em 1959 o Santos liderava o Campeonato Paulista com folga, mas permitiu a recuperação do Palmeiras na reta final. Uma super decisão, no Pacaembu, apontou o campeão daquele ano. Após empates de 1 a 1 e 2 a 2, o Palmeiras venceu a terceira partida por 2 a 1, em 10 de janeiro de 1960. No mesmo ano, mesmo não sendo uma final, o Santos garantiu o título estadual ao derrotar o Palmeiras, na Vila Belmiro, por 2 a 1, em 16 de dezembro de 1960.
Em 2015 ocorreram duas finais entre ambos, ambas decididas em disputas de pênaltis. O Santos venceu o Campeonato Paulista e o Palmeiras ficou com a Copa do Brasil. Nas duas oportunidades o campeão venceu por 1 a 0 em casa e perdeu por 2 a 1 no campo do adversário.
Mesmo não sendo finais, dois jogos ficaram para a história do confronto: os 7 a 6 impostos pelo Santos, em 6 de março de 1958, pelo Torneio Rio-São Paulo, no Pacaembu, para muitos o jogo mais emocionante já disputado no Brasil, e os 3 a 2, de virada, em 4 de junho de 2000, quando Eduardo Marques, Anderson e Dodô marcaram no segundo tempo e deram ao Santos a vitória que o classificou para a final do Campeonato Paulista.
O maior dos jogos
Por Guilherme Gomez Guarche
No final da primeira etapa o Alvinegro Praiano foi para os vestiários goleando o Alviverde por 5 a 2 e ninguém em sã consciência poderia acreditar que na etapa final o Peixe não desceria a serra com a vitória merecida.
No entanto, o time palestrino começou o segundo tempo a todo vapor e, surpreendentemente, marcou mais quatro gols e aos 35 minutos virou o placar, passando a vencer por 6 a 5.
Porém, o ponta-esquerda Pepe empatou o jogo aos 37 minutos e quando ninguém mais imaginava que o resultado pudesse ser alterado, o querido “Canhão da Vila” marcou novamente aos 41 minutos, fechando com chave de ouro a vitória do Peixe. No dia seguinte, a imprensa comentava que ocorreram quatro mortes devido às fortes emoções provocadas pelas dramáticas alternativas da partida.
Com arbitragem de João Etzel Filho e público de 43.068 pessoas, o Santos se apresentou com Manga, Hélvio (depois Urubatão) e Dalmo; Fioti, Ramiro e Zito; Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão (Afonsinho), Pelé e Pepe. Técnico: Luiz Alonso Perez, o Lula.
O Palmeiras, orientado pelo técnico Oswaldo Brandão, jogou com Edgard (depois Vitor), Waldemar Carabina e Édson; Formiga (Maurinho), Valdemar de Fiúme e Dema; Paulinho, Nardo (Caraballo), Mazzola, Ivan e Urias.
Pepe foi o artilheiro do jogo, com três gols, Pagão marcou dois, Pelé e Dorval completaram o marcador para os santistas. Pelo Palmeiras Mazzola e Urias marcaram duas vezes, Nardo e Paulinho, uma.
“Para mim, foi o jogo mais emocionante que o futebol brasileiro apresentou”, definiu Pepe.
Em pensar que ao final do primeiro tempo parecia que o Palmeiras sofreria uma goleada humilhante, a ponto de o goleiro Edgard se recusar a voltar para o campo, como contou depois o centroavante Mazzola:
“Quando chegamos ao vestiário, o nosso goleiro, Edgard começou a chorar e não queria mais entrar em campo. Então o nosso técnico, Brandão, tirou ele e colocou o goleiro reserva Vitor”, disse Mazzola.
Que delícias de goleadas!
Hoje um confronto tão equilibrado, o Clássico dos Clássicos começou com duas goleadas acachapantes aplicadas pelos santistas. No primeiro jogo dessa longa história, em 3 de outubro de 1915, o Santos, que estreava no Campo do Velódromo, em São Paulo, venceu por 7 a 0, com três gols de Ary Patusca, filho de Sizino e irmão de Araken. A partida, amistosa, valeu pelo Festival Pró-Pátria, evento da Cruz Vermelha da Itália.
Nesse jogo histórico o Santos atuou com Ciro Werneck, Américo e Urbano Caldeira; Pereira, Oscar e Ricardo; Aranha, Ary Patusca, Anacleto Ferramenta, Marba e Arnaldo Silveira. O Palestra, formado apenas por italianos e descendentes, jogou com Stillitano; Felice e Fulvio; Police, Fragassi e Imparato; Pastore, Américo Fiaschi, Amílcar, Ferré e Ítalo.
Menos de cinco meses depois, em 19 de março de 1916, os times voltaram a se defrontar, no campo da avenida Conselheiro Nébias, em Santos, e o Alvinegro Praiano goleou novamente, dessa vez por 5 a 0, com mais três gols de Ary. Essas derrotas impediram o Palestra Itália de ser convidado para participar do Campeonato Paulista.
O jogo mais importante
O clássico de 8 de dezembro de 1968, no Morumbi, era praticamente a final do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, também conhecido como Campeonato Brasileiro daquele ano. Santos e Palmeiras fizeram a segunda partida do quadrangular decisivo, depois de vencerem seus jogos iniciais. Mais uma vitória e estariam com a mão na taça.
O Palmeiras tinha jogadores notáveis, como Ademir da Guia, Dudu, Artime, Tupãzinho, dirigidos pelo argentino Filpo Nuñes. Mas o Santos, treinado por Antoninho, contava com um dos melhores times do mundo, base da Seleção Brasileira que seria campeã na Copa de 1970, com Cláudio, Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Marçal e Rildo; Clodoaldo e Lima; Edu, Toninho, Pelé e Abel (depois Manoel Maria).
Abel marcou aos 14 minutos, sem ângulo; Edu pegou o rebote de uma falta cobrada por ele mesmo e aumentou para 2 a 0 aos 35 minutos do segundo tempo, e Toninho fez 3 a 0 aos 43 minutos. A vitória deixou o Santos na situação de jogar pelo empate com o Vasco, no Maracanã, para ser o campeão brasileiro, mas o Alvinegro venceu por 2 a 1 e sacramentou o seu sexto título brasileiro em oito anos!
Retrospecto positivo
Segundo Guilherme Gomez Guarche e Gabriel Santana, do Centro de Memória do Santos, Santos e Palmeiras fizeram 69 partidas pelo Campeonato Brasileiro, com 27 vitórias santistas, 24 empates e 18 vitórias palmeirenses, 95 gols santistas e 82 palmeirenses.
A vantagem do Alvinegro Praiano continua se foram analisados apenas os jogos pelo Brasileiro jogados no Pacaembu. No estádio da capital o Santos venceu 11 vezes, empatou sete e perdeu apenas cinco, marcando 34 gols e sofrendo 22.
No geral, o Clássico dos Clássicos já foi realizado 322 vezes, com 104 vitórias do Santos, 83 empates e 135 derrotas. O Santos marcou 466 gols e sofreu 549.
Maiores artilheiros santistas no confronto
1 – Pelé, 32 gols.
2 – Pepe, 16 gols.
3 – Coutinho, 13 gols.
4 – Edu, 11 gols.
5 – Toninho, 10 gols.
6 – Araken Patusca, Ary Patusca, Del Vecchio, Dorval, Gradim, Pagão e Serginho Chulapa, 8 gols.

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