Joel Camargo, uma elegante fera na zaga

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Estatísticas de Gabriel Santana
Nascido em Santos, em 18 de setembro de 1946, o quarto-zagueiro Joel Camargo tinha apenas 22 anos quando enfrentou o Paraguai na partida que classificou a Seleção Brasileira para a Copa de 70.
O recorde brasileiro oficial de 183.341 pagantes lotou o Maracanã para ver o jogo que teve seis santistas como titulares, repetindo o que tinha ocorrido nos cinco jogos anteriores das Eliminatórias. O técnico João Saldanha se referia a Joel como “o melhor zagueiro do mundo” e todas as portas pareciam se abrir para o defensor alto e forte que tinha a habilidade de um meia, mas também sabia ser duro quando preciso.
Ao sair com a bola da defesa abria os cotovelos que se tornavam alças a lhe dar mais equilíbrio, daí o apelido de “Açucareiro”. O corpo atlético, de 1,83m, se destacava entre os demais. Essa elegância nata impressionou Arnaldo de Oliveira, sócio da Portuguesa Santista, que viu o garoto, então com 15 anos, jogar pelo XV de Novembro, time do Marapé, bairro onde a família Camargo morava na rua Antônio Bento de Amorim.
Assim, “Besouro”, como Joel era chamado, abandonou o emprego e passou a receber um pequeno salário para defender a Briosa. Bem preparado pelo treinador Joaquim Feliz, o rapaz logo se destacou e em setembro de 1963, ainda com 16 anos, já estava no Santos, disputando posição com os cobras Calvet e Haroldo.
Aos poucos se tornou assíduo frequentador da equipe titular. O Alvinegro Praiano atingiu, então, um equilíbrio invulgar entre o ataque e a defesa. Pela primeira vez seu sistema defensivo era tão ou mais elogiado do que o ataque. Não por acaso os santistas Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel Camargo e Rildo foram titulares em todos os jogos daquelas Eliminatórias. Mas não se pode dizer que Joel fosse um sujeito de sorte…
Justo na sua posição o Santos contava com o excepcional argentino Ramos Delgado, o preferido do técnico Antoninho, e muitas vezes Joel sofreu o desconforto de ser titular na Seleção Brasileira e reserva no Santos. Outro imprevisto ocorreu quando João Saldanha foi substituído por Mario Jorge Zagallo e o novo técnico da Seleção preferiu recuar Wilson Piazza do meio para a quarta-zaga e sacar Joel.
A amargura de não jogar a fase final da Copa, no vigor de seus 23 anos, machucou Joel profundamente. Mas não reclamou, pois pressentiu que a comissão técnica só queria um pretexto para cortá-lo. Assistiu ao Brasil ser campeão e, no final, ao menos ganhou o mesmo prêmio em dinheiro dos titulares, que usou para comprar um reluzente Opala vermelho.
No retorno a Santos, voltando de uma festa, bateu seu Opala em um poste e sofreu contusões que o afastaram do futebol por seis meses. Não se firmou mais no Alvinegro, pelo qual tinha sido 12 vezes campeão.
Ainda em 1970 se tornou o primeiro brasileiro a jogar no PSG, da França. Mas o time não era nem sombra da equipe milionária de hoje. Joel não teve paciência com os companheiros, ruins de bola, e seu mau gênio fez com que só fizesse duas partidas pelo clube francês.
De volta ao Brasil, atuou pelo CRB, de Alagoas, e o Saad, de São Caetano do Sul. Mas seu futebol não era o mesmo. Acabou indo trabalhar na estiva do Porto de Santos, onde se aposentou. Depois deu alas de futebol em escolinhas de Santos e em São Paulo.
Os efeitos do diabetes se tornaram mais severos no final de 2013 e teve de amputar um dedo do pé. Em 23 de maio de 2014, aos 68 anos, na sua cidade de Santos, morreu o zagueiro de futebol bonito e sóbrio que ajudou a levar o Brasil para a conquista da Jules Rimet. Joel Camargo fez 304 jogos e marcou cinco gols com a camisa do Santos, além de jogar outras 36 partidas pela Seleção Brasileira.

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