Há 64 anos Pelé estreava no Santos

Gabriel Pierin, do Centro de Memória
Na tarde de 7 de setembro de 1822, o Príncipe Regente Dom Pedro I, primeiro Imperador do Brasil, declarou o País independente. Nesse mesmo dia, no ano de 1956, o menino Pelé, futuro Rei do Futebol, estreava pelo Santos e marcava o primeiro gol do seu reinado.
O garoto veloz, habilidoso e atrevido tinha chegado de Bauru há um mês e meio, mas, apesar de impressionar nos treinos, ainda não estreara no time principal. Provavelmente o técnico Lula ainda o considerasse franzino, nos seus 16 anos incompletos. Finalmente, no amistoso de 7 de setembro de 1956, uma sexta-feira, contra o Corinthians de Santo André, surgiu a oportunidade tão esperada.
O Santos era o campeão paulista e figurava na ponta da tabela do Torneio de Classificação para a fase final do Campeonato Paulista de 1956. Apesar disso, as últimas exibições deixaram a desejar e a equipe vinha de três resultados ruins: dois empates de 2 a 2, na Vila Belmiro, contra XV de Jaú e Nacional, e derrota para o Flamengo, no Maracanã, por 2 a 1, no confronto entre os campeões paulista e carioca do ano anterior. O amistoso tinha sido marcado em boa hora para melhorar o ânimo do time.
O jogo foi oferecido pela Prefeitura de Santo André e a disputa valeu o alusivo Troféu Independência, por ocasião da data comemorativa. Disputado no Estádio Américo Guazzelli, o Santos, recebido com honras, foi escalado pelo técnico Lula com Manga, Hélvio e Ivan (depois Cássio); Ramiro (Fioti), Urubatão e Zito (Feijó); Alfredinho (Dorval), Álvaro (Raimundinho), Del Vecchio (Pelé), Jair Rosa Pinto e Tite.
O Corinthians local jogou com Antoninho (depois Zaluar), Bugre e Chicão (Itamar); Mendes, Zico e Chanca; Vilmar, Cica, Teleco (Baiano), Rubens e Dore. Arbitrou a partida Emilio Ramos.
O Santos dominou toda a partida, mas só marcou seu primeiro gol aos 33 minutos, por meio do ponta-direita Alfredinho. Dois minutos depois, Del Vecchio ampliou para 2 a 0. Antes de terminar o primeiro tempo, Álvaro, aos 36, e Alfredinho, aos 44 minutos elevaram o marcador para 4 a 0.
Del Vecchio voltou a marcar aos 16 minutos da segunda etapa e foi então que Lula resolveu descansar o artilheiro do Campeonato Paulista de 1955 e fazer entrar o garoto que os mais velhos apelidaram “Gasolina”, pela rapidez com que corria atrás da bola nos jogos entre titulares e reservas.
O estreante se colocava sempre como uma boa opção para o passe. E o gol veio aos 37 minutos, quando o ponta-esquerda Tite alcançou a linha de fundo e cruzou para trás. O garoto dominou e bateu para fazer o primeiro dos seus 1282 gols na carreira.
O goleiro Zaluar, que também entrara no segundo tempo, se orgulharia de ter sido o primeiro a levar um gol do Rei do Futebol. Seu cartão de visitas passaria a ter a inscrição: Zaluar – Gol Rei Pelé – 001.
Aos 39 minutos, Vilmar marcou o único gol dos locais e, aos 44, Jair Rosa Pinto definiu o resultado de 7 a 1 para o Santos, iniciando uma série de 13 jogos invictos da equipe que se tornaria bicampeã estadual ao vencer o jogo-desempate com o São Paulo por 4 a 2, em 3 de janeiro de 1957.
O jogo em Santo André marcou seus personagens e histórias. A cidade do apóstolo recebeu o time de Todos os Santos. Da nação independente ao país do futebol, do príncipe regente ao Rei, uma identidade e um destino.
Um Rei ainda anônimo
Pelé ainda era pouco mais de um desconhecido quando estreou no Santos, há 64 anos. Prova disso é que na escalação do time os jornais grafaram seu nome como “Telé”. O Estado de São Paulo fez o seguinte registro sobre o jogo:
Santo André, 7 (ASP) – Surgiu, hoje, nesta cidade, a esperada reabilitação do Santos F.C., que, apesar de figurar na ponta da tabela do Torneio de Classificação da F.P.F., vinha, ultimamente, apresentando fracas exibições. Coube ao Corinthians, local, proporcionar essa reabilitação, uma vez que foi batido por 7 a 1, no jogo que ambos travaram hoje à tarde. O resultado por si só diz o que foi o espetáculo.
A fama não veio imediatamente. Reserva de um meia-esquerda excepcional, como Vasconcelos, Pelé certamente teria sido emprestado para outros clubes, a fim de ganhar experiência, caso uma fratura de fêmur, em dezembro, não afastasse Vasconcelos dos gramados por um longo tempo. Mesmo assim, o futuro Rei do Futebol só se firmaria no ataque santista no início de 1957, durante uma excursão ao Sul do País.

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